Berciana de Carracedelo, Sara Rodríguez aproveitou seu trabalho de fim de grau em Traduçom e Interpretaçom, na Universidade de Vigo, para dar a lume o “Dicionario do galego do Bierzo” (UdV, 2023), umha obra que está a concitar grande atençom na comunidade galegófona aquém e além dos Ancares. Com ela conversamos em Vila Franca sobre o seu interesse polo idioma e as possibilidades de preservá-lo numhas condiçons de especial vulnerabilidade.
Qual é a vivência idiomática dumha pessoa da tua idade no Bierzo? Que relaçom existe com o galego?
A influência do território da comunidade autónoma é mui grande, por umha parte, a fronteira é porosa e as e os bercianos olhamos muito para a Galiza; mas por outra parte, isto combina-se com certa ignoráncia. Eu, desde cativa, recordo escuitar galego no meu contorno, sem saber que isto era realmente o galego; de facto fala-se por vezes do ‘dialeto berciano’, mesmo em estudos, e demorei um tempo em saber que isto era a língua galega. Eu escuitei a minha avô toda a vida falar galego na variante berciana, com termos próprios da nossa comarca, mas mui vinculado com o bloco oriental do idioma. Eu escuitava falar galego as pessoas mais velhas, meus pais já nom o falavam, eu crie-me em castelhano; mas recordo certos termos que utilizava a minha mae, que eu dizia logo na escola, ou no instituto, e muitas pessoas nom as entendiam…chega um momento em que um começa a medrar, e a dizer-se “se cadra isto nom é castelhano, é outra cousa.”
Como nasce em ti um interesse ativo pola língua?
No ensino médio bastante gente estudou galego, por volta de 25 pessoas, e apenas 5 colhiam em castelám. Tínhamos a opçom de estudar ciências sociais em galego, havia em geral simpatia; logo, cada quem na casa vivia umha situaçom distinta, mas dava-se o caso de avôs que falavam galego, e havia um gosto por dar continuidade a isto.
Quando te decides a realizar um dicionário?
Em novembro de 2021, um pouco por acaso, assistim em Vigo a umha palestra de Carlos Varela Aenlle sobre o galego de Astúrias; era na etapa em que eu via já o final do grau e tinha que decidir-me a umha investigaçom para concluir; pensei se nom poderíamos fazer algo assi no Bierzo. Eu, ao estar estudando traduçom, era consciente de que as linhas de pesquisa nom iam por aí, mas pugem-me em contato com professorado, e finalmente tivem como titor a Alberto Álvarez Lugrís, que tinha umha linha investigadora sobre o galego. Logo, como co-titor tivem a Henrique Costas, um especialista no galego exterior, que me ajudou muitíssimo, porque tem uns conhecimentos brutais.
Desde cativa, recordo escuitar galego no meu contorno, sem saber que isto era realmente o galego; de facto fala-se por vezes do ‘dialeto berciano’, mesmo em estudos, e demorei um tempo em saber que isto era a língua galega.
Que podemos encontrar na obra?
Nom há nele demasiado estudo teórico, esse centrei-no no TFG, porque pretendíamos que o dicionário como tal fosse mais divulgativo. O leitor ou leitora atopará aqui todas as singularidades do nosso galego, peculiaridades fonéticas, e também o vocabulário específico, mui visível no caso das ferramentas de lavrança.
Qual foi o processo de elaboraçom da obra?
Certamente foi dificultoso. Ao princípio nom sabia onde me metia, porque eu nom estudara umha Filologia Galega para conhecer traços específicos, o certo é que o meu conhecimento do idioma nom era profundo, eu apenas estudara galego durante dous anos na ESO…cousas familiares no sistema educativo da CAG, nom o eram para mim, que por exemplo nom estudara os blocos dialetais, e estas eram cousas que tivem que aprender por mim mesmo. Tivem que empapar-me de teoria, e conhecer a produçom específica sobre o galego do Bierzo, que certamente nom é muita, e obviamente, por ser publicada nom quer dizer que toda ela esteja bem, cumpre sermos seletivos e ver o que serve e o que nom. Outra dificuldade foi que, como estamos numha comarca de transiçom, houvo que peneirar, dado que no Bierzo também se fala astur-leonês, entom tínhamos que deslindar qual era vocabulário galego e qual nom. Finalmente, tenho que destacar que o trabalho de campo foi central, aproveitando as informaçons das pessoas de maior idade do meu entorno cercano. Ao estar em Vigo, isto nom foi tam exaustivo como eu gostaria, entom tivem que apoiar-me em atlas e dicionários…
Qual está a ser a acolhida da obra?
