Viagem ao passado e ao futuro do PGL

Partilhar

A 6 de maio de 2004, logo vai para dezanove anos, cadastrei a minha conta de utilizador no Portal Galego da Língua. Na altura não podia imaginar que o meu nome ficaria vinculado ao PGL durante quase doze anos consecutivos. Aí comecei, primeiro, participando nos fóruns de debate. Eu ainda não era demasiado fluente na norma reintegracionista, mas com bons mestres e mestras fum sistematizando as regras e expurgando erros, num processo que ainda hoje continua.

Quando tivem uma mínima segurança quanto à normativa linguística é que comecei a colaborar com o envio de artigos (que a equipa do PGL acolheu com agrado). Aí foi que o coordenador da equipa, Vítor Lourenço, me pediu para colaborar com maior frequência, sem pressão.

Uma protorrede social

Naquela época, o PGL era muitas cousas. O Portal nasceu como o sítio web institucional da AGAL, mas essa função aginha ficou num lugar secundário. Era o lugar para se informar da atualidade da língua na Galiza. Era, também, um completo web de formação (porém, unidirecional). Era o contentor de muitos outros projetos que iriam nascendo (a primeira versão do Dicionário Estraviz, o Dicionário de Fraseologia, o Planeta NH e muito mais). E o PGL era, gosto de salientar, o mais parecido a uma rede social de que gozou o reintegracionismo.

Não me vou estender muito sobre isto, porque já escrevim a respeito há uns anos , mas gostava de frisar a importância vital que tivo para muitos de nós este aspeto: ao redor do PGL articulou-se uma rica comunidade com pessoas veteranas dispostas a partilharem o seu conhecimento e experiência e pessoas jovens com vontade de achegar a sua vitalidade, entusiasmo e formação técnica em diferentes áreas.

Audácia

Isto, passados os anos, teria consequências positivas, como que em 2009 fosse eleito um Conselho da AGAL formado em boa medida com esses vímbios e com um ambicioso projeto do qual o atual Conselho é herdeiro, quer nos erros, quer nos acertos.

Entre os acertos, cabe salientar a aposta pola profissionalização nos projetos, que nesse já longínquo 2009 causou uma notável controvérsia. Tanta, que aquele Conselho foi eleito com o mínimo de votos necessários, situação limite que contrastou com as sucessivas assembleias, em que se conseguiu a unanimidade ou se andou perto dela.

Isto prova que todas as transformações devem enfrentar resistências e temores, mas também que nas entidades sociais é preciso arriscar quando os projetos evidenciam desgaste ou esgotamento.

Se algo tem demonstrado a AGAL nestes anos é audácia (não confundir com temeridade) e não deixar que os temores a paralisassem. Desde 2009 tem-se inovado refundando uma editora, criando uma loja em linha, criando cursos de formação, desenvolvendo estadias em Portugal, coparticipando numa distribuidora de livros, produzindo documentários… Não pode haver medo a equivocar-se, só o medo a não tentar levar para a frente uma ideia em que acreditas.

Se algo tem demonstrado a AGAL nestes anos é audácia (não confundir com temeridade) e não deixar que os temores a paralisassem. Desde 2009 tem-se inovado refundando uma editora, criando uma loja em linha, criando cursos de formação, desenvolvendo estadias em Portugal, coparticipando numa distribuidora de livros, produzindo documentários… Não pode haver medo a equivocar-se, só o medo a não tentar levar para a frente uma ideia em que acreditas.

Combinando essa audácia com a aposta na profissionalização, a AGAL apostou há alguns anos por profissionalizar também a direção do PGL e hoje, no 20.º aniversário, estamos recolhendo os seus frutos.

Retos

Nas distintas épocas, o PGL tivo de enfrentar retos diferentes, boa parte dos quais ainda pervivem de uma maneira ou outra, o qual também exemplifica o difícil que é muitas vezes tomar decisões duradouras nas obras coletivas.

Por assinalar alguns: a profissionalização do Portal, para não descansar fundamentalmente em trabalho voluntário; a monetização, para converter o PGL também numa fonte de recursos económicos para a associação (os quais se reinvestiriam noutros projetos); o eterno debate sobre os limites à liberdade de expressão (que não ampara o direito à difamação), o qual às vezes leva para tomar complicadas decisões; manter uma linha editorial coerente e reconhecível no tempo, frisando o caráter cultural e ao tempo não ficando de costas à realidade social e política…

Outros retos têm a ver com as mudanças tecnológicas, com a integração com as redes sociais, com as novas tendências e formas de comunicação que surgem na internet, com os também cambiantes hábitos de consumo da informação, com a nova vida que experimentárom os podcast a partir da pandemia…

E eu, como ex-diretor, atrevo-me a apontar também o que seguramente é e será o reto mais difícil: saber ou poder dizer «não» à publicação de um conteúdo ou a considerar a retirada depois da publicação inicial. É muito difícil contactar uma pessoa que envia uma colaboração com a melhor vontade do mundo, às vezes uma pessoa com a qual te unem vínculos de simpatia, afeto ou mesmo admiração, para lhe indicar que (polas razões que forem) não é publicável. E esta decisão, já à partida dura, muitas vezes não é compreendida adequadamente, por mais que for explicada com delicadeza e franqueza.

Uma obra viva

O Portal Galego da Língua, como a propria AGAL, é uma iniciativa social que descansa sobre os ombreiros de pessoas que dão o seu melhor porque acreditam no que fazem. Como toda iniciativa social e, daquela, uma obra viva que continuará a crescer e a mudar. E estará da nossa mão fazermos, coletivamente, que os vinte anos que ficam por trás sejam a base de polo menos mais vinte.

Há especialistas na internet que auguram um futuro em que as páginas web como hoje as conhecemos desaparecerão, polo que será pouco provável haver um PGL em 2042. Sei lá. A rádio leva quase cem anos ‘morrendo’ por culpa do televisor e o papel impresso há décadas que vai desaparecer e ainda hoje nos tende a irritar com certa teimosia, polo tanto permiti-me ser um bocadinho céptico. Mas do que tenho certeza é que, se a AGAL existir, o PGL continuará a existir em 2042, seja qual for o formato que daquela se leve. Mádia leva!