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Xurxo Martínez: “Som diferentes âmbitos nos que cumpre trabalhar, há um excesso de confiança no ensino”

Após mais de quatro décadas de oficialidade do galego, os dados sociolinguísticos continuam a marcar mínimos históricos no uso. Para compreender o que acontece e poder intervir para reverter esta situaçom, hoje falamos com Xurxo Martínez, Técnico de Normalizaçom Linguística do concelho de Redondela.

Agora que sumamos mais de 4 décadas de oficialidade do galego, como avalias este período?

Há partes positivas, por exemplo, a introduçom da normalizaçom do galego em âmbitos em que antes nom existia, sobre todo a Administraçom ou o ensino. E logo pequenos avanços em outros âmbitos, como o jurídico e na sanidade. É certo que isto foi devagar até a época do conflito com o tema do bilinguismo, com Galicia Bilíngue e Feijoo. Aí é que se abre umha veta, a partir de 2007-08, com isso de “por que tem que estar todo em galego?” Isso também provocou que determinadas atitudes linguísticas, que ainda estavam latentes e nom se expressavam publicamente, agora se abram dumha maneira mais visceral. O ensino nom foi capaz de atingir os objetivos que ultrapassam o conhecimento da língua. Um deles é este: a consciência do valor patrimonial da língua. Antes, quando vinha umha pessoa e tu falavas em galego, mudavam, ainda sendo castelhano-falantes. Agora mesmo passa ao contrário. No nosso caso, por exemplo, o concelho de Redondela tem como língua oficial o galego e parece que és um grosseiro ou que é o teu dever mudar de língua. Há umha mudança de atitudes mui notável e isto é resultado dumha política linguística.

Há poucos meses, as estatísticas situavam o galego por baixo do uso maioritário, por primeira vez na história. Que medidas cumprem para reverter o processo de substituiçom linguística?

Era umha evidência. O PXNL (Plan Xeral de Normalización da Língua Galega) é da época de Fraga, impulsionado por ele quando saírom os dados de que o galego podia ser umha língua em perigo. Já na altura os dados eram evidentes. A mortandade de galegofalantes é muito superior à natalidade de galegofalantes. É lógica pura. Frente a isso foi estabelecido um plano mui ambicioso, que foi o Plan Xeral, acordado por unanimidade. A gente pode ler a introduçom de Manuel Fraga sobre isto, nom havia discussom porque os dados eram evidentes. E seguem a ser evidentes. Há que intervir sobre essa situaçom. Quem queira dizer que tratar o tema da língua é politizá-la é absurdo, porque em verdade é politizar os serviços sociais, é politizar o urbanismo, é politizar todo. Claro, é umha decisom política, que a Administraçom tem que resolver a política linguística.

Entom, neste sentido, a sensibilidade que havia no médio dumha cultura que procedia dum delicado equilíbrio entre tardo-franquista, gente que se reconverte ou se adapta ao novo regime, e antifranquistas rompeu. Havia umha série de acordos nom explícitos que eram comuns, neste caso a cultura, a língua, etc. Com todos os seus altos e baixos e choques, que nom estou a dizer que todos concordassem, mas havia um espaço de entendimento. Ademais, é o que o estatuto di: fomentar a nossa cultura. Agora voltamos a discutir se a língua própria da Galiza é o galego. Isto nom o diria Fraga, Feijoo si. Mas claro, há determinados médios e determinadas pessoas que pensam que tenhem títulos em determinados ambientes e que podem dizer estas cousas e ficar assim. A gente é mais de Wikipédia que de academia; na nossa sociedade o nosso principal ponto de informaçom é a Wikipédia, e aí pode entrar qualquer pessoa e modificá-la. Entom, se um senhor di, num periódico como La Voz de Galicia, que o castelhano é tam próprio de Galiza como o galego, pois é umha estupidez filológica, mas há quem diga “es verdad”. Com isto quero dizer que os dados som evidentes. A descida é evidente. A descida da qualidade também é evidente. Portanto, se tu vês uma pessoa doente, com pinta de cronificaçom, terás que intervir sobre o paciente. Neste caso nom há intervençom e dim “a gente é livre”. Claro, a gente é livre dependendo das circunstâncias. Tu nom podes dizer a um coxo que corra com um tipo que fai deporte todos os dias. “Ah, é livre de correr”.

