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“Os outros galegos”: Região de Valença de Alcântara

Este é o sexto episódio da série. A primeira parte deste artigo pode ler-se aqui, a segunda aqui, a terceira aqui a quarta e a quinta.

6. Região de Valença de Alcântara

6.1. Introdução

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Gravação de Carmen Pires, falante do Casalinho.

Foi em dezembro de 2008 que gravamos na região de Valença de Alcântara. A nossa hospedeira foi Toñi de “En Cá Milio” no lugar de Azenha da Borrega, na Campina de Valença. Mulher engraçada que chamava “baturro” ao português (quase padrão!!!) que falavam o seu defunto pai e os seus vizinhos idosos… Desta viagem guardamos saudosas lembranças de Ferreira de Alcântara, como a de Marcelino, velho jornaleiro de uma humanidade comovente ou a de Agustín Nevado, defensor ardente da singularidade da “palra firrerenha”. Também do Casalinho, de Carmen Pires, mulher de idade avançada que, sem nos conhecer, franqueou as portas da sua casa para nos obsequiar com belas cantigas ou de Gillermina Granadero e de José Piris “Frango”, admiradores do Luar da TVG e dinamizadores da música tradicional na vila…

A região de Valença de Alcântara que aqui tratamos não devemos confundi-la com a atual “Comarca de Alcántara”, delimitação administrativa cacerenha moderna, mas com os territórios lusófonos da oficialmente denominada “Comarca de Valencia de Alcántara”, aos quais somamos um concelho pacense limítrofe. Estende-se assim polo sudoeste da província de Cáceres e o noroeste da província de Badajoz, entre a Serra Fria e a Serra de S. Pedro e entre o rio Tejo e a ribeira do Abrilongo. Em quatro concelhos desta região ainda se conservam variedades dialetais de origem portuguesa: Ferreira de Alcântara1 (Herrera de Alcántara), Casalinho (Cedillo), Valença de Alcântara (Valencia de Alcántara) e Codesseira (La Codosera).

Em quatro concelhos desta região ainda se conservam variedades dialetais de origem portuguesa: Ferreira de Alcântara1 (Herrera de Alcántara), Casalinho (Cedillo), Valença de Alcântara (Valencia de Alcántara) e Codesseira (La Codosera).

Ferreira de Alcântara é um concelho que tem uma superfície de 121,61 km² e uma população de 230 habitantes (INE 2021). Encontra-se situado na província de Cáceres, dentro do Parque Natural Internacional do Rio Tejo, numa Zona de Proteção Especial de aves. Ferreira de Alcântara localiza-se sobre um outeiro, rodeado por quatro rios: o Aurela, proveniente da Serra de Carvalho, o Tejo, fronteira natural com Portugal, o Sever e o Alburrel, que constitui a divisão com o município de Valença de Alcântara. A emigração tem sangrado demograficamente este município, que, em 1991, tinha 408 habitantes em confronto com os 230 de agora.

O Casalinho tem uma superfície de 61,6 km² e 424 habitantes (INE 2021), encontra-se situado na zona mais ocidental da Estremadura espanhola, no sudoeste da província de Cáceres. Limita a leste com Ferreira de Alcântara, a norte com o rio Tejo e a sudoeste com o rio Sever, fazendo fronteira com Portugal. A parte central do município é formada por suaves colinas, sendo a de maior altura o pico Valongo com 340 m. Na zona norte do município existe um forte declive em direção à bacia do Tejo. A emigração tem sido muito forte, acarretando um Casalinho demograficamente deprimido e envelhecido que, em 1857, tinha 1241 habitantes e, atualmente, cerca de 400.

Valença de Alcântara é cabeça de comarca judicial e tem 5.325 habitantes (INE 2021). O meio natural existente em Valença de Alcântara encerra uma das paragens mais representativas da floresta estremenha, estando o seu território limitado pola Serra Fria, contraforte da Serra da Estrela, e a Serra de S. Pedro. A maior parte do concelho é drenado pola rede fluvial do Tejo, nomeadamente polo rio Sever, que nasce na Serra de S. Mamede e forma fronteira natural com Portugal, antes de chegar ao Tejo, no Casalinho. Na faixa ocidental deste extenso concelho encontramos uma região designada a Campina (La Campiña), com aldeias onde perdura a língua portuguesa como Alcorneu (Alcorneo), Amieira (La Miera), Azenha (La Aceña), Hortas (Las Huertas de Cansas), Azenha da Borrega (Aceña de la Borrega), Casas do Pinho (El Pino de Valencia), Casinhas (Las Casiñas), Fontanheira (La Fontañera), Genebro (El Jiniebro), Lanchuelas (Las Lanchuelas), São Pedro (San Pedro de los Majarretes), Xola (Jola)… Como consequência da emigração este município tem passado dos 12.000 habitantes de 1920 aos pouco mais de 5.000 de hoje em dia.

