Genealogia do Vilar

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Letreiro Vilar

O erudito eumês Millán González-Prado estudou com detalhe a evoluçom semántica da palabra galega “vilar”, generadora de muitos topónimos no Reino medieval da Galiza[1]. Na comarca de Ordes achamos lugares chamados Vilar –sem artigo-, nas freguesias de Cerzeda, Mercurim, Messia, Castenda da Torre e Campo, e O Vilar –com o artigo- nas de Ordes, Vila Maior, Céltigos, Frades, Gafói, Ledoira, Boedo, Cabrui, Bardaos, Cavaleiros, Vila de Abade e Berreio. Ainda, há um Vilares em Senra, um Os Vilares em Meirama e dous O Vilar Velho, um em Queijas e outro em Rodis. Em total, 21 topónimos derivados de “vilar”, deixando à parte, de momento, outros vilares com “apelido”.

Mapa com varios Vilar em Frades
Mapa com varios Vilar em Frades

Explica Millán que a origem desta voz é o adjetivo latino villaris, -e, com o significado de “o próprio ou pertencente a umha villa”, é dizer, a umha villa romana:

“Con la presencia de Roma, se había pasado del tipo de economía comunal y cuasi colectiva de la gente de los castros, de predominante carácter pecuario y hortícola, al de la fijación en los mejores terrenos de la Hispania del NO, de villae rusticae de ciudadanos u hombres libres privilegiados, que organizaban y llevaban a efecto la explotación intensiva de campos, bosques, prados o, en la costa, de las riquezas del mar […]”.

Nessa altura os villares eram as instalaçons anexas às villae, onde os senhores instalavam as familiae servorem que trabalhavam para eles. De esse sentido primigénio, os vilares fôrom experimentando importantes mudanças políticas e semánticas na Idade Média. Com a progressiva emancipaçom dos servos, os vilares pouco a pouco foram-se distanciando e mesmo independizando das vilas, passando a serem os lugares onde viviam pequenos proprietários livres ou colonos dos grandes senhorios. Diz Millán que:

“Esto explica que la voz vilar haya conservado en gallego, hasta hace muy pocas generaciones, valor de nombre común. Contrapuesto, incluso, al de vila, como expresador éste del antiguo sentido de “centro de que dependían los villares” y luego del de “ciudad, pueblo grande”, que las sustituyó en tal condición. Esa conservación ia de acuerdo con la gran expansión y perduración en Galciia de la sociedad agraria tradicional. Es también la razón de que esté tan extendido VILAR como topónimo. Por el contrario, villar es en castellano un raro arcaísmo y la villaje un galicismo tardío”.

Quanto ao Vilar de Mercurim, do que ainda se apreza hoje o seu claro feitio medieval, só conta com umha casa, a de José de Vilar, onde hoje o seu neto Abel mantém umha granja de vacum. O finado Pepe de Vilar tem dito bem vezes que na sua casa existira antigamente umha torre, talvez com umha factura primitiva como a da Casa da Maquia de Vila Maior. Também nos contava Pepe aos rapazes que antiquíssimos documentos guardados de tempo velho na sua morada, que falavam de tesouros e outras cousas fantásticas. A minha avoa Valentina da Vitória lembra que as grandes chousas de Vilar “fôrom do Batanero de Santiago”[2], proprietário também da sua casa natal de Perra, da da Manecha de Zampanho, duas de Guntim e três em Tras-do-Rio, mostra de que a meados do século XX muitos lugares de Mercurim ainda luitavam por sairem do feudalismo e cumprir com essa bela e justa consigna de “a Terra para quem a trabalha”.

Também lembra Valentina que nos primeiros momentos do Golpe de Estado de 1936 Antonio Concheiro estivera agochado em Vilar, é de entender que durante os poucos dias que as milícias da Frente Popular pudêrom manter a legalidade republicana a salvo dos fascistas. Também é de supor que se Concheiro escolheu Vilar como refúgio deveu ser porque a comadroa que trabalhava no seu sanatório, Pilara, mulher mui querida em Mercurim, era de Vilar, tia de Pepe e irmá de Eduardo da Maquia.

Ainda, um outro episódio histórico tivo lugar em Vilar no período da “longa guerra galega” que se prolongou até a definitiva derrota da resistência em 1952: o ajustiçamento dum dos mais conhecidos carrascos do franquismo em Ordes quando ia caminho da feira da Adina. Valentina recorda-o assim:

“O Martis de Lesta matárom-no porque ele matou homens. Ele andava com a zamarra dum que matara. Vindo um sábado para a feira da Adina, estavam os filhos do da zamarra na fraga de Vilar de Mercurim; tirárom-lhe tiros e matárom-no. Andava a presumir com a zamarra e…”

Manuel Pazos, por sua parte, explica a partir de outros testemunhos orais que:

“Foron dous irmáns fillos dunha vítima de Martís e da súa camarilla os que decidiron matalo despois de velo por Ordes vestindo a zamarra e o calzado do seu pai asasinado (era habitual que os paseadores se quedasen coas prendas das súas vítimas: reloxos, botas, chaquetas…). Seica nos tendedeiros dalgunha casa de Ordes víanse colgadas prendas dos paseados.

Os dous fillos vingadores chegaron preto de Ordes en tren e sabían o itinerario da súa vítima. Ao realizar a “xusta vinganza” volveron a coller o tren até Verdía (proximidades de Santiago de Compostela). Parece que pasaron a noite nesta aldea para seguir a viaxe ao día seguinte cara a Vigo ou Madrid.

O pai destes dous vingadores fora avisado polo garda civil José Ferreiro del Río, de Ordes, pero destinado no cuartel de Sigüeiro (Oroso) para que fuxise da súa casa, pois o seu nome estaba en boca dos paseadores. Mais non fixo caso argumentando que non tiña nada que temer, que non fixera nada malo. O seu argumento custoulle a vida, pois sufriu paseo de inmediato”[3].

Nom foi Pilara a única mulher afouta que deu Vila. Para além de Pilara, Vilar deu umha outra mulher brava: Cristina, vocalista de rock em Sensacha e cantante profissional de orquestra. Vivam as mulheres de Vilar!

NOTAS

[1] Isidoro Millán González-Prado, Toponimia del Concejo de Pontedeume y Cartas Reales de su Pueblo y Alfoz, Corunha, Diputación Provincial da Coruña, 1987, pp. 165-166.

[2] Este terratenente deve ser o mesmo Manuel Batanero, engenheiro agrónomo, que cita Araceli Freire (En defensa de lo suyo, Propiedad forestal y conflictividad social durante el franquismo: los montes vecinales de Cerceda (A Coruña), Santiago de Compostela, Universidade de Santiago de Compostela, 2011, p. 78) como único particular que tinha parte do monte comunal dos Quintos, em Gesteda.

[3] Manuel Pazos Gómez, “Atila en Ordes. Listaxe de vitimarios”, Xosé Ramón Ermida Meilán et al., (coords.), Os nomes do terror, Galiza 1936: os verdugos que nunca existiron, Santiago de Compostela, Sermos Galiza, 2017, pp. 135-157, a cita é das p. 153-154.

 

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