Gente de Rivendel

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Lugar de Rial, em Oroso
Lugar de Rial, em Oroso

Rial é o nome de umha aldeia de Chaiám e outra de Tras-monte; O Rial, com artigo, de outras duas, em Traço e Castelo; e os Riás, em plural, de um outro lugar da freguesia de Oroso. Ainda que a interpretaçom popular encontra nestes nomes de lugar ecos monárquicos, nada tenhem a ver com a palabra real ‘relativo ao rei’, senom com o adjetivo do latim rivalis ‘relacionado com o rio’ e o substantivo rivalis ‘aqueles que moram onde o rio’, ambas as duas palavras procedentes de rivus (ou riu, em latim vulgar), que formárom em todas as línguas románicas descendentes com o significado de ‘rio’, conforme explicam Meyer-Lübke[1]. Nom admira que, sendo a Galiza o “País dos Mil Rios”, abundem tanto este tipo de topónimos para denominarem as aldeias e lugares de marcado caráter fluvial. Ainda, na documentaçom medieval portuguesa, consta a palabra ‘rial’ como nome comum, num texto de 1258: “de rial in rial”[2].

De qualquer umha destas quatro aldeias pudêrom derivar os frequentíssimos apelidos Rial que há na comarca de Ordes, ainda que a entidade próxima mais grande, e que polo tanto pudo original mais apelidos, deveu ser a freguesia de Rial, no concelho de Vale do Dubra, outrora Bujám, e pertencente à comarca de Ordes até passar à de Santiago de Compostela. Xesús Antelo García foi o mestre galeguista da escola desta paróquia, que na II República destacou polo seu forte associativismo e sentido da coletividade, estando fortemente auto-organizada, tanto no Partido Galeguista como nas sociedades agrárias. No transcurso do genocídio que seguiu ao 1936, o mestre de Rial pudo salvar a vida, mas foi depurado polos franquistas[3]. Herminio Rial é um importante atleta ordense que atingiu a elite internacional nas carreiras em cadeiras de rodas.

Outro apelido mui relacionado com a semántica de Rial é o de ‘do Rio’, quase sempre castelhanizado como ‘del Río’, mui próximo ao também abundante ‘Ríos’, e que é omnipresente na histórica política do concelho de Ordes antes de 1936. Estas som algumhas das gentes do Rio que a Galiza nom esquece:

Manuel del Río Botana. Imagem de Fina Pazos
Manuel del Río Botana. Imagem de Fina Pazos

Manuel del Río Botana, labrego de Ordes fiel à República, foi paradoxalmente julgado polos franquistas em Compostela por “traiçom”, no juízo aos “Onze de Ordes”, com o resultado de condena a prisom por doze anos e um dia, só evitando o fusilamento por ser menor de idade entom (nascera no ano de 1918). No seu periplo carcerário passou pola prisom provincial da Corunha e pola de Vitória-Gasteiz, saindo finalmente em liberdade condicional no 20 de julho de 1941 do cárcere de Alcalá de Henares. Daí foi destinado a um dos Batalhons Disciplinários do Soldados Trabalhadores em Bilbau, sendo submetido a castigos políticos, trabalhos forçosos e demais humilhaçons que nom pudêrom dobregá-lo nas suas firmes conviçons democráticas e antifascistas. Ao regressar a Ordes, a sua militáncia política clandestina centrará-se na colaboraçom com a IV Agrupaçom do Exército Guerrilheiro da Galiza liderada por Manuel Ponte Pedreira, até que no dia de Sam Cidre de 1945, a guarda civil cerca a Botana e a três guerrilheiros na casa de Juan Penedo em Queis (Montaos), sendo assassinado a uns poucos centos de metros quando intentava fugir em direçom a unha canteira. A iniciativa do Obradoiro da História, a sua tumba no cemitério de Ordes conta agora com umha placa com um verso de Lorenzo Varela:20180611_190044 (1)In memoriam

MANUEL DEL RÍO BOTANA

1918-1945

Permanece na memoria da súa familia

“Non chegan a ti as balas dende que pomba es” L.V.

