Portas abertas (inauguração da Casa da Língua Comum)

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As palavras, como os pássaros,
voam sobre as fronteiras políticas
.
Castelão

Não encontro melhores palavras do que essas do nosso grande intelectual e político, para começar a falar dos atos de inauguração da Casa da Língua Comum. A casa de portas abertas, vestiu-se com amigos, povoou-se com vozes, carregou-se com significados e sonhos, habitou-se com palavras…

Como afirmava Castelão, as palavras, como os pássaros, voam. Portanto, poderíamos afirmar que as palavras, como os pássaros, necessitam pousarem-se também. Ainda aqueles pássaros que são capazes até de atravessar o oceano voando, necessitam pousar, nem que seja nas ilhas, e ainda nos barcos que encontram durante a sua travessia; necessitam alimentar-se, ganhar forçar, para poder continuar seu voo rumo ao futuro.

Foi um vinte-e-cinco de abril para nunca esquecer; o rumo da Casa da Língua Comum ficou marcado. Abrindo as sessões, depois das boas-vindas que tive a honra de dar eu, e de ler meu poema “Tempo de se Render Não” como quem assinalasse a estrela a seguir, chegou a força do associacionismo galego e internacional. Começando com Paloma Fernández de Córdoba, presidente da Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, seguida por Chrys Chrystello, presidente da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia e fechando essa mesa estava Miguel Penas, presidente da AssociaçomGalega da Língua. Três discursos intensos, nos que se podia sentir a força e determinação de uma sociedade civil que sabe o que tem, conhece o seu valor, e está determinada a avançar. Altos voos se intuem nas asas das palavras que nos trouxeram ontem, para fazê-las nossas, de todos e todas. Os meus parabéns e gratidão aos três oradores dessa primeira sessão que eu própria moderei.

A manhã continuou com Ângelo Cristóvão, Joám Trilho e Luís Fontenla Figueiroa, filho de José Luís Fontenla Rodrigues, trazendo para nós a dimensão cultural, política, pessoal e simbólica da doação que José Luís Fontenla à Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP). Salientando a fabulosa biblioteca, as obras de arte, e o tesouro de documentos sobre fatos de nossa historia linguística e socialna Galiza, das últimas décadas, e não só. Gratidão a Luís Fontenla filho, que para além de ilustradoras palavras, encheu a sala de emoção ao falar do seu pai e da sua família.

O segundo painel, moderado pelo presidente da AGLP, e integrado por Valentín García, representando o Governo Galego, Ana Salgado do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências de Lisboa, e Eugénio Anacoreta Correia da Comissão de Promoção e difusão da Língua Portuguesa, dos Observadores Consultivos da CPLP. Que nos ilustraram sobre a lei Paz Andrade, o novo dicionário da Academia das Ciências de Lisboa no que se incluirão mais de 1000palavras de léxico galego fornecidas pela AGLP, e os desafios do futuro da Língua Portuguesa, respectivamente. Mensagens claras e direcionadas, a nossa língua tem planos ambiciosos para voar alto e longe, e aqui tem esta casa para se poder pousar, ganhar impulso, e continuar…

Um terceiro e último painel, seguindo a pausa que aproveitamos para as conversas mais pessoais, integrado pela Presidente da Associação 8 Séculos de Língua Portuguesa, Maria José Maya, que nos informou sobre as comemorações destes 8 séculos de escrita da nossa língua. A continuação José-Martinho Montero Santalha, Presidente da AGLP, apresentou “O Testamento de 1214 de D. Afonso II” com uma publicação dessa obra feita pela AGLP e oferecida à assistência. Fechando essa mesa, o Presidente da AGAL, Miguel Penas, falou das novas estratégias para a nossa língua na Galiza, e da necessidade de um novo consenso. Moderando a sessão com harmonia e poesia, estava Maria Dovigo.

Finalizaram os trabalhos deste Seminário com a apresentação por parte de António Gil Hernández do livro A Invenção do Mar, de Jenaro Marinhas del Valle, editado pela AGLP. Acompanhado na mesa por Mário Herrero Valeiro.

Depois dos trabalhos e a poesia dos atos de inauguração, fomos todos juntos comer e beber para celebrar. A jornada, na que a nossa língua era a principal convidada e protagonista, foi completa e frutífera. A nossa língua, depois de voar alto, depois de voar longe ao longo dos séculos, nos que foi ganhando traços na sua escrita, vem segurar, pousando na Terra, ao cuidado desta Casa da Língua Comum, sua raiz mais antiga. A casa fica então aberta para todos e todas, tanto pessoas quanto grupos ou coletivos culturais, que queiram vir ajudar a cultivar esta nossa língua e cultura para que floresça mil primaveras mais.

E fecho esta crónica com aquele ditado de sabedoria oriental que nos informa de que “os nossos filhos, só necessitam raízes e asas”. Que à nossa língua nunca lhe faltem nem as suas raízes nem as suas asas.

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