Galegos até a morte

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“Ditoso mês que empeça com Todos os Santos e remata com são André”, afirma um velho dito popular. Porque a morte na cultura galega não é um final trágico, mas um “passamento”; não é o fim definitivo, mas o caminho cara ao além. O galego sabe que, como se cantava nos velhos ritos funerários: “Vita mutatur, non tolitur”; a vida cambia, mas não desaparece. Esses ritos são as mais importantes celebrações na cultura galega; como queda de manifesto na importância pessoal, familiar e social que se lhe daõ, sobre tudo, no mundo rural galego. Estão na cerna da nossa cultura no nosso xeito de ser, pelo íntimo vencelho entre o mundo presente e o além. Até tal ponto isto é importante, que se a Igreja deixara de fazer os ritos funerários, penso que desapareceria a meirande parte da expressão religiosa que ainda queda na Galiza.

Más, ainda que o galego é a língua própria deste povo, os ritos de passamento (enterros, funerais e cabodanos) e a maioria das celebrações religiosas que fai a Igreja católica em Galiza não são na língua galega. E menos ainda as das outras confissões cristãs e outras religiões que vierem de fora, e fizerem ainda menos esforço de inculturação na língua e na cultura do país, ainda levando décadas nele.

Comentava eu isto o passado 15 de Outubro em Compostela nos XXVI Encontros para a Normalización Lingüística, do Conselho da Cultura Galega. “Hoxe, a presenza da lingua galega despois da morte é menor que na vida –diziam na convocatoria-… As vantaxes de empregar a lingua galega nos actos funerarios abranguen tanto aspectos emotivos e culturais como empresariais e de modernidade, para que as persoas que viven en galego podam ser lembradas en galego”: visibiliza a língua como factor da galeguidade, ajuda ás famílias a sentir a proximidade num momento de fragilidade e permite escolher a língua que melhor representa aos familiares. “A língua galega sempre é un valor engadido –continuavam-, que permite modernizar e ampliar a oferta nun territorio no que é a maioritaria dos falantes”: nas funerárias, necrológicas, lápidas, coroas florais, recordatórios, actos religiosos, etc.

Ademais da ponencia marco do encontro “Reflexão sobre a significação da língua escolhida para os actos funerários”, que di eu com o benquerido amigo Manuel Regal, e que se enriqueceu com a aportação de David Canto “Panorâmica do uso da língua nos rituais funerários. Percentagens e identificação dos lugares de referencia positiva”, houve duas mesas redondas: “Presença do galego nos actos funerários das confissões religiosas maioritárias”, com a participação da diocese de Compostela, o Conselho Evangélico de Galiza e as Comunidades Islâmicas, coordenada por Bernardo Penabade. E outra sobre os serviços funerários, “Análise da demanda dos serviços em galego, dos recursos das empresas e incidência das iniciativas normalizadoras do sector”, no que salientou a proposta do “Dia da Restauração de Memoria Histórica” da premiada Fundação de Funcionários pela Normalização Linguística e a campanha “Em galego agora e sempre”.

A Igreja galega falou o galego até a chegada da Idade Moderna; deixa de fazelo no s. XV quando se impõe a política imperial de Castela; desde então, seguia-se a falar por parte do povo, mas não assim da oficialidade, com autoridades impostas de fora.
Os ritos funerários forem durante séculos em latim, com a excepção de algumas orações, as prédicas do clero e a catequese, na que se impuxo o castelão. Mas quando em 1965 o Concilio Vaticano II pide o câmbio da liturgia nas línguas vernáculas, a hierarquia galega decidiu que este câmbio não deveria ser cara ao galego, mas cara ao castelão. Quando finalmente se aprova a utilização do galego na liturgia, já é tarde, a inércia e o desleixo levarem a que o câmbio cara ao galego fora case impossível. Apesar dos esforços de Encrucillada e Irimia, da Pastoral do bispo Araújo “A fe cristiá ante a cuestión da lingua galega” (1975) e do Concilio Pastoral de Galiza (1974-1979), que falou da “geralizaçao da liturgia em galego” (Proposicións 3).
Mas há vinta e cinco anos levou-se adiante o projecto mais rico para normalizar o galego nos ritos funerários: “Galegos de por vida” ou “Galegos até a morte”. Formava parte do “Biénio Irmandinho” (1999-2000), nascido na Associação Irimia. Convocavam uma serie de grupos e comunidades cristãs galegas de todo o país. Escreveram para ele formosos textos Ferro Ruibal, García Bodaño, Manuel María, Neira Vilas, Bernardino Graña, Lois Diéguez, Pilar García Negro, Marica Campo, Francisco Carballo, Paco Martin, Rábade Paredes, Helena Villar Janeiro, Xosé González, etc.
“Galegos de por vida” foi o feito do Biénio que acadou mais eco na prensa e na radio; foi assinado por galegos das mais diversas idades, professões e instâncias sociais, xente moi conhecida de dentro e de fora da Igreja católica. Mas, começou o novo século e pouco cambio se experimentou nos ritos funerários em Galiza. Mesmo, esses compromissos, apesar de estar assinados ante notário, esquecéronse em grande parte dos casos.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]