A.C.Obradoiro da Historia. 2017[4]

À sua morte, Manuel Ponte Pedreira, em homenagem, deu o nome do seu companheiro ao Destacamento Manuel Botana del Río.

Pedro del Río Caramelo era vizinho da Avenida Alfonso Senra, ferreiro e militante da Izquierda Republicana durante a II República, partido polo que foi nomeado Primeiro Tenente de Alcalde do governo municipal constituído pola Frente Popular de Ordes no 7 de março de 1936[5]. Aos 42 anos foi julgado polo franquismo e condenado a cadeia perpétua, saindo em liberdade condicional em 1941.

Jesús del Río Iglesias, ‘Chucho da Corveira’, tocou a tuba na Banda de Música de Ordes durante a II República. [6]

Manuel del Río Iglesias, ‘Lelo da Corveira’, tocava o tambor na mesma agrupaçom que o seu irmao.

Ramón del Río López era um labrego galeguista, também de Ordes, encarcerado polos franquistas. [7]

Manuel del Río Mandayo era militante socialista de Ordes, primeiro das Juventudes Socialistas e depois do PSOE, vilmente ‘passeado’ polos fascistas locais no 5 de outubro de 1936. Manuel Astray Rivas contou com detalhe este crime em Síndrome del 36[8].

Manuel del Río Menéndez, natural de Ordes, participou do intento revolucionário dos anarquistas exilados na França de derrocar a ditadura de Primo de Ribera, episódio conhecido como “os sucessos de Bera de Bidasoa”. Del Río atravessou os Pirineus na madrugada de 6 para 7 de novembro de 1924 portando um rifle velho e pasquins, sendo detido após um enfrontamento com a Guarda Civil nos bosques da zona. Julgado por um tribunal militar, Del Río resultou condenado a 12 anos de prisom, saindo livre em 1931 pola amnistia da República. Ramón Vilar Landeira recordou-nos a história deste ordense após ler o romance do catalám Pablo García Martín El anarquista que se llamaba como yo[9], e o historiador Eliseo Fernández, que acedeu a parte do sumário depositado no Arquivo Militar de Ferrol, conta que Manuel del Río Menéndez, que trabalhava de camareiro em Paris, nascera em Ordes em 14 de agosto de 1900, no dia do Sam Roque, e que era filho de solteira de Rosa del Río Recouso. Segundo as investigaçons de Eliseo Fernández, Del Río fora “amnistiado na altura de 1930, figurando no sumário que tinha de presentar-se na caixa de recrutas de Betanços”. Um outro galego dos sucessos de Bera foi Luis Naveira, dum lugar indeterminado da província da Corunha, mas que bem poderia ser das nosa comarca, por ser um apelido relacionado com a freguesia dubresa do mesmo nome e que levava, por exemplo, a mulher dum outro dos nossos ‘do Río’, Pilar Naveira Golán, casada com Manuel del Río Mandayo e falecida aos 99 anos em Ordes[10].

María del Río Mandayo foi rapada à força e obrigada polos fascistas a desfilar pola Avenida Alfonso Senra dando berros de “Arriba España”.

José del Río Pampín, barbeiro de Ordes e líder local do Partido Galeguista, foi assassinado polo franquismo no 8 de fevereiro de 1937 quando só tinha 23 anos.

Manuel del Río Pampín, irmá de José, trabalhava de carteiro e era o dirigente local do Partido Socialista, sendo assassinado no mesmo dia que o seu irmao em Boisaca.

Pedro del Río Pampín, ‘Pedro do Carteiro’, tocava os pratos na Banda de Música de Ordes da República.

Bernardo del Río Parada dirigiu a Banda de Música de Ordes em 1933.