Mui boa, surprendeu-me muito. Esperava acolhida berciana, mas nom esperava tanto da Galiza, nom apenas da gente, também dos meios…foi mui bonito que valorassem este pequeno trabalho, e percebim um grande carinho polo Bierzo.
Pensas em continuar com o teu trabalho de recolha?
Penso, é a minha ideia. Nas Jornadas Martín Sarmiento de 2022 aprovamos umha iniciativa que se chama “O mego das palabras”, na que o objectivo é recolher mais mil palavras para o ano seguinte; há que ampliar o trabalho que eu fixem, que é incompleto, e para levá-lo a cabo apoiamo-nos em redes sociais e numha web que coordina Paco Macías. Esta é umha tarefa coletiva, e isto quero salientá-lo.
Falando em termos mais gerais, como julgas a situaçom do galego no Bierzo?
Falta conscienciaçom, estamos numha situaçom onde ainda predomina o desconhecimento; muita gente escuita galego, ou vocabulário galego, sem saber que se trata deste idioma. Tampouco há consciência de que este património pode morrer aginha com a gente mais velha. Entom há iniciativas que se dirigem a contrapesar isto, eis o sentido de atividades que temos feito aqui, como as Jornadas Martín Sarmiento, em 2022, ou as iniciativas nas escolas, para que desde pequeninhos sejam conscientes do valor que temos aqui. Nom todo é desinteresse, cumpre dizê-lo, se imos aos institutos, vemos gente apontada a matérias optativas em galego, e isso significa algo.
Esta valoraçom positiva do galego é emocional, ou pode ter que ver com a noçom de utilidade, de expetativas laborais?
Existem ambas cousas. Lembro que a mim a minha mae, sempre de pequeninha, me dizia “colhe galego, pode abrir-che portas no futuro”. Isso é algo a ter em conta, é umha outra boa razom, e penso que também nos tem marcado a muitos e muitas.
Nas Jornadas Martín Sarmiento de 2022 aprovamos umha iniciativa que se chama “O mego das palabras”, na que o objectivo é recolher mais mil palavras para o ano seguinte; há que ampliar o trabalho que eu fixem, que é incompleto
Quais som os apoios do galego no Bierzo?
O que eu percebo é que de setores com poder, e desconheço a causa, nom há apoio, nom há vontade nem interesse. As promessas som umhas e os factos som outros; isto, em geral, no mundo institucional, e tenhamos em conta que a ultradireita tem presença na comunidade autónoma de Castela e Leom; as medidas que aqui quigermos tomar a prol do idioma logo há que levá-las a Valladolid, podemos imaginar as dificuldades. Para equilibrar isto, há associativismo cultural, poderia citar casos como o Filandón berciano, que trabalha para recuperar tradiçons da zona; penso também que o professorado tem um papel relevante, quer docentes chegados da CAG, como nativos ou nativas do Bierzo.
Que presença tenhem os prejuízos contra a língua?
Existem, si. Em redes sociais sofrim-nos ao publicar a obra, nom fôrom massivos, mas estám aí. Entom houvo acusaçons sem sentido, dizendo que o Bierzo nom era galegofalante, ou que o importante era o leonês…como se o livro fosse umha ameaça; quando na realidade nada disso, nos que defendemos o galego no Bierzo nom há nenhumha vontade de desprestigiar nenhum idioma. Mas em todo caso estes comentários que eu recebim, que foram só através do computador, considero-os anedóticos.
[Esta entrevista foi publicada originariamente no galizalivre.com]