A Codesseira é um município 69,6 km² de superfície e 2.049 habitantes (INE 2021), situado ao oeste de Alburquerque, no noroeste da província de Badajoz. A sua localização raiana confere-lhe peculiaridades muito notórias, podendo afirmar-se que as suas ligações com Portugal configuram a sua personalidade. A Serra da Laparona e as ribeiras do rio Xévora, declaradas Zona de Proteção Especial, constituem paisagens de rara beleza. Na Campina da Codesseira, prolongamento da Campina de Valença, usa-se o português nas aldeias e casais raianos: Bastos (Los Bastos), Centena (La Centena), Marco (El Marco), Monte Velho (Monteviejo), Rabaça (La Rabaza), Tojeira (La Tojera), Vau Covo (Bacoco), Várzea da Nogueira (La Varse de la Noguera), Veiga do Xévora (La Vega)… A emigração também tem deprimido demograficamente este concelho, que em 1960 contava com 3.334 habitantes2.

A economia destes quatro concelhos baseia-se no setor agropecuário, num turismo ainda incipiente e no pequeno comércio (supermercados, lojas, padarias etc…). No Casalinho, na confluência dos rios Tejo e Sever, existe uma barragem dedicada à produção hidroelétrica. E, como em toda a Raia, foi muito importante o contrabando, atividade que entrou em declínio com a entrada da Espanha e Portugal na Comunidade Europeia no ano 1986.

6.2. Descrição destas variedades linguísticas

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Gravação de Antonio González Riscado, Presidente da Câmara Municipal do Casalinho.

Em Ferreira de Alcântara conserva-se, entre as pessoas idosas, uma variedade dialetal portuguesa de tipo arcaizante e de origem claramente medieval3, que devido à pressão secular do castelhano da Estremadura recorda as falas galegas… Em Ferreira chegamos a gravar o fenómeno da “gheada”!

Segundo Maria da Conceição Vilhena, autora de uma monografia sobre o português de Ferreira de Alcântara e do Casalinho, elaborada entre 1963 e 1965, e publicada em 2000,“no falar de Herrera o sistema de sibilantes do português padrão encontra-se reduzido a um único fonema surdo […]”4, os fonemas [s] e [z] foram sustituídos polo [θ] característico dos dialetos meridionais espanhóis. Mas esta confusão geral das sibilantes não palatais em posição inicial e intervocálica pode ser um fenómeno relativamente recente no ferreirenho. En 1935, Aurelio M. Espinosa encontrava casos de distinção ao lado de outros em que existia uma confusão completa, situações de hesitação que se podiam dar num mesmo falante ou entre falantes diferentes5. Este autor recolhia no seu estudo a palatalização total das sibilantes finais, igual que acontece no português padrão europeu6, no entanto, Maria da Conceição Vilhena, três décadas mais tarde já encontrou várias possíveis realizações para estas sibilantes finais: A conservação da sibilante sem palatalizar, mas muito débil, ao tempo que soluções palatalizadas; a desaparição completa da sibilante; ou ainda a aspiração7.

No Casalinho as pessoas idosas empregam um português claramente identificável como tal, um português de fonética muito mais próxima das variedades vizinhas beirãs. Assim, diferenciam os fonemas [s] e [z] e existe uma palatalização total das sibilantes finais8. Esta fala apresenta alguns castelhanismos lexicais.

No Casalinho as pessoas idosas empregam um português claramente identificável como tal, um português de fonética muito mais próxima das variedades vizinhas beirãs. Assim, diferenciam os fonemas [s] e [z] e existe uma palatalização total das sibilantes finais8. Esta fala apresenta alguns castelhanismos lexicais.