Ramón del Río Vázquez, vizinho da entom chamada Avenida Saturnino Aller, foi concelheiro do Partigo Galeguista no citado governo municipal de Ordes da Frente Popular[11].

Manuel del Río Veiras foi o tesoureiro da Sociedad La Unión Campesina de las Parroquias de Parada y Lesta durante os anos da II República[12].

Ramón Regos del Río, ferreiro de Ordes condenado polos franquistas a cadeia perpétua quando tinha 21 anos.

Manuel Regos Ríos, também ferreiro ordense, condenado igualmente a cadeia perpétua aos 25 anos que afinal obtivo a liberdade condicional em 1941.

Juan Ríos García ‘Rada’, vizinho do Casal (na sua casa trabalhou de jornaleiro Manuel Lois García), membro da Sociedad de Agricultores de Órdenes, concelheiro pola Izquierda Republicana do governo municipal da Frente Popular de Ordes constituído no 7 de março de 1936, foi condenado a cadeia perpétua, saindo em condicional em 1941. Conta-se que levou um desgosto tremendo ao assistir ao primeiro mitim do Partido Comunista depois do Franquismo, realizaado no campo de Vista Alegre, ao ver em que feira eleitoraleira ficaram reduzidos os seus ideais por umha nova caste de burocratas.

José Ríos Gómez, ‘Ríos da Pontraga’, vizinho de Ordes nado na Pontraga, foi enlace de resistência, às ordens de Manuel Ponte, atividade antifascista pola que foi detido em agosto de 1947, sendo brutalmente torturado pola Guarda Civil de Ordes, que lhe rebentárom as plantas dos pés, lhe arrincárom as unhas e o malhárom na cara e por todo o tórax. Nom resistindo mais, parece que se suicidou n opoço que havia no centro da casa quartel, embora outras versons falam de um suicídio simulado. É novamente Astray Rivas quem escreveu sobre este acontecimento[13].

Jesús Ríos Mosquera, vizinho de Ordes processado a julgado em Compostela polos golpistas por “rebeliom”.

Antonio Ríos del Río, labrego de Parada processado polos golpistas por “auxílio à rebeliom” quando tinha 29 anos.

[1] Xosé Luís Méndez Ferrín, Consultorio dos Nomes e dos Apelidos Galegos, Vigo, Xerais, p. 79.

[2] Almeida, 1999, p. 505.

[3] Xosé Ramón Ermida Meilán, Mortos por amor á Terra. A represión sobre o nacionalismo galego (1936-1950), Santiago de Compostela, Sermos Galiza, 2016, p. 193.

[4] “‘Obradoiro da História’ rescata a figura de Manuel del Río Botana”, Crónicas nº 47, novembro de 2017, p. 15.

[5] Pazos Gómez, Achegamento à Segunda República en Ordes. Documentos, Ordes, A.C. obradoiro da História, 2001, p. 16.

[6] Todas as informaçons relacionadas com a Banda de Ordes venhem do tríptico de Manuel Pazos Gómez, História da Banda de Ordes (1931-1934), Ordes, A.C.Obradoiro da Hitória, 1998.

[7] Ermida Meilán, op.cit., p. 213.

[8] “Igniminiosa muerte de Manuel del Río Mandayo”, em: Manuel Astray Rivas, Síndrome del 36. La IV Agrupación del Ejército Guerrillero de Galicia, Sada, Ediciós do Castro, 1992, pp. 91-94.

[9] Ramón Vilar, “O mozo que quixo derrocar a Primo de Rivera”, La Voz de Galicia, 31 de janeiro de 2016.

[10] Comunicaçom pessoal.

[11] Pazos Gómez, op. cit., p. 16.

[12] Documento “Relación de sociedades de carácter obrero constituídas en esta provincia con arreglo a la ley de 8 de abril de 1932”, amavelmente facilitado por Eliseo Fernández.

[13] Manuel Astray Rivas, op. cit., pp. 199-202.

 

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