Heitor Rodal
Trás as passadas eleições ao Parlamento da Galiza do ano 2009 houve, entre muitas das pessoas que curtimos e defendemos este nosso país, um sentimento generalizado de incredulidade e pessimismo: mais uma vez, confrontados as galegas e galegos com mais uma ‘ocasião histórica’, parece ser que a Galiza saiu derrotada. E daquela parecia que só restava esperar que a Galiza fosse destruída de vez e para sempre. Devo confessar que eu não fui partícipe nem partilhei esse pessimismo nem essa visão trágica e fatalista da História. Tentarei explicar aqui os motivos.
A questão é que, confrontados cada três ou quatro anos com “ocasiões históricas”, para mudar o rumo do país, parece que o país devesse apenas resistir as acometidas ou ficar latente e paralisado nos entremeios, aguardando por esse “Messias” que, transfigurado em “eleição autonómica”, há vir resgatar-nos da nossa miséria e submetimento. Qual povo escolhido que espera polo seu Salvador, há quem aguarda pacientemente olhando para o céu até que chegar a ocasião eleitoral propícia para mudar radicalmente e de golpe toda a nossa história, passado e presente, enquanto o país vai sendo gerido e comesto por aqueles que, qual praga bíblica, “nos oprimem e destroem”.
A realidade é que, já daquela como agora, para as pessoas que estamos envolvidas numa regeneração radical e real da Galiza a partir dos seus elementos mais basilares e fulcrais –língua, cultura, economia, território, etc.- todo este circo das ‘ocasiões históricas’ irrepetíveis cada três ou quatro anos tem pouca relevância e diz-nos bem pouco para o que não for transpor um sistema representativo e de ‘auctoritas’ que, esquivando a vontade do povo, se demonstrou precisamente um magnífico distorcedor da vontade popular. Porque, como indicava Ramom Obelha, a Soberania Funcional pode exerce-se desde já e não cumpre permissão de ninguém. Por isto, hoje como há três anos, andamos nas mesmas, porque nem uma sociedade, nem uma nação se erguem nem se mantêm a simples golpe de boletim de voto cada quatro anos.
E por isso, veio-se cumprir o que já muitos previmos: a chegada do Partido Popular ao poder desfez de golpe todas as pretensas estruturas em prol do galego e do País que, dependentes não do impulso e da vontade popular, mas dos dinheiros públicos administrados polo político de turno, forom ruindo e caindo baixo a picareta orçamentária e “racionalizadora” dos neocons espanhóis e gallegos. Repare-se ainda que, para maior escárnio, a totalidade dessas iniciativas cumpriam, ou pretendiam cumprir, as normas, planos e padrões que os executores da desfeita estabeleceram para a Língua e Cultura do País: das normas ILG-RAG, da absoluta dependência económica, social, cultural e mesmo referencial ao quadro espanhol vigorante, até ao estrito isolacionismo a respeito dos países e nações que partilham connosco língua e traços culturais, e que vão das Hébridas até ao Rio Grande do Sul.
Porém, amortizadas já na sua função de narcotizadores e o seu efeito paralisador sobre a maior parte da população na procura doutras alternativas mais viáveis e com maior futuro e mesmo como “cordão sanitário” em contra das propostas mais avançadas e perigosas que existem já há tempo contra a submissão nacional da Galiza, e contando ainda com a colaboração absurda ou submissa de grande parte do nacionalismo galego institucionalizado ou com vontade de se institucionalizar e deixando agora também ao descoberto àqueles ingénuos, aproveitados e medradores que os seguiram, os argalhadores do sistema desnacionalizador e desgaleguizador podiam tirar já a máscara e passar à derradeira fase do processo: a assimilação sem intermediários e a inclusão direta da Galiza na “normalidade” espanhola, incluídos aí todos os traços diferenciadores que podiam ter feito perigar essa unidade de “destino en lo universal” e que para a altura deviam estar destruídos e apagados.
Não obstante, enquanto isso estava a suceder, uma parte pequena mais crescente da sociedade galega, aquela que tomara conscientemente o caminho que os apocalípticos anatematizavam como “errado”, “perigoso”, etc… ou até “suspeito de estrangeirice” por pretensa traição à Pátria por “lusismo”, continuarom trabalhando e argalhando em prol do país: o reintegracionismo linguístico e cultural galego ou, por melhor dizer, o regeneracionismo nacional da Galiza, conseguia, não só manter as iniciativas em andamento, mas ainda reforçá-las e alargá-las: AGAL, AGLP, editoras (Através, Edições da Galiza, ..), centros sociais, meios de comunicação (Novas da Galiza, Diarioliberdade, .. ), escolas (Semente), … e agora também uma nova alternativa política cuja finalidade, objetivo e praxe ultrapassam os limites impostos e vão para muito além dumas eleições.
Porque afinal, como era previsto, hoje, três anos mais tarde, achamo-nos mais uma vez –e quantas vão já?- ante uma “ocasião histórica” e uma chamada ao “voto útil”. E contudo, desconhecemos ainda o programa mais alá do 21-O para além de arrebatar-lhe o poder ao atual “representante” da “soberania popular” e qual as alternativas reais da maior parte dos partidos que se opõem à desfeita perpetrada polo atual detentor ” -como anteriormente já o foram outros- do poder político concentrado, unificado e surgido da pretensa “democracia representativa”, que nada representa.
Votem logo por quem desejarem e, se não sair o Messias esperado por vocês, quem considere que já cumpriu com o país, bote-se a choramingar, laiar-se ou dormir até às seguintes eleições.
Boa sesta, buenas noches e good night.