A nossa língua está em perigo?

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Polas filhas dos nossos filhos. Sim, é assim que vai ser a convocatória da manifestação do dia 8 de fevereiro em Compostela.

Nesta cita vai sair um clamor que do nosso País irá encher o mundo.

Cá gerou-se a língua mais antiga da península nascida do latim. Com aquele sotaque cantareiro que o seu substrato celta lhe imprimiu e nos é tão querido e, ainda, nos dá tanta vantagem para ouvidos sensíveis. Com certeza. A nossa fala ficou na Terra mãe e Berço da língua, aquecida nas lareiras e nos contos nascidos dos colos das mães.

O idioma é o nosso património mais valioso, mas nem é o único que está em perigo neste momento histórico. O desprezo polo próprio vai acompanhado póla ignorância que caminha à par da incultura. Incultura manifesta em toda aquela gente que nem sabe nem quere falar em galego, como não se importa se a nossa paisagem fica inçada de eucaliptos, se os nossos rios morrem em inúmeras barragens ou os nossos montes som violados por pedreiras em aberto que mostram as feias tripas da terra ferida.

Não há pior cego que quem não quer ver nem pior surdo que o não quer ouvir.

Galiza é uma terra rica. «Tem vales e montanhas e terras pra lavrar», mas é interesse dos que governam terem um povo desinformado. Por isso nos fazem ver que somos um país periférico quando somos o nariz da Europa. Tudo passa por diante das nossas costas (malgrado o Prestige). Temos uma situação geográfica privilegiada da qual, se tivermos boa gente a nos governar, saberiam tirar proveito. Infortunadamente, a incultura de que falo acima faz-nos elegir desleixados para gerirem os nossos interesses. Porque não cremos em nós como País.

Nunca virá de fora a solução dos nossos problemas. Como povo maduro, teremos que aprender a consertar por nós as questões relativas à nossa sobrevivência. Aprendermos a nos olhar no nosso próprio espelho, nunca no espelho que prepararam para nós da Espanha, de Madrid, míope das diferenças dos povos que compõem o estado espanhol.

Num programa de TV, feito na Galiza e para galegas, a condutora (Fernanda Tabarés/Tavares), perguntava ao presidente da Real Academia da Língua Galega o que diria a uma moça de 13 anos para a convencer de utilizar o galego como língua normal. Eu creio que uma menina desta idade é muito influenciável à aceitação por parte do grupo, mas eu perguntar-lhe-ia aos seus pais porque não lhe falam em galego na casa. E diria mais: por que senhores que se consideram a si próprios como cultos não utilizam o seu idioma para falarem em público? Como acontece com esse programa da V Televisión, não vem que é um signo de incultura?

Ainda, eu faria, em geral uma pergunta que escutei a uma psiquiatra muito amiga:

-Que che pode passar se…? Se falas em galego? Se conheces o teu idioma? Se defendes o teu património? Se defendes o teu?

Eu faço essa simples pergunta a todo o povo da Galiza. E falo pola minha experiência:

A mim foi-me bem.

Foi bem nas minhas aulas, no trato com as diferentes pessoas que levo conhecido na minha já longa vida. Foi-me bem em Madrid, onde tive que ir fazer as oposições (não falava galego lá, mas o meu sotaque era muito cantareiro e visível, o que sempre me valeu o alcunho respeitoso da Galeguinha, que me favoreceu em múltiplas ocasiões). Poderia referir aqui muitas anedotas que guardo para quem mas quiser escutar (gosto de contar estórias).

Por princípio, nada mau vai acontecer a quem fale em galego e, ainda, ajudará para aprender outras línguas, pois é bem sabido que o monolinguismo, como é o caso da Espanha, dificulta muito o aprendizado de idiomas. Em quanto às pessoas plurilingues, têm muita mais facilidade para introduzirem uma terceira ou quarta língua. Ainda, a nossa língua é extensa e útil, pois da mão de Portugal viajou por todo o mundo, onde se anovou e revitalizou.

Uma língua dificilmente sobrevive se não intercambia, permeia e faz simbiose. É como um ser vivo: isolado, volta-se muito frágil, perde vida e acaba por ser de grande vulnerabilidade; qualquer mudança ambiental acaba com ele. Isso está a acontecer também ao galego da Galiza.

Devemos ler mais literatura de países de fala portuguesa, vitais, criativas e jovens. Como Pepetela de Angola, Mia Couto de Moçambique, ou o mundo imenso do Brasil. Por não falar da diversa e rica literatura portuguesa. Que tão boas relações mantiveram com os nossos intelectuais! Eu ouvi dizer ao professor Rodrigues Lapa que para ele a maior honra era ser considerado da Geração Nós, como Castelão, Outeiro Pedralho ou Carvalho Calero, e tantos outros e alguma outra. E, ainda, recomendo ler o Padre Sarmento, que já dizia em seu tempo que era necessária uma gramática galega, mas que tendo a portuguesa do Padre Pereyra, bem poderia valer para nós. Ou o Padre Feijó (pronunciado à galega, por favor, não á espanhola!!), que incidia na nossa pronúncia que os castelhanos tinham dificuldade em praticar, quer na do j, do x, ou na nasalização dos finais que em castelhano se representam por n e em português por m, ou no artigo da unidade.

Temos um problema. É certo. Mas eu creio que está nas nossas mãos a sua solução. Podemos consertar o futuro da nossa língua e do nosso património, se os diferentes atores sociais se põem com seriedade e generosidade a isso. Os coletivos de professorado de galego que espabilem e se ponham a trabahlar no bem comum, não apenas em cumprir o seu horário. Em ADEGA consideramos que a língua faz parte do nosso património a defender, junto com a diversidade ambiental. Juízes, funcionários/as, comerciantes, que comprovem que falar galego nada mau lhes faz, e, ainda, beneficiá-los-á. As moças de 13, 14 ou mais anos, vão ter mais amigas e ainda vão engatar melhor. As locutoras de TV melhorarão a sua aceitação e o País será mais rico, alegre e vivo. E os seus habitantes também.

NOTAS:

  1. Figueroa Panisse. A Minha Língua Uma Pedrinha de Açúcar.Portal Galego da Língua.
  2. A. Figueroa: A Escritora Galega na Encruzilhada. Portal Galego da Língua.
  3. A. Figueroa. Galegas No Econtro Internacional de Escritoras em Brasília. Portal galego da Língua.
  4. Pensado J.L. Frai Martin Sarmiento Testigo de su Tiempo.
  5. Frei Martim Sarmiento, Onomástico Etimologico da Lingua Galega.
  6. Castelão : Sempre Em Galiza.
  7. Manuel Maria. Obra varia.
  8. Benito Jerónimo Feijó. Teatro Crítico Universal  tomo I 1726, discurso XV- Paralelo entre las lenguas castellana y francesa  IV -15  “dentro de espana parece a castellanos y andaluces humilde, y plebeya la articulacion de la Jota y la Ge de portugueseas y gallegos, pero los franceses que pronuncian del mismo modo la ch, escuchan con horror la pronunciación castellana”. VI-27 “… el lusitano;  en el que advierto se debe incluir la lengua gallega, como en realidad indistinta de la portuguesa, por ser poquísimas ls vozes en que discrepan, y la pronunciación de las letras en todo semejante.”