Infernos e inferninhos

Partilhar

Mapa de Messia co Rego dos Inferninhos
Mapa de Messia co Rego dos Inferninhos

Na comarca de Ordes existem, quando menos, dous lugares de satánicos nomes: o Penedo do Inferninho[1], em Gorgulhos, e o Rego dos Inferninhos[2], que baixa de Olas cara à Berxa. Além disso, Cabeza Quiles sinala que num “emprazamento claramente inferior ou baixo atópase unha aldea chamada O Inferniño situada na parroquia de Cabaleiros”[3], que nom conseguim encontrar nem no Nomenclátor nem nos mapas do Instituto Geográfico Nacional. O significado dos dous primeiros microtopónimos metafóricos, identificando um lugar tam baixo ou profundo que parece que “vai dar ao inferno” e, no caso do rego, onde a água seguramente forme muitas borbulhas, como se ferve-se. Além desta aceçom, Cabeza Quiles indica que noutras ocasions “o topónimo Inferniño pode facer alusión ós antigos barrios medievais dedicados á prostitución. Tal é o caso, segundo […] Isaac Díaz Pardo, das rúas santiaguesas que forman cruz na cabeceira da rúa das Hortas, que recibían o nome de Inferniños polas casas de prostitución que había nelas”[4].

Precisamente nessa zona tinha a sua taberna-centro social Eduardo Puente Carracedo, mais conhecido como o ‘Nécoras’, alcunha que lhe vinha de ter perdido vários dedos dumha mao. O Nécoras, anarquista incombustível, destacou-se nas luitas sindicais da Patagónia rebelde e no Río Gallegos, o que lhe custou o encarceramento e a expulsom de América. Ao seu regresso interviu na proclamaçom da República Galega em 27 de junho de 1931, dirigindo-se aos trabalhadores do caminho-de-ferro em termos mui contundentes, e pedindo umha “Galiza soviética”.

Desenho de Eduardo Puente Carracedo, feito por Camilo Díaz Baliño
Desenho de Eduardo Puente Carracedo, feito por Camilo Díaz Baliño

A sua taberna, chamada precisamente El Infierno, era umha sorte de contra-Catedral, pois situada diante dela, desafiava-a quotidianamente. Numa das suas paredes havia um enorme mural em que se representavam umha manada de cregos comendo como porcos de pé. O feroz anticlericalismo do Nécoras parece ser que lhe vinha do drama que viveu umha familiar sua, prenhada por um cura e facelida ao lhe praticarem o aborto. Com o golpe fascista, o Nécoras é encarcerado na prisom de Santiago, nos baixos do Paço de Rajói, coincidindo ali com Manuel Ponte Pedreira e o resto dos presos políticos ordenses, de cujo dia-a-dia deixou constáncia Xerardo Díaz Fernández e o lapis de Camilio Díaz. Há duas versons sobre o assassinato do taberneiro do Inferninho: para uns foi assassinado às portas da sua casa e, para outros, logrou fugir até ao túnel da Ponte da Rocha, sendo finalmente matado ali e o seu corpo exibido, como o dum lobo, num camiom polas ruas de Compostela.

NOTAS:

[1] Folha 70-III dos mapas do IGN.

[2] Folha 70-II dos mapas do IGN.

[3] Fernando Cabeza Quiles, Os nomes da terra, Toxosoutos, 2000, p. 81.

[4] Ibidem.

,