No passado mês de maio, decorria entre Compostela e o Rio de Janeiro, organizada entre a AGAL (Associaçom Galega da Língua) e A ABL (Academia Brasileira das Letras) a Leitura Continuada do romance A República dos Sonhos, da escritora brasileira de origem galega, Nélida Piñon. Agora, falamos com algumas das pessoas que participaram da mesma, para recolher as suas impressões e o pouso do evento.
Passado já um tempo da leitura, como lembras o teu passo polo evento?
O evento foi lindo tal como já fora o do Saramago (que foi o primeiro em que participei). Mesmo aproveitei para combinar com amizades no momento da leitura. O único que achei um bocado pior foi o lugar do evento. A Cidade da Cultura não é o meu lugar favorito e o auditório ficava algo frio.
Como avalias a repecursom do mesmo, achas que serviu para dar a conhecer melhor a figura e obra da Nélida?
Com certeza, eu mesmo conhecia a autora, mas não lera nada da autora até o evento. Isto fez-me investigar e profundar um pouco mais na sua trajetória e na sua maneira de escrever. Do mesmo jeito, sei de pessoas que desconheciam sobre a Nélida e a sua relação com a Galiza e a leitura da República dos sonhos aproxima a essa Galiza emigrante que ela experimentou através do seu avô.
Até que ponto achas que é influente reparar em que nom há qualquer problema na Galiza para a compreensom dum texto escrito no Brasil?
É mui importante entender que não existe problema nenhum de comunicação entre o povo brasileiro e galego. Quando veu a Bia Ferreira a Boiro a passar uma jornada inteira a falar com diferentes associações e dar um concerto afinal do dia na Pousada. A Bia falou em tudo momento em brasileiro e um amigo meu de Cabo de Cruz que estivo em vários destes atos, disse: -É surpreendente como entendi absolutamente tudo o que falou. Eu aproveitei para dizer-lhe, e então, foi necessária esta experiência para saber que eu levava razão todos estes anos quando te dizia que o galego e o português são a mesma língua? Nunca é tarde. Pois com a escrita passa o mesmo, mas há pessoas que não vem esta oportunidade a ler em português, e é uma mágoa o mundo que ficam por conhecer.
Quais seriam, do teu ponto de vista, as áreas alvo em que trabalhar para construirmos caminhos de ida e volta entre a Galiza e a Lusofonia?
Penso que se estão a dar muitos passos nesse caminho. Sobre tudo na música e na literatura. Quiçás é necessário aumentar os caminhos do humor e o cinema, ou séries que sejam produção comum galega e portuguesa. Há algumha pequena experiência, polo que eu sei. Também seria ótimo criar redes de jogos on-line (tipo fortnite…) em que as crianças galegas pudessem jogar e comunicar-se com crianças portuguesas dumha maneira natural. Há muitos passos que já estamos fazendo, possivelmente mais lentos do desejável.
A AGAL já tinha organizado uma primeira leitura continuada do Scórpio de Carvalho, depois do Ensaio sobre a cegueira de Saramago, e esta última da República dos Sonhos de Nélida Piñon, que outras obras sugeririas para serem lidas deste jeito?
Penso que seria interessante incluir duas ideias. A primeira seria algumha autora viva (sei que às vezes pode ser conflituoso a seleção da obra e da autora) mas penso que as homenagens em vida som necessárias e lindas, e sempre poderíamos contar com a autora para participar dalgum jeito. Outra ideia seria poder ler em galego-português uma obra internacional que seja um referente e que não esteja traduzida ao galego RAG, demonstrando que temos a literatura universal ao nosso dispor.