Na maior parte da Campina de Valença de Alcântara a situação linguística é parecida com a do Casalinho. No seu português entraram bastantes castelhanismos9, embora a fonética ainda seja claramente portuguesa.

Um caso particular constituem-no as aldeias raianas da Codesseira e a aldeia da Fontanheira, na Campina de Valença de Alcântara, que falam um português praticamente indistinguível dos dialetos vizinhos alentejanos. Esta variedade até princípios do século XXI quase não apresentava castelhanismos10.

6.3. Origem destas variedades linguísticas

Após ter sido assinado em 1297 o Tratado de Alcanizes, Valença, Ferreira de Alcântara e o Esparregal11 passam para a posse de Fernando IV, renunciando D. Dinis aos seus direitos sobre elas12, o que, como em casos anteriores, nos remete para uma soberania portuguesa durante a mal chamada primeira “reconquista” 13. Porém, segundo Baquero Moreno14, a cessão deste território por parte de D. Dinis pode explicar-se porque já na altura se encontrava “na posse da ordem de Alcântara”, a antiga Ordem de S. Gião do Pereiro, uma ordem militar ao serviço do soberano galaico-leonês com origem no Ribacoa.

Segundo Teresa S. Bengala15 a região de Valença estava incluída no Primeiro Foral de Marvão de 1226. Baseando-se neste Foral, que está arquivado na Torre do Tombo de Lisboa, José L. del Olmo, cronista oficial da Codesseira, afirma que, até o Tratado de Alcanizes, as terras marvanenses iriam de Assumar, Campo Maior e Ouguela até Carrión, as cristas da Serra de S. Pedro e daí em linha reta até a sua confluência com o rio Tejo; sendo a conquista aos muçulmanos feita polo primeiro rei de Portugal, Afonso Henrique, nos anos 1160-116216. O que coincide com a zona que historicamente deveu ser lusófona e que abrangeria não só Valença e Ferreira, mas também Santiago de Alcântara e a Codesseira. Logo, o mais provável é que pola pressão secular do castelhano, o português iria recuando até ocupar a sua área atual17, como o demonstram os lusismos existentes em zonas onde agora não se fala português18.

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Na casa de Marcelino Noguera, falante de Ferreira de Alcântara.

Para Carrasco González19, a região na Idade Média foi “reconquistada y repoblada fundamentalmente por portugueses”, estando constituída por populações de língua materna lusa, como o prova a existência em Valença de Alcântara de escritos locais em português datados no século XIV. Aliás em 1530, fizeram-se cópias em castelhano destes documentos20, que, indiretamente, demonstram que no século XVI nesta localidade exprimiam-se num dialeto português com características centro-meridionais21.

Valença ainda estaria sob domínio português entre 1664 e 1668, durante a guerra da Restauração Portuguesa22, e entre 1705 e 1715, durante a Guerra da Sucessão Espanhola23. Nessas mesmas guerras foi invadida Ferreira, sendo o seu castelo arrasado polas tropas portuguesas em 1667 e, possivelmente, a Codesseira, que foi cercada em 164224 e, talvez, ocupada junto com a vizinha Alburquerque entre 1705 e 171625.

A respeito do Casalinho, Maria da Conceição Vilhena26 remete para a tradição difundida entre os seus naturais, segundo a cual a origem da vila encontra-se em famílias de pescadores portugueses que, a finais do século XVIII, se foram estabelecendo primeiro na ribeira do Tejo e depois no alto dum monte próximo “atraídos pelo isolamento do lugar, longe do bulício das cidades e da alçada da lei, tanto no que respeita à jurisdição portuguesa como à espanhola, aí encontraram paz e tranquilidade”. Este assentamento daria lugar a uma aldeia chamada o Casalinho, nome que ainda recebe esta povoação entre os seus naturais e os seus vizinhos portugueses. Das pesquisas de Carrasco González27, podemos concluir que a localidade deveu ser refundada por portugueses nesse último terço do século XVIII, primeiro fazendo parte da comenda de Ferreira e a partir de 1836 como concelho independente; tendo-se constituído como paróquia em 1844. Segundo este autor, o lugarejo já aparece citado em documentos do século XVI e XVII, ora em 1677 o comendador Francisco de Moya advirta que “fuy informado que la dicha poblazión de Zedillo se ha perdido a causa de las guerras entre las dos Coronas y las casas están demolidas hasta los zimientos”. Num documento anterior, de 1556, quando não excedia dos dez moradores, informa-se de que o padre que dava missa na aldeia era português28.