Agora voltamos a discutir se a língua própria da Galiza é o galego. Isto nom o diria Fraga, Feijoo si.

Existe aquisiçom de material em português ou contrataçom de artistas da Lusofonia para a programaçom cultural do teu concelho? Como pensas que poderia ser tida em conta a língua portuguesa no teu concelho para reforçar a normalizaçom linguística?

Por um lado, com qualidade linguística refiro-me sobretudo às variantes dialetais. Há umha simplificaçom de pares léxicos: o pessoal nom di “bilha” se pode dizer “grifo”. Dizem “bisagra” e nom “gonzo”, “silha/cadeira”. A partir desse esquema, nas variedades, nom só dialetais, mas variedades em que existem pares léxicos, o castelhano predomina. Depois, enquanto a neologismos e outras incorporaçons léxicas, o português é a nossa base. O português procede do galego e conforma-se com independência numha situaçom linguística cum estado próprio. Durante este tempo tem um processo linguístico independente do castelhano e nós temos umha pressom linguística. Eles som filhos nossos. Isso no livro de Fernando Venancio está mui bem explicado, quando o Afonso Henriques proclama a independência de Portugal: o dia antes e depois que falava? Galego. Galego medieval.

A respeito disto, nós, o Concelho de Redondela, estamos irmanados com a vila portuguesa de Monção. Entom, sim que tentamos favorecer intercâmbios linguísticos com o alunado, temos alguns projetos, como, por exemplo, “Literaturas irmás”, na que trocamos livros das bibliotecas públicas. O primeiro ano, por exemplo, nós enviamos os livros de Manuel Rivas e eles mandaram livros de Saramago. E chegáramos a fazer um encontro os clubes de leitura com Manuel Rivas em Redondela. É um jeito de verem que eles falam português, nós galego, e nom há nenhum problema para nos compreender.

A respeito disto, nós, o Concelho de Redondela, estamos irmanados com a vila portuguesa de Monção. Entom, sim que tentamos favorecer intercâmbios linguísticos com o alunado, temos alguns projetos, como, por exemplo, “Literaturas irmás”, na que trocamos livros das bibliotecas públicas.

Isto figemo-lo cada 3 meses, alternando autores e autoras, e logo com a pandemia parou-se. Mas bom, estamos a desenvolver também outras atividades.

Agora estamos a propor as crianças fazerem umha espécie de folhetos turísticos de intercâmbio, do que elas ensinariam às crianças portuguesas e o que as crianças de Monção ensinariam às redondelás. Isto também é umha forma de ver como as crianças percebem a vila onde vivem, e há cousas mui curiosas. Por exemplo, há crianças aqui que destacam o aeroporto. Nom lhes importa a igreja renascentista, ou os viadutos. O ensino é umha parte importante, temos umha coordenadora de responsáveis de normalizaçom de cada centro público, tanto institutos como colégios, e ao início de ano estabelecemos as atividades. Entom, tratamos de oferecer atividades a distintos níveis: conferências, conta-contos… por exemplo, acaba de estar Carlos Callón num instituto. Este ano estamos a fazer também umha recolha como de antropologia, para a rapazada falar com os avôs e avós, dos quatro institutos, com quatro temáticas distintas. Há umhas perguntas básicas para abrir o diálogo e depois haverá quem queira desenvolver e haverá conteúdos mínimos. Nesta linha, procuramos também que nem todo seja literatura. Este outro enfoque permite eles conhecerem a vida do seu lugar, dos seus devanceiros e estabelecerem umha relaçom que se calhar antes nom pensaram, e permite eles observarem que falam dumha maneira algo distinta de como se fala na TV e na escola. Com isto, haverá quem crie laços afetivos e este é um dos lugares que temos que defender: o traço afetivo da língua. Há muita gente em Vigo que já nom tem avós que falem galego nim aldeias. Se nom os unem a algo que os poda rememorar, para que serve o galego? Para nada.

