Malaca, palavra que continua no interior a fazer-se gigante, a fazer-se fecunda, e sacra até. Pronuncio-a e sinto amigo, sinto mestre, sinto genuíno, congruente, criança que já se fez anjinho. Ouço os risos de felicidade de Deus por ter-te já ao seu lado. Hoje sinto inveja de Deus, pois nós ainda te necessitávamos, nós ainda te necessitamos. Malaca é aquele Mestre que se coloca ao lado do simples, do puro, do condenado, ao lado do que necessita, do que necessita e não tem, e do que necessita e tem, tem mas não sabe, Malaca é espelho brilhante de bondade.
Pronuncio o seu nome, digo João Malaca Casteleiro e abrem-se caminhos de palavras para os que deles já fóramos roubados. Conheci ao querido profesor em 2008, quando veio a Santiago, junto com outro grande mestre, o Evanildo Bechara, para botar uma mão no nosso reencontro com a nossa língua; essa língua que devia de ser chamada de “galego” mas que por vicissitudes da História deu em se chamar de “Português” Mas isso não significa que haja que renunciar a ela, nem que haja que ficar de braços cruzados quando ela é expropiada de um territorio que lhe é próprio: A Galiza! Mesmo quando com mãos galegas, e não só, é machucada toda vez que ela rebrota, com esse auto-ódio que se extende a tudo que leve aromas da nossa língua galaica.
Malaca veio ajudar a semear, nossa própria semente outóctone, veio com seu cesto de palavras infinitas, veio com sua caneta arar as nossas páginas feridas, veio matar a nossa sede, veio ser nosso guerreiro irmão, nosso imortal membro na AGLP. Hoje ao ouvir a palavra que anuncia a tua partida, a palavra barca que te afasta da Ribeira dos que ainda ficamos aqui mais um bocadinho, senti uma desolação amarga, breve, mas muito amarga. A tua morte dói onde dói o amigo, onde dói o irmão, onde dói a família, onde dói a carne, onde dói a carne e o espírito. É neste instante que vem a mim uma imagen da Conceição chorando-te, grande companheira sempre ao teu lado. Mas a dor, ainda que intensa, é breve porque a alegria de conhecer-te, a alegria de ter crescido ao teu lado, é tanta que ganha o combate.
Hoje venho aqui, juntar este meu molhinho de palavras, com a ousadia de quem, ainda sabendo-se humilde ali onde tu eras Grande, sente que debe gritar desde a verdade. E com essa força venho, venho apenas te dizer obrigada! Obrigada Malaca, obrigada professor, obrigada meu camarada. Hoje passam por mim imagens tantas, que guardarei como tesouros embrulhados no pano da própria pele. Foi, é, grande o teu legado, e quando digo legado não me estou a referir as inúmeras obras lexicográficas, aos vocabulários e tantas e tantas outras. Eu falo do teu legado de combatente em defesa da nossa língua. Da nossa língua extensa que navega os sete mares nos 7 ventos, como já cantamos no hino da Lusofonia, esse que criamos juntos todos no barco dos Colóquios da Lusofonia. Naquele dia navegávamos pelas águas da Ilha da magia, Florianópolis, Açoreanópolis por alguns días de maio de 2010.
Contigo tive a honra de falar na Academia Brasileira de Letras, eu representava a Galiza; junto do magnífico anfitrião, o nosso Evanildo Bechara, e com o imbatível Chrys Chrystello, artelhador de equilíbrios impossíveis… Se eu pudesse escolher algum dia no que eu me senti honrada por caminhar ao teu lado, esse podia ser um deles.
Contigo tive a honra de falar na Academia Brasileira de Letras, eu representava a Galiza; junto do magnífico anfitrião, o nosso Evanildo Bechara, e com o imbatível Chrys Chrystello, artelhador de equilíbrios impossíveis… Se eu pudesse escolher algum dia no que eu me senti honrada por caminhar ao teu lado, esse podia ser um deles. Mas há tantos, há tantos que eu agradeço. Contigo e os Colóquios da Lusofonia navegamos depois pelos mares da China, Macau fez-se casa por um tempinho para a nossa nave, que tu tão bem capitaneaste naquelas terras que para ti eram como a própria Serra da Estrela, Covilhã , A Guarda, Seia, ou Lisboa mesmo… terras cultivadas com grande amor com as tuas palavras.
Hoje passo páginas com lágrimas, imagens que guardarei até o dia que eu partir; nelas viajo ao teu lado, vamos às furnas, e eu me abrigo no teu guarda-chuvas, eu não levara, mas não permitiste que me molhasse, era setembro, aprendi bem no princípio o bom e generoso que tu eras, Malaca. Sorrio ao lembrar as piadas no autocarro dos Colóquios pelas Lombas das terras Açoreanas, São Miguel, Santa Maria, Graciosa… Hoje as ilhas todas da Lusofonia choram por nunca mais ouvir a tua alegria, mas tu fazes parte, querido amigo, querido mestre, querido camarada, tu fazes parte da sua eternidade; da nossa eternidade, Malaca.