Segundo Carrasco González29, o interesse dos portugueses em fixar a sua residência em toda esta região da Alcântara lusófona pode explicar-se na facilidade que oferecia para vender nas feiras portuguesas mais próximas, evitando, quanto possível, controles e o pago de impostos30. É por este mesmo motivo que os portugueses foram fundando aldeias desde o Tejo no Casalinho até o ribeiro Abrilongo na Campina da Codesseira ao longo dos séculos XVIII, XIX e primeiras décadas do XX. Deve-se assinalar que estes portugueses se assentam num território já dantes lusófono, rodeado de vizinhos também lusófonos, o que reforça a conservação da língua.

As povoações da Campina de Valença, como o Casalinho, teriam a sua origem no século XVIII31 e seriam fundadas por portugueses32. Dizia em 1849 o Diccionario Geográfico de Madoz, a respeito do concelho33 do Pinho de Valença (Pino de Valencia): “los hab. son de raza portuguesa, cuyo idioma y costumbres conservan.34. É este um território sem grandes barreiras orográficas, onde o estreito relacionamento com Portugal possibilitaria a conservação de um português que não teria rompido o cordão umbilical com a área linguística matriz (intercâmbios económicos, contrabando, casais mistos…). Assim, sabemos que o relacionamento de Valença com os seus vizinhos portugueses do concelho de Marvão, após o Tratado de Alcanizes, continuou a ser intenso e em 12 de dezembro de 1313 foi assinado polos representantes de D. Dinis e da Ordem de Alcântara um “Tratado de Colaboração” entre Marvão e Valença, em virtude do qual os habitantes dos dous municípios podiam ter acesso às pastagens, ao pão, à água, aos moinhos…etc. sem pagar quaisquer impostos. Segundo Jorge de Oliveira, o acordo ratificou-se e atualizou-se posteriormente (existindo acordos datados em 22 de setembro de 1519, 12 de setembro de 1537, 23 de setembro de 1585, 23 de novembro de 1682 e 16 de junho de 1868)35.

As aldeias raianas da Campina da Codesseira são, de acordo com as informações que proporciona Carrasco González36, algo mais recentes na sua fundação. Surgiram provavelmente durante o século XIX e ainda nos inícios do século XX. Este autor hesita nas razões que levaram á inexistência de localidades anteriores ao século XIX na Raia da Codesseira, tendo atribuído este despovoamento quer a existência das denominadas “refertas”37, quer ao zelo do Ducado de Alburquerque, que teria impedido os assentamentos permanentes nesta zona38. Logo a partir do século XIX, com o desaparecimento dos senhorios e com a assinatura do Convénio de Limites de 1863-64, que delimitava definitavemente a fronteira, este território seria povoado por portugueses ávidos de terras, após terem sofrido sucessivas crises agrárias no seu país. Dizia o Diccionario Madoz na entrada da Codesseira (Codosera, La)39: “en él se encuentran los cas. de Vara de la Noguera, Borranchoza, Tojera y algun otro destinado á la labor”, portanto, em 1846 já existiam estes casais que se correspondem com a Várzea da Nogueira (La Varse de la Noguera), Borranchona40 (Borranchoza) e a Tojeira (La Tojera). Algumas outras aldeias, como o Marco e a Rabaça, nasceriam como prolongação das existentes com idêntico nome ao outro lado da fronteira. Nos inícios do século XXI, estes sítios ainda não estavam ligados entre si e tinham Portugal mais próximo do que a vila da Codesseira. Diz Carrasco González41: “É evidente que as deslocações mais habituais dos habitantes destes lugares (compras, visitas, actos litúrgicos, assistência médica, etc.) não se faziam para La Codosera, mas sim para as localidades fronteiriças portuguesas, muito mais próximas e de acesso mais fácil, como são a Rabaça (portuguesa), Parra, o Marco (português) ou Esperança”. Aliás, nessa altura, muitos dos seus moradores ainda conservavam a nacionalidade portuguesa e, mesmo nos nascidos em território espanhol, a identidade não tinha deixado de ser portuguesa, ouvindo-se expressões como “cá no Alentejo”42. Isto tudo explica a pureza destes falares onde, como já dissemos, os castelhanismos a princípios do século XXI continuavam a ser a exceção.