Qual é o teu papel ou o da equipa/serviço de normalizaçom linguística no concelho de Redondela? Quais som os principais desafios do vosso trabalho?

Pois nós somos o serviço de Normalizaçom mais antigo da Galiza, criou-se no ano 82, antes incluso que a própria lei de Normalizaçom Linguística que é do 83. O seu promotor foi Pepe de Redondela, conhecido como Pepinho de Teis durante o franquismo, dirigente da UPG.

Xurxo Martínez, de pé, com Pepe de Redondela, promotor e diretor do SNL de Redondela.

Entom, desafios? Há umha parte técnica e há umha parte política. Eu podo lançar muitas propostas técnicas, mas tem que haver vontade política de realizá-los. Um dos retos que temos diante é a bonificaçom da sinalizaçom de comércios em galego. Se a nível municipal se estabelecem umhas linhas de ajuda aos comércios, para atualizaçom informática, melhora da acessibilidade, etc. Pois aí há um apartado que está dedicado à língua e que suma pontos. Que critérios estabelecemos? Pois mudança para o galego da sinalizaçom, que todo tipo de informaçom da montra esteja, como mínimo, em galego. Nós a nível administrativo nom podemos obrigar, nós o que temos que fazer é ser protetores. Polo menos em galego.

Mas colocamos as bases para que se perceba que a aposta no compromisso linguístico também tem um resultado material. Nom podemos pensar que todo som militantes da língua, temos que criar umha espécie de recompensa.

É há muitas pessoas galegofalantes que tenhem os seus estabelecimentos em castelhano, por inércia social. Porque sempre se fixo assim.

Umha anedota: estava numha loja de ferragens fazendo umha cópia de chaves. O dono falando castelhano. Entrou umha senhora dumha paróquia e falou em castelhano também. Os dous com um sotaque e formas que eu, por deformaçom profissional já dixem, som galegofalantes. E efetivamente, ao volver-se a senhora, dixem-lhe umha cousa em galego e contestou em galego. Depois falei com o senhor e ele também falou em galego. Os dous um galego natural. E depois dixem-lhes, é curioso. Tu falas-lhe em castelhano porque vem de fora. E ela que vem da paróquia fala castelhano porque baixa à vila. E, na verdade, sodes os dous galegofalantes. E diziam, “claro, si, e que nunca sabes quem pode entrar, porque a gente pensa que tal…”. Ou seja, que há determinados prejuízos linguísticos que seguem mui instalados. Entom, devemos trabalhar aí.

Xurxo Martínez retratado por Hadrián Márquez.

A associaçom de empresários de Redondela, que som praticamente todos os comerciantes da vila, sobre duzentos associados, tenhem o galego como língua oficial. Mas daí conta 200 estabelecimentos, em que trabalhem, pom-lhe 400 pessoas, que tenham umha família (filhos/as, irmás, tias…) ampla ponhamos de 10 pessoas. Estamos a falar de 4000 pessoas. Entom, esses setores som mui importantes. Porque ao final o ensino, sabemos o que passa: professorado que tem que falar o galego nom o fala. Atividades extracurriculares, comedor… todo em castelhano. Logo mandam circulares e notas internas que sim está todo em galego, mas a prática de muitas pessoas do professorado é castelhana. Assim que também é importante o reforço nos espaços de adultos, quando as crianças saiam da escola, que sintam que o galego nom é apenas cousa das aulas de galego.

