Em 15 de junho de 2023 completam-se quatro décadas da aprovação da LNL, ou Lei de Normalización (sic) Linguística. No original do BOE, e também depois no DOG, linguística tem trema no u, seria: “lingüística”. Mas após 40 anos já tenho preguiça, como Macunaíma, e prefiro nem fazer o esforço de colocar aqueles dous pontos sobre o u, e depois utilizar o itálico, e enlameirar este texto jeitoso que eu andava a fiar. Sabem?
Há muita preguiça e muita desfeita em quarenta anos sobre este assunto da política linguística na Galiza. Muitos livros tenho lido, muitos mais se têm escrito, muito mito se tem reforçado e derrubado, até diluir-se, hoje diria mais do que nunca, numa nebulosa de regras que muita gente esquece nada mais aprender, sem entender que é da própria língua que estamos a tratar, sem chegar a intuir nem um pouco quanto do seu futuro se está a decidir em cada letra.
Há muita preguiça e muita desfeita em quarenta anos sobre este assunto da política linguística na Galiza. Muitos livros tenho lido, muitos mais se têm escrito, muito mito se tem reforçado e derrubado, até diluir-se, hoje diria mais do que nunca, numa nebulosa de regras que muita gente esquece nada mais aprender.
Criticar a LNL é já um filme de culto, um tema sabido, uma obviedade digna de discurso político. Criticar quem a elaborou, desde uma ideia de imposição e não de consenso com os setores universitários e populares que propunham, e ainda propõem, a visão da língua comum galego-portuguesa, portuguesa e galega, é uma outra obviedade. É ainda mais óbvio e doloroso ver, sentir e sofrer dia após dia como nem a lei nem os seus elaboradores tiveram qualquer sucesso social, salvo os aparentados com narcotraficantes, mas essa é outra história.
Ver, sentir e sofrer como o imenso trabalho do professorado galego cai borda abaixo, vai pelo ralo, enfia no esgoto e acaba na merda dia sim e dia também, porque não há uma unanimidade política para apoiar uma língua a sério, para construir um país a sério. Ver, sentir e sofrer os paus dados na língua de tod@s por apolíneos funcionários, sacerdotes e fregueses na ara da “norma oficial”. Nem a norma chega com tanto pau.
Falar, falar. A urgência é falar, dizem. Uma língua morre quando não se fala. Dizem. Fala! Fala! Isso sim, nem queiras começar a escrever porque aí vais ter de fazer a escolha. Pílula azul, pílula vermelha. Aí, calas. Aí cala toda a classe política, tão paroleira ela. Aí calam as senhoras e os senhoros com responsabilidades académicas. Saem as estatísticas. Boh, que são as estatísticas? Saem os “ghueves” e as “calles”. É a língua do povo! Saímos às ruas e vemos a realidade. Ainda nos restam as pistas e as corredoiras, diz uma amiga. E quando nos faltaram?
Nunca. Sempre estiveram aí. Sobretudo, as corredoiras. Um dia, vai já para nove anos escrevi:
Nas nossas mãos está a chave para sair da caverna, deixar de contemplar sombras e começar a utilizar com liberdade a nossa língua. Pois ainda não foi escrita a última palavra.
Voltaria a escrever cada uma das letras daquele artigo. Hoje, como dantes, continuei a gavear corredoiras. De facto, sou agora mais esperta e levo o equipamento em ótimas condições. Não me assusta o que virá em menos de quarenta dias. Hoje só escrevi para dizer que vão quarenta anos de odisseia LNL e os ilustres Eleneleiros continuam sem sair de casa.