Contra o consenso

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Por Ângelo Pineda Marinho

O atual presidente da Junta, Alberte N. Feijoo, tem a estranha habilidade de obrigar-nos a falar do evidente, o qual é cansativo e desalentador. Porém suspeito que seja também necessário tendo em conta que se está lá, é porque existem sectores importantes da nossa sociedade que o referendaram.

Uma destas obviedades para qualquer um que não se deixe cegar pelas luzes dos fogos de artifício e os discursos vácuos é a que se refere à agitação social. Nos últimos meses, certas fórmulas retóricas puseram-se na moda: «conflito artificial», «criar um conflito onde não havia», «consenso necessário», etc. Estas fórmulas nascem diretamente das assessorias políticas e são reproduzidas pelo jornalismo massivo e dócil. A finalidade é virá-las num tópico popular aplicável a questões tão diversas como a planificação linguística, a greve do metal ou a protesta agrária. E funciona, porque a existência quotidiana já é suficientemente difícil para que a um nível macro-social emerjam problemáticas que ameacem as respostas ritualizadas com as que transcorremos pelo nosso entorno e que nos brindam uma segurança pessoal. Apesar da angústia que geram todas as mudanças, é necessário fazer ver que o conflito, quando se faz patente, representa uma oportunidade.

Por outro lado, não é complexo contestar essa fraseologia oficial e perversa. O que é um «conflito artificial»? Todo conflito é artificial por definição na medida em que está protagonizado por seres humanos. «Criarmos conflitos onde não havia»? Duvido-o. O conflito não aparece do nada. É o resultado duma colisão de interesses. Se tornar explícito é que já existia sob formas latentes. «Consenso necessário»? Muitas vezes o necessário é a confrontação. Se não se entrar em consenso com quem dissente… De que consensos estão falando?

Acontece que o conflito é o que faz avançar a história quando as elites que propugnam o consenso gostariam de detê-la. 28 anos depois dum regime autonômico que se apresentava como solução aos problemas da Galiza, os baixos salários seguem sendo um reclamo para o capital forâneo, a posição que ocupamos no quadro peninsular é claramente subalterna e a nossa língua corre o sério risco de passar a ser uma peça de museu. Conflitos? Quanto mais intensos e numerosos, melhor.

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