Isso foi o que li a pouco de começar a invasão russa de Ucrânia, enquanto caíam os mísseis em Kiev e outras cidades; umas palavras mais significativas porque não vinham dum ucraniano, mas dum russo: Para quê esta guerra, para quê a destruição dos irmãos? “Todo o mundo está contra a guerra”, dizia um homem na parada do metro dum bairro de Moscova; ainda que a maior parte da sociedade russa calasse por medo.
O “Não à guerra!” foi de contado um clamor mundial. Este lema não era o “monotema dos milionários progres de sempre, com zero análise”, como dizia um comentário criticando o claro editorial do Nós Diário na passada sexta-feira, onde a diretora começava: “A guerra nunca pode ser o recurso para resolver o litígio entre os povos”; o comentário rematava com um tristíssimo e injustificável “Sim à guerra!”.
Não me importam as causas do ataque. Ainda sabendo que Putin não é o único culpável de que o conflito com Ucrânia rematasse num ataque violento a um país soberano, e que o belicismo de USA e o cerco da NATO não estivessem isentos de culpa, a agressão bélica parece-me a obra dum psicopata autocrata e despiedado que, com a sua guarda pretoriana, governa com mão implacável um dos países mais armados do mundo. Por isso, um titular como “Rússia decidiu não seguir aguentando mais” –que vi neste jornal [em alusão ao Nós Diário]– pareceu-me perigoso: Não há nenhuma justificação para esta agressão violenta; se havia um conflito, cumpria solucioná-lo pela via do diálogo.
Não há nenhuma justificação para esta agressão violenta; se havia um conflito, cumpria solucioná-lo pela via do diálogo.
A invasão militar era-nos tão absurda que não nos resultava acreditável quando USA repetia que era iminente. Os mesmos ucranianos despertavam na quinta-feira incrédulos, coma os da conhecida canção italiana da resistência: “Stamattina mi so’ svegliato e ho trovato l’invasor”.
Não damos aprendido da história. Nenhuma guerra tem justificação, ainda que se chame “de libertação”; pois não deixa trás de si mais que morte e destruição: tanto para homens, mulheres e crianças inocentes, como para os homens/mulheres soldados, jovens enviados por velhos desde os seus escritórios. Há guerras porque há armas que dão poder; cumpre acabar com as armas e com o poder que elas dão.
[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]