Galiza votou! Pobre Galiza

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Lembramos os versos de Rosalia (Cantares Gallegos): Probe Galicia, non debes/ chamarte nunca española,/ que España de ti se olvida/ cando eres, ¡ai!, tan hermosa

Mas desta vez voltou votar polos mesmos de sempre. Somente houve 4 anos , desde o 2005 até 2009 em que Galiza teve um governo de esquerdas em coligação com o nacionalismo. Agora albiscava-se uma situação nova, diferente e, para muitas de nós, aliciante. Li no facebook a Branca Villares refletindo, a passeio com sua família polo vale do Neira. Imaginava uma Galiza em galego mãe que não abandone seus filhos viçosa e acolhedora. Reproduzo cá o seu texto que achei profundo e formoso:

Pois voltamos de votar dando un paseo polos camiños de Neira de Rei, falando de estudar mates en galego, pediatra do concello, unha radio con programas musicais que nos gusten, mais buses e trenes, menos eucaliptos e mais ovellas…o típico. Os meus fillos queren un futuro…en galego e aquí. E xa. A ver se mañá poden emocionarse cunha muller presidenta.

Mas, infelizmente, não pode ser. Adeus a atenção primária, tão necessária para garantir a vida no campo, e fixar a povoação nele. Imprescindível se aspiramos a um futuro respeitoso com a ecologia. Olá as listas de aguarda no SERGAS, inumanas, à desatenção aos maiores, aos montes cheios de eucaliptos e de ventoinhas, a pagar a fatura da luz mais cara do estado espanhol. Adeus ao saneamento das rias, ameaçadas pola contaminação e a má gestão do litoral ( minaria, esgotos, vertidos etc). Adeus a termos uns rios saudáveis, recuperando a vida que tiveram antanho. Olá a praguizidas e herbicidas. Um olá bem grande a envenenar-nos coletivamente.

Olá a continuar com o desprezo ao ambiente e ao território, ignorando que a vida nele se sustenta. Como se os seres humanos não fossemos parte da vida do Planeta. Uma dor imensa percorre meu corpo. Dor pelas carvalheiras cortadas a fio para serem substituídas por massas de eucalitais. Dor polas águas cada vez mais poluídas, menos saudáveis. Dor polos montes de lixo que se acumulam nas Somoças e por todo o País. Dor polo desprezo a nossa cultura, que criou uma paisagem ecológica de minifúndio, de valados de pedra seca de sebes arborizadas, de diversidade. Dor polos animais chamados selvagens, lobos, raposos( os poucos que ficam) . Olá as batidas de caça em que os “machos” da espécie humana se juntam para apontar a todo o que se move e se recrear na morte que geraram. Ola outra vez ao branco e preto com algo de cinzento. Adeus a esperança de escutar nossas magnificas musicas nos médios de comunicação públicos que deveriam defender nossa arte. Este país que está cheio de criatividade. Somos um País de artistas ( Xurxo Souto) desconhecidos para a maioria da população. Bem-vindas ao abandono da nossa fala, formosa, rica, musical, antiga e universal. Continuidade do Decreto do Bilinguismo de Feijoo. Olá a pobreza que faz que os nossos melhores jovens tenham que ire embora para desenvolverem todo o potencial cultural e científico que cá ganharam.

Em fim, mais do mesmo. E estou triste e cansada. Creio neste País. Na sua riqueza cultural, industrial, agrícola, florestal, gandeira. Mas rejeito que toda essa riqueza tenha que ir para fora para manter o boato de Madrid e as sedes dos partidos centralistas. Alimento de bancos e multinacionais. Quero que nos deixem viver do nosso e que possam se servir do que nos sobre pagando por isso. Que as riquezas que cá se gerem fiquem cá, para que as galegas e os galegos tenham orgulho da sua Terra, queiram e possam ficarem nela desenvolvendo cá as habilidades que as nossas Universidades e nosso sistema educativo lhes forneceu. Quero ver uma mulher presidenta. Na Galiza Matriarcal. Quero Galiza Mãe e Senhora. O Esforço foi imenso para que uma força nacionalista como o Bloque conseguisse 25 deputadas. Mas as redes clientelares, o medo, o auto-ódio ou a triste rotina, ganharam a partida do poder. Nós seguiremos por aqui, levamos séculos aquí ( Como diz a canção da Quenlla). Na defesa do Território, na defesa da Vida diversa criativa e maravilhosa. Na defesa das Rias e dos rios. Na defesa dum mundo sustentável, amável e acolhedor. Onde a riqueza não se acumule nos bancos como agora acontece, nem nas macro-granjas as agro industrias que geram esgotos e lixos incapazes de serem incorporados ao ambiente, onde a vida dos rios volte e as águas não estejam poluídas de agro-tóxicos, daninhos para a saúde nossa e dos ecossistemas, nem de fábricas que consumem litros e litros de água sem deixarem nenhuma riqueza para Galiza como a projetada Altri para a Ulhoa. Como os campos eólicos que destroçam os montes.

Deitar sobre as cousas uma visão ecológica ajuda a ver o conjunto. E faz com que as análises da realidade sejam feitas tomando em conta a complexidade e a relação multi-fatorial dos processos quer biológicos quer sociais. Tudo está imbricado, inter-relacionado. Se não temos um centro de saúde perto de nós, por exemplo, a farmácia fecha, os habitantes partem para outros lugares onde seus filhos posam ter todos os serviços, as agras abandonam-se e os campos ficam ermos. Os montes serão plantados de eucaliptos porque quem não mora no campo já não se interessa polo futuro, as águas estarão empobrecidas e serão gravemente afetadas. Todo está relacionado. Um governo que não atenda os serviços públicos e abandone a seus cidadãos mais vulneráveis estará afetando ao ambiente de jeito negativo.

Por isso eu queria uma mudança de Governo na Galiza. Para travar a desfeita ecológica atual que é o mesmo que defender a vida. Seguirei apoiando ao Bloque porque é galego. Não se deve a nenhuma força de fora da Galiza. Ser galega é sua razão de ser. E porque não defende o capitalismo que é o grande inimigo do ambiente e da Terra. E isso é grave neste momento crítico de desarranjo ambiental. Força, Resistência, Autossuficiência e Amor pola Terra.