Porém, frente a opinião de Carrasco González, acreditamos que a Codesseira tem estado povoada desde a Idade Média, quando fazia parte do Foral do concelho português de Marvão, logo sofreria as guerras entre os dous reinos, como a da Restauração Portuguesa, ou a Guerra da Sucessão Espanhola, mas nunca teria deixado de estar habitada. Topónimos castelhanizados como o próprio nome da vila “La Codosera”43 ou o do seu famoso santuário “Chandavila” (originariamente Chão da Vila) remetem, do nosso ponto de vista, para um passado lusófono de longa data.

6.4. Análise sociolinguística

Estas variedades linguísticas carecem de qualquer reconhecimento ou proteção legal. São maioritariamente orais e ágrafas. Para a imensa maioria dos falantes deste território, a língua teito é o castelhano, mesmo quando se exprimem na língua própria. A hibridação léxical, sintática e fonética, à qual contribui em grande medida a influência dos meios de comunicação espanhóis e a escolarização em castelhano, avança inexoravelmente.

A hibridação léxical, sintática e fonética, à qual contribui em grande medida a influência dos meios de comunicação espanhóis e a escolarização em castelhano, avança inexoravelmente.

No Casalinho e em toda a Campina têm consciência de falarem português, mas em Ferreira de Alcântara denominam a sua “palra” “firrerenho”. Em Ferreira, a maioria dos utentes considera que a sua é uma língua diferente do português, ainda que próxima, existindo mesmo quem a identifique com uma variedade de castelhano antigo, embora reconheçam, em geral, que se podem comunicar sem dificuldade com os seus vizinhos portugueses e também com os galegos.

Em Ferreira e o Casalinho todos os falantes são idosos. A transmissão familiar da língua perdeu-se há décadas em Ferreira, no Casalinho e em boa parte da Campina. Na Campina de Valença, num trabalho feito em base a inquéritos na Fontanheira, S. Pedro e Xola no ano 2000, Christina Ossenkop concluia “desde los años 70, los padres, en su mayoría, dejaron de transmitir la lengua portuguesa a sus hijos para facilitarles la vida escolar y profesional. Por ello, resulta difícil, actualmente, encontrar en esta zona hablantes bilingües menores de 30 años44. Na Codesseira, em 1970, ano da implantação da escolarização obrigatória, de 2.704 habitantes, 1.327 moravam na vila e 1.377 nas aldeias da Campina, onde o português era a língua habitual e quase única. Foi precisamente na escola onde a maioria das crianças da Campina começaram a falar o castelhano45.

Não existem em toda esta região associações culturais que se ocupem, propriamente, da conservação da língua. Em Ferreira tem havido pequenas iniciativas, apoiadas pola Câmara Municipal, como um curso de “firrereño” dado por falantes da localidade, alguma representação teatral protagonizada por “cachopos” (meninos na fala local) e alguns artigos numa revista local denominada “O Cachán” (escritos, logicamente, com ortografia castelhana, a única que dominam os ferreirenhos). No Casalinho existe um rancho folclórico chamado “El Despertar”, fundado há mais de três décadas, que tem feito um trabalho muito louvável de recuperação das danças e cantigas tradicionais em português. E mais nada.

Sendo o único indício positivo para a sobrevivência destas variedades dialetais a implantação do português como cadeira optativa no ensino médio, o diagnóstico não pode ser outro, que o português na região de Valença de Alcântara dá os seus últimos suspiros.

Documentário “Entre Línguas”

Extra de Documentos de “Entre Línguas”:

1 Em itálico e entre parênteses aparecerão os topónimos oficiais em castelhano.

2 Del Olmo Berrocal, José Luis, (2017): “La Codosera, un pueblo de La Raya”, Revista de Estudios Extremeños, Tomo LXXIII, Número II, pág. 1273

3 Carrasco González, Juan M. (2015): “La lengua portuguesa en Valencia de Alcántara durante la Edad Media”, Revista de Estudios Extremeños, Tomo LXXI, N.º III, pág. 1635

