El Sindicato del Espectáculo

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Sindicato Nacional del Espectáculo (tarjeta profesional)Ainda nunca descrevemos, e provavelmente não o façamos nunca, o processo surrealista e as cenas hilariantes que tivemos que padecer na Universidade de Santiago de Compostela por incorrer no grave pecado de ter redigido a nossa tese de doutoramento na versão mais internacional da nossa língua. E isso que, para além dum resumo em inglês, incluímos anexa a tradução íntegra para o castelhano. Alguns membros do júri até louvaram o esforço, particularmente o catalão e o galês. As recriminações vieram, como não poderia ser doutra maneira, do único galego. Resumidamente, ele disse que bueno, que , que tal, que muy bien, mas que não estava bem rachar o consenso e que, se havia umas normas oficiais, deveríamos reger-nos todos por essas normas. Respondemos que, visto tratar-se dum documento científico, tínhamos achado melhor escolher o código que, dentro do nosso sistema linguístico, fosse o mais ecuménico.

A recente denúncia do escritor Vítor Vaqueiro, o último numa longa e sempre crescente lista de represaliados ortográficos, fez-nos lembrar dum outro caso recente de censura, muito mais banal, mas que ilustra de maneira eloquente a arrogância dos inquisidores e o opróbrio que fazem cair sobre eles quando assim agem.

Em 2012 sai do prelo uma edição quadrilingue (francês, galego, espanhol, inglês) do poemário Planh (Anne-Marie Cazalis, 1944). Trata-se da primeira e única reedição, em qualquer língua, dos poemas que mereceram o Paul Valéry um ano antes da, tão magnífica quanto limitada, edição artesanal de Odette Lieuter num Paris ainda ocupado. Uma alfaia.

A editora duma das mais prestigiosas revistas internacionais de tradução literária, e professora numa universidade americana, sugeriu no fio duma conversa a possibilidade de incluir uma resenha sobre esta reedição quadrilingue, que estava quase pronta para sair do prelo, num número monográfico dedicado à tradução literária na Galiza:

One thing I can suggest, though, if the guest editors are amenable (and I suspect they would be), is that your book be reviewed in a special Galician issue scheduled for 2014. In the context of a review, examples of poems and translations can also appear. I can give you an address in Spain to which you might send a review copy, if this is of interest to you.

Como vemos, a professora, pouco douta no proverbial leirismo galego, não tinha muitas dúvidas acerca de se, visto o evidente interesse e qualidade da obra, o artigo seria aceite na monografia. Porém, esta foi a resposta que recebeu do editor ou editora convidada (copiamos e colamos):

I´ve had a look at the poems. The problem with the translation is that it is in Galego-Portugues, which is different from both Galician and Portuguese. It is not an official language in any of the countries. It sounds more Portuguese than Galician. The Galician Academy objects to it very much, as do the intellectuals who try to make Galician the “normal” spoken language in Galicia. Another problem is that the Portuguese generally consider it “bad Portuguese” and object even more. The poems and the translations are fine, but the target language is a minoritized language within another minority language. I think it would be confusing for the readers of the Galegopoets issue to find a review of poems in galego-portugues in it.  So I´d rather not have it.

Finalmente, passado o rubor da vergonha alheia inicial,  a censura dos herdeiros do Sindicato del Espectáculo jogou ao nosso favor, já que a resenha foi finalmente publicada num número regular da revista (o de Outono de 2013), que terá, por razões óbvias, um índice de impacto muito superior ao duma monografia galega que ainda está por sair do prelo (se finalmente sai, o qual semelha não estar claro ao escrever estas linhas).

Mas há uma cousa muito pior do que a censura em si própria, do que as navalhadas parapeitadas no anonimato para defender com vileza a leira cedida graciosamente pelo Generalísimo Atado y Bien Atado Franco pouco antes de morrer, do que as flagrantes falácias, do que a deslealdade à causa galeguista, do que a supremacista arrogância que faria o seu crioulo galenhol intrinsecamente superior ao nosso crioulo portugalego. Há uma cousa muito pior, dizíamos, e é o desprestígio que este tipo de ridículas conspirações e censuras políticas trazem para as instituições académicas galegas que os inquisidores representam.