Hoje [23/09/2025] foi inaugurada a Cátedra Carvalho Calero da Universidade de Santiago. Ao cargo desta estará o Professor Catedrático da USC Carlos Quiroga. Hoje foi um dia grande!. Poderia haver mais pessoas no público, mas as que estavam chegaram e foram as melhores. Faltaram alunos da Universidade. Teriam aprendido quem foi o Professor Carvalho Calero e sua significação na Literatura galega, na cultura do País e na sociedade, já desde o tempo que foi nos aliciantes anos pretéritos ao “alzamiento nacional” ( golpe de Estado) de Franco. A época franquista que durou mais de 40 anos, e os alvores da chamada democracia espanhola.
Mas isto também pode ser explicado por ser os primeiros dias de aulas e estarem ainda colocando-se nos seus lugares. Apoussando as novidades do curso que começa.
Ricardo Carvalho Calero mostrou seu compromisso social desde muito novo. Já no 1930 foi o primeiro estudante encarregado de representar ao alunado da Universidade na inauguração do curso. Com um discurso em que exigiam uma maior integração da Universidade galega no próprio país, mostrando seu compromisso com a língua e cultura galegas. Uma petição bem moderna para a época. E de caráter revolucionário polo que implicava de dignificação da nossa Língua e Cultura. Dizia que os estudantes de Santiago queriam uma Universidade Galega “de corpo inteiro”. A galeguização da Universidade. Já na altura, pediu uma cátedra de Língua e Culturas galegas para Compostela. Foi , nesse sentido um precursor. Dous anos depois Francisco Fdez del Riego foi o encarregado deste papel, voltando a incidir no discurso pioneiro de Carvalho pelo que diz a respeito do âmbito universitário Galego. Mas, não foi até o ano 1972 que foi dotada esta cátedra e ele , Carvalho, o primeiro catedrático de Língua e Literatura Galega da Universidade de Santiago.
Eu não pude menos que recordar a primeira assembleia a que assisti em Santiago no ano 1968 em plena revolução estudantil ( abril do 68 ). No hall de entrada da faculdade de medicina, cheio até o teito, um estudante começou a falar em galego rompendo a tónica geral de ser o castellano a língua das assembleias e da oficialidade em geral. Um barulho imenso tentou calar ao corajoso estudante. Em castelhano para que todos entendamos!!. Aqui há pessoal de diferentes partes de Espanha!. Uns gritavam uma cousa outros outra. A emoção de estar a escutar a nossa língua em público, sem vergonha, com naturalidade e com toda a dignidade, bloqueou-me. Algo havia que dizer para apoiar ao estudante atrevido que rompia a norma inconscientemente aceite. Em galego, !em Galego! Começamos a gritar umas quantas. O rapaz seguiu seu discurso no nosso idioma superando apupos, e rosmares em contra. Quem soubera que já 35 anos antes tinha havido outro estudante exigindo o respeito e a utilização da nossa língua e da nossa cultura.
Nada sabíamos da nossa história durante a ditadura franquista, nomeadamente da mais recente. Aquela que tivera que ver com a cruel guerra civil feita por Franco e os fascistas e que, com a derrota do exercito republicano, que defendia a legalidade política e social, abriria uma etapa escura e triste para todos os habitantes de Espanha. Carvalho foi desde os seus inícios, uma pessoa comprometida com seu país, sua sociedade e com suas amizades. E isso costou-lhe bem caro: Perdida de liberdade, perigo de condena de morte, separação da Cátedra que ganhara pouco antes do levantamento das tropas fascistas de Franco,etc.
Muitos anos de penarias e soidades que ele investiu em trabalhar na literatura, gramática galega e obras de criação literária, para alem de dirigir o prestigioso colégio Fingoi de Lugo. Em quanto fazia a sua tese.
A sua coerência foi a que o levou a sua grandeza como estudioso, investigador, professor e cidadão. Essa coerência fiz que se alistasse no exercito da Republica. Primeiro nas milícias da FETE e depois nomeado capitão deste exercito defensor da legalidade republicana. A mesma coerência fiz-lo compreender que se o galego era a língua mãe do português, mas relegado e submetido ao castelhano como língua oficial imposta desde o estado espanhol, deveria ter evoluído como o fizera o português desde que era língua de um país soberano. Também como bom conhecedor da literatura galega e portuguesas as cantigas medievais mostram a imagem da nossa língua quando esta não estava ainda corrompida polo castelhano. Desde ai parte a nossa história bem antiga, bem honrosa, bem viçosa.
O galego, ou é galego-espanhol, ou é galego-português. Essa era uma das frases que se lhe adjudicam. Na atualidade o galego chamado oficial é uma língua que toma do castelhano as normas ortográficas e morfológicas, convertendo-se num misto que nem é Galego nem é Espanhol.
Temos uma língua, ainda, que é falada com poucas variações por mais de 260 miliões de pessoas no mundo, como disse Castelão e também em seu discurso o Sr Valentin Garcia Secretário Xeral de Política Lingüistica.
Dom Ricardo Carvalho fiz por coerência, o que proclamava Castelão,: “A nossa língua é estensa e util, falada por milhões de pessoas no mundo”. Como disse o Dtor Carlos Quiroga, “Carvalho está em Castelão. E também em Rosalia. Ele é o Big Bang de Castelão”.
O Doutor Martinho Montero Santalha lembrou os principais feitos da vida e obra de Ricardo Carvalho Calero, sem esquecer sua faceta mais apreciada, a de ser um enorme poeta.
Interveio também o Reitor da Universidade Doutor António López, quem gabou a figura de Dom Ricardo e congratulou-se do logro da Cátedra Carvalho Calero.
Foi um ato entranhável, consistente, bem documentado e de justiça para um homem que tudo o deu a favor de seu país, Galiza.
Como ele mesmo me disse um dia: Eu tive um só Partido, O Partido Galeguista, e não vou pertencer a nenhum outro.
Querido Dom Ricardo, muito obrigada polas tuas ensinanças, pola tua alegria, generosidade e por teu exemplo.
Oxalá houvesse mais carvalhos na Galiza, que param o fogo e criam uma fresca sombra na frouma da floresta. Carvalhos rexos e fortes, que estendem suas raízes polo subsolo da fraga confundindo-se com a Terra. Resistentes com a coerência do País.
“Terrinha que nos criou”…
E menos eucalitos, que ardem e estendem o lume a toda Galiza. Destruindo os aquíferos contaminando o solo sem frouma, e eliminando a vida autóctone complexa e diversa.
Aquelas carvalheiras dar-nos-hão coragem para seguir defendendo esta terra abençoada.
“Somos as pacifistas que andam dando guerra”
