A eterna viagem

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No passado dia 28 de outubro foi projetado, e eu assisti, o documentário de Sabela Fernández e José Ramón Pichel intitulado Porta para o Exterior. A projeção foi em Ferrol. Foi na sede do Ateneu Ferrolano onde teve lugar o evento. Um local perfeito, aberto à cidadania, sempre com total disponibilidade para com as atividades culturais da cidade, para a diversidade cultural e para a mostra dos trabalhos ou interesses das diferentes e múltiplas associações, instituições ou coletivos que trabalham na e pela comunidade ferrolana organizando atos culturais ou dando a conhecer os de outros.

A sala de atos não estava cheia nem muito que se lhe parecesse, talvez fosse pelo título? Próxima estação: galego-português teria sido uma melhor aposta?

Porta para o exterior não é um chamamento à emigração, não é uma denúncia à falta de trabalho na nossa terra, não é uma expulsão de ideias nem ideais das nossas vidas.

Porta para o exterior, longe disso, longe de não ser, também não é um documento para remir conciências. É mais uma tentativa de explicação e justificação para dar a perceber as miudezas, as grandezas e as profundezas do tão injuriado, e o mal ou bem chamado reintegracionismo.

Porta para o exterior é uma compilação de materiais audiovisuais, a maior parte criado ad hoc para a ocasião e outros nem por isso, que respondem àquelas perguntas, contra-argumentos e receios que normalmente acabam por vir à toa nalgumas conversas sobre norma da língua da Galiza.

Porta para o exterior evidencia o ocultamento, a falta de informação, o silenciamento de vozes em contraponto com a hegemonia linguística atual na Galiza, e também evidencia o mascaramento de uma realidade linguística que há apenas uns anos era bem diferente. Tão diferente quanto que até mais natural dentro da anormalidade deste nosso país onde as pessoas com a educação obrigatória finiquitada não temos de certificar o nosso conhecimento de língua espanhola de Espanha, mas sim o nosso conhecimento de língua galega da Galiza. A este triste ponto chegamos, e deixamo-nos levar.

Porta para o exterior fez questionar coisas às pessoas presentes como o porquê da nunca explicada passagem rápida e estranha nos planos de estudos das línguas: da filologia hispânica com seção em galego-português, passa-se, primeiro, para as filologias galega e portuguesa (apenas com o primeiro ano de matérias comuns), e depois para os atuais graus em galego (sem nenhuma matéria de português) e em língua modernas (onde é opcional a língua portuguesa), e daí para… Qual será o futuro? Talvez seja termos opção a estudarmos um ‘grau em língua galega’, um ‘grau em língua portuguesa’, um ‘grau em língua brasileira’, um ‘grau em língua dos Palops’ (não vamos nos passar muito, né?). Ou talvez apenas tenhamos opção de estudarmos um ‘grau em língua(s) inglesa(s)’, ou yeah!, please forget me!!Ruturas nunca explicadas. Divórcios sem prévia separação de bens e sem juízo justo pelas custódias ortográficas.

Porta para o exterior também fez transparecer aqueles espaços não tão conflituosos. São aqueles espaços onde outras linguagens não verbais entram em jogo, aí, as ‘línguas naturais’ deixam de ser um problema, passam a um segundo plano, sobretudo neste nosso caso em foco, é claro, onde a intercompreensão está, por enquanto, assegurada. Aí emergem novos rimos e músicalidades onde o conflito é apenas saber quem toca a seguir.

Afinal, Porta para o exterior é um chamamento para as vontades e as capacidades coletivas. É uma abertura para a vida. Para sermos, e para apanharmos uma cadeira ao som de novos-velhos rimos. Portanto, resta-nos apenas soprar um bocadinho para que mudem os ventos e com eles as vontades.

Máis de Antia Cortiças Leira