Da Silva para o mundo

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letreiro-a-silva

De Rodis a Luanda, de Lisboa ao Rio de Janeiro, o apelido de origem toponímico Silva é o mais usado de toda a lusofonia (é o primeiro em Portugal e no Brasil, por diante dos também frequentíssimos Santos e Pereira) e o mais emblemático da nossa língua, ao jeito de Martin na francofonia, Smith no mundo anglo-saxom ou Devi no subcontinente indiano. Só no Brasil som mais de vinte milhons de pessoas as assim apelidadas.

Qual terá sido o principal núcleo irradiador deste apelido? Eis umha boa reivindicaçom para a gente da Silva de Rodis, ainda que na freguesia de Ordes também houvo um lugar, hoje desaparecido, que se chamava igual e que aparece mencionado no Catastro do Marquês de la Ensenada a propósito dum moinho “al sitio da Silva cuyo dueño es Gregorio do Río, que le regulan quince Reales1”. Fora da comarca de Ordes, o topónimo Silva está bem representado na Corunha, no Porto Doçom ou na Terra Chá, concentrando-se em Portugal ao norte do Douro, nos distritos de Braga, Bragança, Vila Real e Viana do Castelo, neste último caso a carom do rio Minho. Com o colonialismo os lusos levaram o nome polo mundo, fundando a cidade angolana de Silva Porto ou nomeando no Brasil o recife Silva ou o Ribeiro da Silva, afluente do Amazonas. Mesmo no estado de Missouri há umha cidade chamada Silva. Também numha cena de Sharks, o famoso filme de Steven Spielberg, aparece no peirao um letreiro que pon “Frank Silva”, e abofé que o arroutado marinheiro que persegue o tubarom bem poderia mimetizar com os paróquianos do Bar Xuventú da Silva.

Nas Encrovas o capital destruiu Silva Redonda, resistindo em Cerzeda a misteriosa Silva Escura, formoso e habitual topónimo galego-protuguês que a Otero Pedrayo lhe gorentava emparentar com a Selva Negra germana. E é que Silva procede etimologicamente do latim silva ‘selva, bosque, maleza’, que em galego-português deveria dar selva, com e, mas que por umha anomalia na evoluçom fonética – da que se ocuparam muitos filólogos2 – ficou como silva. Os romanos também chamavam silva ao terreno dedicado à exploraçom florestal, e mesmo há quem singelamente explica o topónimo e apelido como referido a um campo de silvas (Rubus fructicosus), insistindo Gonzalo Navaza em que o nome da planta das amoras “é relativamente recente no idioma con ese significado, pois no periodo de formación do galego silva equivale a bosque […]”3.

Com semelhante expansom da Silva polo mundo a nómina de ilustres com este apelido tende ao inifinito: o dramaturgo queimado pola Inquisiçom António José da Silva; o explorador do Zambeze Francisco Ferreira da Silva; o independentista venezuelano José Lourencio Silva; o herói brasileiro José Joaquin da Silva ‘Tiradentes’… Mesmo a Duquesa de Alba imortalizada nas Majas de Goya era Silva. Na nossa terra, Pedro Silva, de Messia, andivo agabelado a começos do s. XIX, ao igual que a brava bandoleira de Porto Mouro, Joana da Silva4. Quando os fascistas entraram em Ordes o republicano Adonis Morón Silva logrou fugir, até que em 1937 foi detido e condenado a cadeia perpétua5.

mapa-a-silva

Em Rodis a Silva e a Silva de Riba conformam, já na estremeira com a comarca de Bergantinhos, o segundo nûcleo mais importante do concelho de Cerzeda, se bem foi perdendo peso específico nas últimas décadas. “San Mamede da Silva, notable por sus ferias”, apontava um lacónico Otero Pedrayo no seu Guía de Galicia, para depois acrescentar que a estrada de Ordes a Carvalho passa “por San Mamede da Silva, descenso, admirable de horizontes, al valle de Bergantiños”6. Nom se lembrou o de Trasalva da Feira das Nenas, que fijo conhecida a Silva em toda a comarca antes de ser um dos centros da movida e, também, da contracultura rural e da emergência do rock galego, com o imprescindível Pub Non Sei. Da feira aos pubs e discoteques, a Silva sobreviveu como capital da festa.

 

Moças na Feira das nenas, na Silva, em 1963.
Moças na Feira das nenas, na Silva, em 1963.

1 Cores Liste, 2005, p. 15.

2 Cabeza Quiles, 1992, p. 450; Millán González-Pardo, 1987, p. 164; Corominas, DCECH, V, pp.196-197; García Arias, 1977, p. 161…

3 Gonzalo Navaza Blanco, Fitotoponimia galega, Corunha, Fundación Pedro Barrié de la Maza, 2006, p. 356.

4 López Morán, 1984, p. 254.

5 Adrián Marzoa Otero, A represión franquista na comarca de Ordes (1936-1939), Ordes, A. C. Obradoiro da História, 2018, p. 58.

6 Otero Pedrayo, 1991, p. 325 e p. 458.