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Isabel Morám e José Eduardo Franco convidam a navegar através dos séculos para descobrir o imaginário medieval galego-português

Isabel Morám
Isabel Morám

É Perigoso Sintetizar a Idade Média. Literatura Medieval e Interfaces Ibéricas na Obra de Mário Martins. Nesta obra, a galega Maria Isabel Morán Cabanas e o português José Eduardo Franco, convidam o leitor a navegar através dos séculos e penetrar em textos medievais que nos informam sobre devoções e vivências religiosas, heróis e façanhas cavaleirescas conforme ao ideal da Távola Redonda, narrações historiográficas, livros de horas, manuais de comportamento para o cidadão laico, representações das danças macabras e diversos mitos que conformam o imaginário galego e português, europeu e também transatlântico.

Enfim, deparamos aqui com um grande leque de temas que foram especialmente abordados de forma precursora pelo medievalista Mário Martins e que nos permitem conhecer a (intra) história da Idade Média de lés a lés, assim como a sua multiprojeção ou irradiação através de tempos e espaços – chegando, particularmente, aos séculos XIX e XX (de Eça de Queirós a Pessoa), assim como à literatura brasileira do recentemente falecido Ariadno Suassuna (1927-2014).

Mário Martins

O investigador medievalista Mário Martins nasceu na cidade de Torres Novas (distrito de Santarém) em 1908 e faleceu em Lisboa em 1990. Pretendeu sempre uma história da cultura em Portugal à luz da espiritualidade, não podendo deixar de abordar neste sentido as relações Galiza-Portugal no contexto peninsular e europeu (especialmente a partir de narrações de viagens de origem celta). Destaca-se o caráter pioneiro ou precursor dos seus estudos, descobrindo toda uma complexa rede de influências e sobrevivências que antes dele nem se chegaram a suspeitar ou eram julgadas erradamente. A sua metodologia parte sobretudo da comparação textual minuciosa e na solidez da documentação abordando questões de religiosidade e espiritualidade, historiografia e relações político-diplomáticas, regulamentos laicos e conventuais, narrações historiográficas, manuais de comportamento e de educação da alma e do corpo – conforme ao lema mens sana in corpore sano –, novelas hagiográficas e cavaleirescas, poesias ao divínio, livros de horas em que convergem letras e iconografias (sobretudo as relativas danças macabras), teatro e outras manifestações artísticas.

É perigoso sintetizar a Idade Média (capa)O presente livro rende, em boa medida, uma homenagem ao labor de Mário Martins, que, perante certos temas, entronca com a linha doutros medievalistas portugueses tão célebres como foram Manuel Rodrigues Lapa ou Carolina Michaelis de Vasconcelos. No volume escrito por M. Isabel Morán Cabanas e José Eduardo Franco põe-se também de relevo a relativização da periodização que Mário Martins defendia na sua visão da história, diluindo fronteiras entre a Idade Media e épocas anteriores e posteriores, assim como entre diversos espaços geográficos próximos ou bem distantes (da Península e da Europa até à Índia ou outros lugares da Ásia). Ele acredita numa continua assimilação de heranças e evoluções, daí o titulo “É perigoso sintetizar a Idade Media” (1987), artigo que dá título ao livro recentemente publicado – de feito, “destemporalização” é uma palavra-chave no seu discurso.

Os autores do presente volume, uma professora na Faculdade de Filologia da Universidade de Compostela e outro responsável pela Cátedra da Universidade Aberta, lembram especialmente a relação de Mário Martins com a Galiza: foi aqui onde ele iniciou a sua formação (em Santa Maria de Oia, na Galiza) e os seus estudos humanísticos. Após um périplo pela Europa, estabeleceu-se definitivamente na designada com Casa de Escritores ou Residência São Roberto Belarmino, particularmente destinada à redação da revista Brotéria, que conta hoje com mais de 110 anos de vida (foi fundada pelo notável botânico Avelar Brotero em 1902) e durante um tempo foi editada em terras do sul da Galiza.

Publicou centenas de artigos de revistas, entradas em dicionários sobre literatura medieval galega e portuguesa e quase vinte livros sobre a Idade Media desde unha perspetiva interdisciplinar (filosófica, literária, historia, religiosa e artística). Os autores de É perigoso sintetizar a Idade Média... Destacam os seus estudos sobre o franciscanismo, lembrando a figura do galego Frei Álvaro Pais, filho do nosso trovador Paio Gomez Charinho; as fontes celtas na literatura medieval produzida no Ocidente peninsular; os diálogos inter-religiosos (entre cristãos, judeus, muçulmanos e inclusive budistas); os textos normativos da vida intramuros dos conventos masculinos e femininos; os olhares sobre o que Mário Martins chama “literatura santiaguesa ou compostelana”; cenas do teatro de Gil Vicente em comparação com representações iconográficas da dança macabra; cruzamento de letra e imagem em luxuosos livros de horas; as localizações e personagens das Cantigas de Santa Maria…

Por último, disponibiliza uma seleção de ensaios sobre a multiprojeção ou do imaginário medieval através de diversos tempos e espaços portugueses, europeus e transatlânticos nas idades moderna e contemporânea – sublinhado, por exemplo, os seus comentários precursores sobre a obra do brasileiro Ariano Suassuna, falecido em 2014).

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