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Pablo Carracedo: “As enquisas dos últimos 4 anos no nosso centro mostram uma perda de alunado galego-falante de mais de 20%”

Em 2021 fizeram-se 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisarmos este período, estivemos a realizar ao longo de todo 2021 uma série de entrevistas a diferentes agentes. Agora, entrado 2022, queremos continuar reflexionando sobre isto, mas focando num âmbito em particular, de importância estratégica: o ensino.
Hoje entrevistamos o professor de galego no Ensino Secundário, Pablo Carracedo.

Que avaliação fazes dos resultados do ensino do galego após 40 anos como matéria troncal?
Da minha experiência, posso assegurar que passou por diferentes momentos. Agora mesmo e após uma fase de início com tudo o que isso acarreta – desde ser considerada por parte de algum professorado e muitas famílias como uma matéria “dada”, até ao desconhecimento e falta de formação do professorado – podemos afirmar que estamos na etapa de consolidação de uma matéria troncal que realmente importa. O valor que se lhe pode dar depende de quem a perceba. Isto é uma eiva importante, já que vivemos uma situação de diglossia em que é importantíssimo que o professorado veja com bons olhos a língua para este valor ser transmitido ao alunado. Se o analiso do ponto de vista da avaliação para o alunado, podemos afirmar que não estamos a cumprir os objetivos nem as competências ditadas nos diferentes decretos, visto que o alunado é maioritariamente analfabeto na nossa própria língua, o galego. Nem o falam, nem o escrevem com correção uma vez rematado o ensino obrigatório.

E da presença do galego como língua veicular no ensino público?
Isto depende completamente do entorno em que se inscreve o centro. Se o alunado é maioritariamente galego-falante, o alunado manterá a língua, feito que acontece no meu centro atual. Se o alunado é castelhano-falante, o centro falará exclusivamente em castelhano, cousa que não acontece ao avesso. Numa sala de aula de 5 anos, se três ou mais crianças falarem castelhano, “contaminam” os outros e acabam por falar com estes em castelhano. Isto nunca acontece com o galego.

Achas que esta presença guarda relação com a sua presença como língua ambiental nos centros educativos?
O professorado pode falar galego exclusivamente, mas ser quem de mudar a língua de um aluno para o galego não é fácil. Quase requer um exercício contínuo de correção. E estou a falar das próprias matérias em língua galega, como podem ser Galego ou Conhecimento do Meio. Já não do resto. O alunado do nosso centro mantém o galego quando chegam ao instituto e demoram, no melhor dos casos, dous anos em mudarem ao espanhol como língua veicular. O ambiente é tudo, mas não se dá do mesmo jeito. Se o ambiente é plenamente galego, os castelhano-falantes continuam a falar em castelhano; se o ambiente é castelhano-falante, a maioria dos galego-falantes mudarão para o castelhano.

Se o ambiente é plenamente galego, os castelhano-falantes continuam a falar em castelhano; se o ambiente é castelhano-falante, a maioria dos galego-falantes mudarão para o castelhano.

Pensas que deveria mudar alguma cousa no ensino da matéria de Língua Galega e Literatura?
Teríamos de ser muito mais críticos com os objetivos que se definem. Devemos de trabalhar a competência linguística através de atividades e experiências que tenham valor e significado para o alunado. Menos livro de texto e mais projetos globalizados partindo dos centros de interesse do alunado. Ponhamos como exemplo fazer uma apresentação pública sobre o vulcão da ilha da Palma e fazê-lo integramente em língua galega perante um auditório diferente onde tenhas de enfrentar uma conversa e um debate de ideias. Este tipo de atividades são com as quais o alunado realmente aprende e adquire conhecimentos de jeito significativo. Também deve ter uma razão social. Ser quem de melhorar a vida das pessoas que nos rodeiam, passar à ação e fazer denúncia.

Pablo Carracedo é conhecido como Jásper na sua atividade como músico.

Qual deve ser o papel do português no ensino? Ampliar a sua presença como segunda Língua Estrangeira? Ser lecionada dentro das aulas da matéria troncal de galego? Ambas?
Ambas. É uma autêntica vergonha e um despropósito que uma língua que temos tão perto e com tanta facilidade à hora de aprendê-la (perante o francês ou o inglês), não se ensine na educação obrigatória de jeito troncal. É claramente uma questão política. A quantidade de projetos de intercâmbio pedagógico e educativo que se poderia fazer com alunado do país vizinho….

Pensas que implementar linhas educativas diferenciadas (uma com imersão linguística em galego) poderia ser útil para o galego voltar aos pátios?
Penso que funcionaria se a imersão fosse total e vejo-o muito difícil a curto prazo. Há algum tempo, vejo no professorado mais novo uma mudança a nível linguístico: cada vez falam menos galego. Também nas famílias de infantil. As enquisas dos últimos 4 anos no nosso centro mostram uma perda de alunado galego-falante de mais de 20% e assim a respeito dos 4 anos anteriores. Se continuarmos nesta linha, daqui a 12 anos, seremos monolingues em espanhol. A imersão total é imprescindível.

Que papel atribuis ao modelo educativo inaugurado polas escolas Semente?
Um papel fundamental. Por um lado, para o alunado e as famílias sensibilizadas com o galego: poderes ter a oportunidade de educares as tuas crianças integramente em língua galega deveria ser um direito que os poderes públicos deveriam garantir, mas não é. Este ano chamou-me uma amiga da zona de Viveiro. A filha dela começaria na escola em 4º de educação infantil (3 anos), mas a direção do centro de ensino público assegurou-lhe que a maioria do alunado era castelhano-falante e que a língua veicular ia ser o castelhano. A mãe chorava ao reparar que a filha ia deixar de falar galego antes de rematar o primeiro trimestre. Como o ensino não é obrigatório até aos 6 anos, tomou a valente decisão e não a escolarizar. Essa é a nossa triste realidade. Falávamos de que oxalá houvesse em Viveiro uma Semente!
A Semente tem um projeto pedagógico muito interessante e com um muito bom nível de trabalho, especialmente na etapa infantil. Mas o mais importante é o seu papel galeguizador.

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