As aldeias das leitoras (VIII): Fossado

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“Para chegar ao fossado
e servir-mi corpo loado,
e vam-se as frores
d’aqui bem com meus amores!”

Paio Gomes Charinho

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Pediam Javier Quintela Pena e Ani Pampín Martínez  tratar de Fossado, aldeia de Santa Cruz de Montaos que tem estaçom de trem. Se o topónimo nom se refere a um terreno caraterizado por um fojo ou fosso que o adjetiava, um terreno os prédio “fossado” (há um Foxado em Cúrtis), talvez tenha a ver com o antigo tributo real do fonsado, fossato, fonsato ou hueste, que conforme explica López Ferreiro:

“era la obligación que todos tenían de presentarse armados y equipados cuando el Rey saliese á campaña. En algunos Fueros se ve limitado este servicios á una sola vez al año e á um corto número de días, que ordinariamente no pasaba de tres; pasados los cuales quedaba de cuenta del Rey ó del Señor el mantener á los agregados á la hueste, sí se decidían á permanecer por más tiempo sobre las armas. La fonsadera, fossataria, fonsadaria era el tributo, ya en especie, ya en dinero, que grababa sobre algunas tierras, ó sobre las personas que no podían asistir personalmente á campaña. En el siglo XI se introdujo el pectum, pecho, que consistía en la cantidad de cuatro sueldos que debía pagar cada vecino, morador en tierra de realengo, cuando el Rey levantase ejército. Diferenciábase el pectum de la fonsadera, en que ésta afectaba más bien a las tierras, y aquél á las personas”[1].

Isto é, Fossado poderia ser em origem umhas terras destinadas à forma “territorializada” do tributo real que obrigava a servir em armas ao monarca, hipótese que seria mais clara se este lugar de Santa Cruz de Montaos se chamasse, por exemplo, Fonsadeira.

Em Fossado estava sediado o Sindicato de Peones de Órdenes y sus Contornos, de cuja comissom organizadora faziam parte, em 1936, Jesús Liste e Manuel Garabato. Nom consta a orientaçom ideológica do sindicato, ainda que bem poderiam ser anarquistas, havida conta das campanhas do Sindicato de Peones da CNT da Corunha em Ordes para organizar este setor especialmente precarizado. Quem sabe se nom teriam feito algumha reuniom no moínho de Fossado, bem formoso e propício á camaradagem, de fosso –precisamente- amplo como poucos no concelho de Ordes.

A construçom da fantasmal estaçom de Fossado, enquadrada na febre do AVE, é um dos últimos capítulos da infame história do caminho-de-ferro entre a Corunha e Compostela, que arranca no século XIX e continua marcada por interesses caciquis completamente alheios à vontade de serviço público. Quanta razom tinha o companheiro que escrevera na sua fachada “O AVE INCOMUNICA”. Ele foi multado polos do tricórnio, enquanto os responsáveis desse irracional projeto (vaia símbolo, a inadjudicável cafeteria da estaçom de Fossado) se lucravam. No Estado dos aeroportos sem avions, no párking da estaçom de Fossado há mais pescadores que passageiros. E é que, ao igual que nos tempos do fossato, o que paga os caprichos do poder é o povo.

[1] Antonio López Ferreiro, Fueros municipales de Santiago y de su tierra, Madrid, Ediciones Castilla, 1975 [1895], pp. 52-53.

Estaçom de Ordes, em Fossado, Montaos