Re-inte-gracionismo… Transitamos?

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Havia uma vez uma língua que era uma, mas ao mesmo tempo era outra, e, ainda, de fora era vista como uma outra coisa as mais das vezes. Ela própria não sabia muito bem o que é que havia de ser, o que era, mas que alguma coisa era, sabia que era. É.

Os seus progenitores havia tempo que a tinham deixado voar, ir à vida, como se costuma dizer. E, embora levasse marcadas a ferro as suas contradições, essências e dificuldades experimentadas na infância durante esse processo habitual (não isento de contrariedades) de maturação, de abandono do ninho que, aparentemente, se tinha resolvido com uma assimilação e uma transição cara um outro corpo e estado, mudando de condição; continuava, contudo, ainda a refletir sobre o que queria ser quando fosse grande. Coitada, muitas das vezes ignorando, inocentemente, o quanto de grande ela era já, de seu, por si própria, apenas por ser, por existir, por ter sido alguma vez.

Certo é que o facto em si de transitar não tem porque ser negativo, e menos quando desejado e por achar-se e sentir-se pertencer à condição errada, mas, até que ponto a pressão social, os preceitos instaurados de uma imagem ideal face a outra não influem nesse sentimento de mal-estar, de não-pertença, de autonegação? Até que ponto esse enquadramento binário: fisicamente és X ou Y, estás aqui ou estás ali, ou sentes assim ou assado… não nos restringe e delimita mental e fisicamente criando barreiras e autoimpondo-nos limites não escritos em lado nenhum? Quanto têm de real? Se eu sou X fisicamente mas sinto-me como Y por dentro, ou simplesmente quero ser Y porque acho bem melhor e faz-me sentir melhor… porque tive de me mutilar para passar a ser Y? Porquê? Por que, se não quero ser gallega, tenho de ser galega, ou espanhola, e não posso ser galego-portuguesa?

Estamos fartas, as línguas, e as pessoas, de que usem os nossos corpos e a nossa imagem para impor cânones de beleza, de bem-fazer, de bem-estar… As identidades, como as línguas, são outra coisa muito mais complexa, não são essencialismo, embora tenham muito de essencial e de essências, de cheiros e sabores únicos, tanto a nível individual como grupal. Mas, as essências são voláteis e, como tal, devemos ter o poder e o direito de as ir escolhendo e modelando um pouco à vontade, pelo nosso próprio bem-estar, físico e mental.

Reintegrar é voltar a integrar; e integrar é fazer parte de um conjunto. Podemos estar integradas e reintegradas ao mesmo tempo, não acham? Fazer parte de vários conjuntos ou até estar num conjunto dentro de um outro ou vários conjuntos.

Isolar apenas significa apartar da convivência.

Máis de Antia Cortiças Leira