Contramaquieiros

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para Xoán Carlos, Helena e Patricia

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Nomenclátor só cita na comarca de Ordes o topónimo a Maquia que dá nome a umha aldeia de Vila Maior, mas também há outros lugares ou casas que se chamam assim nas freguesias de Buscás, Leira ou Mercurim. As maquias eram os estabelecimentos aos que se levava o cereal a moer, pagando o serviço em espécie através dumha medida convenida chamada igualmente “maquia”, palavra galega procedente da árabe maquila ‘medida’.

Na Maquia de Vila Maior a chamada Casa da Maquia tem umha integrante torre de feitio primitivo que, de seguro, há de agachar muita história. Também ali se apresou o rio a finais do século XIX, num projeto pioneiro de produçom hidroelétrica que dava luz a casas das paróquias de Olas, Buscás, Barbeiros ou Abelhá, para além da própria Vila Maior[1].

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A Maquia de Leira, que estava enfronte do Barreiro, mencionava-a Manuel Astray como um refúgio seguro para os membros da resistência[2], e na Maquia de Buscás nasceu em 1928 o grande Florentino Ruibal Rivas‘Flor da Maquia’, quem, precisamente, muito tocou com os anti-franquistas da Fraga de Ardemil. Canteiro e gaiteiro, Flor da Maquia também fijo parte do quarteto Airinhos de Buscás, e quando lhe atacou a angina de peito demonstrou que nom há nada mais punk que um gaiteiro: acoplando ao fol um inflador de pé, e sentado ao jeito irlandês, Flor continuou com a música. Da atitude punk ainda se lembra o gaiteiro da Maquia de Buscás ao contar o sucedido em aquele 24 de Poulo em que Os de Júlio de Pardinhas e Os da Fraga se encararam por ver quem tocava no adro à saída da missa. O piquei ia a maiores quando Lourenço da Fraga amagou com botar mao à pistola, conseguindo Flor convecê-lo de que era melhor marchar[3]. A Lourenço roubaran-lhe a república e os anos de juventude passados no cárcere, mas quando lhe quigeram tirar a música –esse último espaço libertado- dixo basta.

Botou boa semente Flor da Maquia, com as netas a continuar dando vida à música popular e o neto pegando no acordeom.

[1] Guía turística-cultural de Ordes, Concello de Ordes, 1999, pp. 104-105.

[2] Manuel Astray Rivas, Síndrome del 36, Sada Ediciós do Castro, 1992.

[3] Manuel Viqueira Noya, Vilaverde, 2017, p. 35 (con foto de Flor).