Este verão, Kendji Girac, um jovem músico cigano, comoveu-se profundamente no programa The Voice Kids, com grande audiência também na França. O que aconteceu? Girac ouviu um menino de 9 anos cantar em catalão e chorou devido à emoção que lhe produziram uns sons bem familiares. O rapaz, Maxime Cayuela, interpretou “Tant com me quedarà”, do falecido cantor rossilhonês Jordi Barre. O pequeno Maxime, vizinho de Perpinhão, ilustrou de forma rápida e agradável que o idioma catalão vai além das fronteiras regionais ou estaduais.
A língua catalã é falada como língua territorial em quatro estados: o Reino da Espanha, a República Francesa, a Andorra e a República Italiana.
A língua catalã é falada como língua territorial em quatro estados: o Reino da Espanha, a República Francesa, a Andorra e a República Italiana. No caso do Principado de Andorra, o catalão é a única língua oficial num território com forte presença dos idiomas francês, castelhano, português ou inglês. Na Espanha, a nossa língua compartilha de iure oficialidade com o castelhano (às vezes, chamado de espanhol) nas ilhas Baleares, na Catalunha e no País Valenciano, onde o seu nome popular e estatutário é o de valenciano. Embora expulso da oficialidade, o catalão fala-se também, com boa saúde, na franja oriental de Aragão e tem alguma presença em El Carche (Múrcia). Em França, estado que administra uma parte da Catalunha histórica, a língua catalã não é seriamente promovida e fica longe da oficialidade num estado multilíngue que se apresenta ao mundo como um país monolíngue. Por último, num canto da ilha de Sardenha, pertencente à Itália, encontra-se uma cidade chamada Alghero (em catalão, l’Alguer), onde o predomínio do italiano é inegável. De acordo com uma pesquisa de 2015 da Generalitat da Catalunha, 36,4% dos habitantes do Alghero falam o catalão alguerês fluentemente e 8,1% escrevem-no.
A internacionalidade do catalão, como temos visto, é uma realidade positiva, mas fraca se a compararmos com outros casos que podemos ter em mente. Não consigo ler a mente das pessoas leitoras, mas talvez algumas vejam a Andorra como um Couto Misto à franco-espanhola com aroma catalão. Ainda assim, muitos tiram proveito das vantagens que oferece o facto de o nosso idioma ser falado por 10 milhões de pessoas em terras e ilhas mediterrâneas pertencentes a quatro estados diferentes. Estão bem cientes disso os catalães que trabalham para o governo de Andorra e os docentes valencianos que ensinam em catalão, por exemplo, em Ibiza ou na Catalunha. Sabem-no também os artistas maiorquinos consolidados fora das ilhas Baleares, ou os jornalistas nascidos no País Valenciano que integram ou até dirigem alguns dos principais meios de comunicação em Barcelona.
Não consigo ler a mente das pessoas leitoras, mas talvez algumas vejam a Andorra como um Couto Misto à franco-espanhola com aroma catalão. Ainda assim, muitos tiram proveito das vantagens que oferece o facto de o nosso idioma ser falado por 10 milhões de pessoas em terras e ilhas mediterrâneas pertencentes a quatro estados diferentes.
Considerando o que dissemos acima, muitas das pessoas falantes de catalão perguntámo-nos: por que os galegos com poder institucional não apostam, com feitos, em prol duma visão global da língua da qual são coproprietários? Quem tivesse o pulmão do Brasil, o exemplo de Portugal e mesmo uma digna presença na África e na Ásia!