O apelido PALMEIRO

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Como é natural, nesta Terra do Norte nom temos topónimos referidos a umha árvore como a palma, que exige climas mais mornos e secos, tendo que baixar até à outra ponta da Península, no Algarve, para encontrar em Faro a localidade dos Palmeiros –resto toponímico, talvez, dumha plantaçom árabe. Tendo isto em conta, o apelido Palmeiro, bem conhecido em Ordes, nom debe ser de origem toponímica, ainda que está em caminho de gerar um microtopónimo: o Cruze dos Palmeiros, da N-550 com a estrada a Cerzeda e a entrada ao polígono industrial de Ordes, chamado assim desde há anos pola nave que esta família tem ali.

Palmeiro

Mas entom, se Palmeiro nom é um apelido derivado dum nome de lugar, de onde é que virá? A resposta dá-a Dante Alighieri em A vida nova: “convém saber que as gentes que caminham para servir ao Altíssimo recebem propriamente três nomes: chama-se-lhes palmeiros se vam a ultramar –aos Santos Lugares-, de onde muitas vezes trairiam a palma; peregrinos, se vam à Galiza, já que Santiago foi sepultado mais longe da sua pátria do que nengum outro apóstolo; romeiros, se vam a Roma”[1]. As nossas romarias, de feito, som umha imitaçom em pequeno daquelas emigraçons a Roma, de onde também procede o verbo inglês to roam ‘vagar, andar errante’. O que nom há em galego som apelidos derivados da palabra peregrino, ainda que si o mui relacionado de Concheiro, cuja saga familiar ordense parece saída dum romance de García Márquez. Luciano Concheiro, descendente da pola exilada em México, filósofo e historiador (ocupou-se da Revoluçom Mexicana, do cooperativismo e do EZLN), vem de ganhar o Prémio Anagrama de Ensaio.

Os Palmeiros de Ordes –retomando o fio- serám, já que logo, descendentes dum peregrino medieval que foi da Galiza à Palestina, rota inaugurada pola primeira escritora galega conhecida, Egéria, quem deixou em latim testemunha da sua fazanha. E o que é mais importante: traeriam ou nom palmas estes viageiros? As palmeiras que há em Herbom disque venhem duns caroços de dáteis que trouxo de ali Juan Rodriguez do Padrom. Os galeguistas da Geraçom Nós (e o Xamma de Sigueiro) muita genreira lhe tinham a esta árvore, introduzida nos jardins dos paços. Castalao carregava no Sempre em Galiza contra os que: “Andan vestidos á moda que acaba de pasar, fuxen da raxeira do sol tapándose con sombrillas, falan castelán por señoritismo, desprezan a cencia dos labregos e mariñeiros, pintan de aluminio os balcóns da súa casa e síntense moi orgullosos de que nas alamedas da súa cidade medren as palmeiras de África”[2].

Próximo a Palmeiros é o apelido Palma, mais frequente em Portugal. Levou-no o audaz revolucionário Hermínio da Palma Inácio, amigo da causa galega. Em 1961 capturou um aviom da TAP para fazer chover sobre o Porto e Lisboa consignas democráticas em plena ditadura, conseguindo fugir a Tânger onde lher deram asilo. Quando o Revoluçom dos Cravos mudou radicalmente a correlaçom de forças em toda a Península e a UPG porfim tivo umha fronteira amiga, a LUAR de Palma Inácio foi umha organizaçom aliada da esquerda soberanista galega. A situaçom preocupava à Brigada Político-Social na Galiza, e nesse contexto deu-se a anedota que conta Ferrín: “Colleron moitos militantes. Atopáronlles un armamento altamente sofisticado, metralletas e fusís. Obrigáronos a dicir quen llelo dera. Eles revelárono, tranquilamente: “Hermínio da Palma Inácio”. Era o director da Liga de União e de Acção Revolucionária, que xa saíra do cárcere e andaba polas rúas de Lisboa. “Vaino buscar alí”[3]. O presidente do I Governo Provisório era, aliás, outro palmeiro: Palma Carlos.

[1] Citado em: X. R. Mariño Ferro, Las romerías/peregrinaciones y sus símbolos, Vigo, Xerais, 1987, p. 99.

[2] Castelao, Sempre em Galiza, Adro, VII.

[3] Xosé Manuel del Caño, Conversas con Méndez Ferrín, Vigo, Xerais, 2005, p. 94.