4 Vilhena, Maria da Conceição (2000): “Falares de Herrera e Cedillo”, Mérida, Junta de Extremadura / Gabinete de Iniciativas Transferizas, pág. 126

5 V. Espinosa, Aurelio M. (hijo) (1935): “Arcaísmos dialectales. La conservación de ‘s’ y ‘z’ sonoras en Cáceres y Salamanca”, Madrid, Anejo XIX de la Revista de Filología Española, págs. 153-154

6 V. Espinosa, Aurelio M. (hijo) (1935), op. cit., pág. 159

7 Vilhena, Maria da Conceição (2000), op. cit., págs. 127-128

8 V. Espinosa, Aurelio M. (hijo) (1935), op. cit., pág. 159

9 P. ex. agradecem com “muitas grácias”.

10 Carrasco González Juan M. (2004): “Cá no Alentejo: A língua portuguesa em La Codosera”, Anuario de Estudios Filológicos, Vol. XXVII, Universidad de Extremadura: Servicio de Publicaciones, págs. 13-21

11 As ruínas do castelo da Comenda do Esparregal ficam situadas em Santiago de Alcântara.

12 «Outro si eu Rei Dom Diniz de suso dito, por que mi vós vos quitades dos Castellos, e de Villas do Sabugal, e de Alfayates, e de Castel Rodrigo, e de Villar Mayor, e de Castel Boom, e de Almeida, e de Castel Melhor, e de Monforte; e dos Lugares de Riba Coa, com seus termo; que eu agora teno á minha maão, assi como de susso dito he, quimotivos, e partomivos de todo o direito, que eu hei en Vallença, e em Ferreira, e no Esparregal, e em Ayamonte» (http://pt.wikisource.org/wiki/Tratado_de_Alcanises).

13 Sobre termos discutidos na atualidade como “reconquista”, “repovoação” ou a “teoria do ermamento” leia-se: Barbero Abilio, Vigil, Marcelo (1978). La formación del feudalismo en la península ibérica. Crítica. Barcelona.

14 Baquero Moreno Humberto (1998): “As relações de fronteira no século de Alcañices (1250-1350): O Tratado de Alcañices”, Revista da Faculdade de Letras. História, II Série, Universidade do Porto, vol. XV, nº 1, pág. 646

15 Bengala Simão, Teresa Susana (2015): “O Falar de Marvão, Património Imaterial Raiano”, Tese de Doutoramento, Universidade de Évora, pág 108.

17 Onde a área lusófona nesta região já não abrange as vilas de Valença, Santiago e a Codesseira.

18 P. ex. no castelhano de Santiago de Alcântara usa-se: bolacha (mas com significado de tapa), butre, buraco, chero, conversa, cotovelo, fala, fechar, mazaroca, millo, minino (com significado de menino), mocho, pega, petiscar, prisiñas, relamber, rola

19 Carrasco González, Juan M. (2015), op. cit., pág. 1634

20 Pero Ximénez de Curiel, recebedor de causas da Chancelaria de Granada, adverte que “hallaron un previllegio viejo antiguo del dicho maestre de Alcántara, don Nuño Chamiço, que está en lengua e letra gallega más que portuguesa” in Clemente Quijada, Luis Vicente (2014): “Conquistas vecinales y transformación de las relaciones de poder en el maestrazgo de Alcántara: el concejo de Valencia (1317-1353)”, en la España Medieval, vol. 37, págs. 247-276

21 Carrasco González, Juan M. (2015), op. cit., págs. 1633-1664

25 Carrasco González, Juan M. (2014-2015): “Aldeas de habla portuguesa en La Codosera”, Norba. Revista de Historia, Vol. 27-28 [Homenaje al Prof. Dr. Fernando Serrano Mangas], Universidad de Extremadura, Cáceres, pág. 160

26 Vilhena, Maria da Conceição (2000), op. cit., pág. 35

27 Carrasco González, Juan M. (2015), op. cit., págs. 2570-2582

28 Año de 1556, Visitaçión de la hermita de san Yllefonso, Archivo Catedral de Coria, Legajo 80 (cuadernillos sin numerar).

29 Carrasco González, Juan M. (2015), op. cit., págs. 2576-2578

30 Como explicava em 1791 o pároco de Ferreira, Tomás Fernández Mimoso, no seu relatório adicional sobre o Casalinho do Interrogatorio de la Real Audiencia: “Los otros ochos son portugues [sic] que residen para trabajar en el encomienda, y la pagan primicia, diezmo y terrazgo, y los derechos de entierro de cura si se mueren en España; nada contribuien al rey pues pagan a Portugal, quando salen de España registran y afirman en la aduana de Herrera y lo repiten cada 6 meses para asegurar los generos españoles, y quando entran de Portugal executan alli lo mismo. Pregunte a uno de estos por que no se fijaba en España y respondió no queria perder la vezindad de Portugal donde contribuien al rey mucho menos que en España, que actualmente nada pagaban por Su Magestad fidelisima les hace hecho general por algunos años. […] Los vecinos de Cedillo pasan a Portugal a cortar las lanas y las dejan alla, perdiendo el rey los derechos de 30 reales en cada arroba, que deberian pagar en Badajoz que es la plaza abilitada para pasar lanas a Portugal. Es posible que lo mismo executen con los granos y generos que cojende España, pues no es de creer que cogiendo frutos sobrantes y viviendo lo mas en Portugal, los vendan aca y despues lo compran alla; a lo menos no se les ve vender ni pagar derechos, por los que introduze caudales pues estan prohividos de extraher” in Interrogatorio de la Real Audiencia. Extremadura a finales de los tiempo modernos–Partido de Alcántara, Edición a cargo de Miguel Rodríguez Cancho y Gonzalo Barrientos Alfageme, 1ª edición, Mérida, Asamblea de Extremadura, 1993, págs. 338-339

31 Talvez, com a excepção da Fontanheira (Fontañera) que seria de origem muito mais recente.

32 Carrasco González, Juan M. (2006): “Evolución de las hablas fronterizas lusoextremeñas desde mediados del siglo XX: uso y pervivencia del dialecto”, Revista de Estudios Extremeños, tomo LXII, número II, Mayo-Agosto.

33 Na altura era um concelho independente de Valença, mas pola oposição da própria Valença acabou por desaparecer.

34 Madoz, Pascual (1849): Diccionario Geográfico-Estadístico-Histórico de España y sus Posesiones de Ultramar, Tomo XIII, Madrid, págs. 38-39.

35 Bengala Simão, Teresa Susana (2015), op. cit., págs. 108-109

36 Carrasco González, Juan M. (2014-2015), op. cit., págs. 157-169

37 As refertas eram umas terras comunitárias aproveitadas por portugueses e espanhóis e onde não se podiam construir casas, nem podia haver propriedade privada. Conhecemos a existência das refertas de Ouguela e Arronches, que se prolongavam dentro do território espanhol. Desapareceram com a assinatura do Convénio de Limites de 1863-64.

38 Carrasco González, Juan M. (2014-2015), op. cit., págs. 161-162

39 Madoz, Pascual (1846): Diccionario Geográfico-Estadístico-Histórico de España y sus Posesiones de Ultramar, Tomo V, Madrid, pág. 504.

40 Na Folha 726 “Pino de Valencia” do Mapa Topográfico Nacional de España (1975) in Carrasco González, Juan M. (2014-2015), op. cit., pág. 163

41 Carrasco González Juan M. (2004), op. cit., pág. 13

42 Carrasco González Juan M. (2004), op. cit., págs. 13-21

43 Um mapa, em latim, de 1616 do cartógrafo flamengo Bertius, emprega os topónimos “Codesseira”, “Valenca dalcantara” (no mapa não aparece o “ç”) e “Frereira” [sic.] in Bertius, Petrus & Rogiers, Salomon (1616): “Tabularum Geographicum Contractarum”, Amesterdão. Noutro mapa militar português de 1648, ano em que as tropas lusas assediaram a vila, aparece grafado como “Codiceira”. Este mapa aparece reproduzido em https://joseluisolmoberrocal.blogspot.com/2013/01/el-nacimiento-de-la-raya-cuando-nos.html

44 Ossenkop, Christina (2006): “La situación lingüística actual de las variedades portuguesas en la franja fronteriza de Valencia de Alcántara” , Revista de Estudios Extremeños, Tomo LXII, N.º II, pág. 663

45 Del Olmo Berrocal, José Luis, (2017), op. cit., Revista de Estudios Extremeños, Tomo LXXIII, Número II, pág. 1281

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