O desporto é outro desafio: por que nom meter a língua nas equipas de futebol ou de andebol, ou de futebol-sala, ou de remo?

No site de turismo do concelho, por exemplo, nós incluímos um apartado que é o património imaterial, a língua. Que salta já na portada principal, junto a onde comer, que visitar, etc. E aí, língua galega. Um vai a outro país e gosta de aprender e ver como dim umha cousa, ou outra. É património imaterial. Som diferentes âmbitos nos que cumpre trabalhar.

Mesmo detalhes, como que os bilhetes dos comércios estejam em galego. Um dos grandes reptos vai por aí. Nom digo descuidar o ensino, mas digo que há um excesso de confiança no ensino, e os resultados som os que som.

Que necessidades observades no dia a dia? 

O problema do galego é de vontade política, nom é orçamentário, dinheiro há, quase sempre. Outra cousa é em que se queira priorizar. O problema é fazer atividades de normalizaçom desde concelharias de cultura, ensino, património, turismo. As atividades de normalizaçom som transversais. Pode ser o que falávamos antes do comércio, pode ser um curso de formaçom em linguagem administrativa. No caso do nosso concelho, normalizaçom linguística depende diretamente de alcaidia. Na estrutura hierárquica dum concelho, se a alcaldesa dá o OK, toda a estrutura que está por baixo tem que cumprir. Deste jeito, o dinheiro nom sai da partida de normalizaçom linguística, vam sair da partida correspondente à área, seja turismo, seja comercio, o departamento que corresponda. Há concelhos onde normalizaçom depende de cultura, isto é um problema. Mas aqui em Redondela nom houve problema com isso. Eu entrei há 6 anos, com um governo do PP, agora está o PSOE, e temos falado e avaliado diferentes propostas concretas em funçom do que cada quem pensa do idioma. Mas o facto de ser dependente de alcaidia nunca foi posto em dúvida.

O problema é fazer atividades de normalizaçom desde concelharias de cultura, ensino, património, turismo. As atividades de normalizaçom som transversais.

Entom, claro, temos desenvolvido propostas como que todos os parques infantis tenham o nome de personagens importantes da cultura galega, agora estou na fase de que seja aceite que os pregos de contrataçom com empresas consultem comigo os desenhos de intervençom urbanística. Por exemplo, temos o parque de Xohana Torres, pois que o acolchoado que está no cham, em vez de ter figuras geométricas sem sentido, tenham um desenho que reproduza umha palavra, ou o rosto de Xohana Torres, ou algo em relaçom com ela. Porque ao final estes som espaços de socializaçom. Nom é o mesmo passar por Alameda de Castelao, e alameda de Rosalía de Castro, que por umha avenida General Mola. Em Redondela temos umha bandeira galega na Alameda e nunca houve problemas com isso. Içou-se a bandeira um 25 de julho e estivérom representantes de todos os partidos. Também porque à hora de fazer isto nom importa tanto a reivindicaçom explícita, o que importa é ter um argumento neutro que todo o mundo aceite. Finalmente o que queda é a bandeira galega presidindo umha alameda que leva o nome de Castelao. Que é um dos espaços mais fotografados da vila, em todos os atos, concertos, etc. Converte-se numha referência.

Qual é a fotografia linguística que imaginas dentro de vinte anos?

Eu nestas cousas, nom me fago ilusons sobre o que gostaria. Eu o que fago é, sobre a realidade que tenho, o que devo fazer para a mudar? Trato de analisar o futuro, onde temos que intervir e como. Mas nom gosto de imaginar como forma de escapismo. A minha responsabilidade é ativar a sociedade para que se implique no processo de normalizaçom. Há que criar lugares, parar-se a pensar, jogar muito com a ideia de que é um património imaterial com mais dum milénio. Ter a consciência da importância patrimonial, em paralelo ao valor prático, que seja útil, se tenha incentivos, como o que falamos do comércio. Por exemplo, nós propugemos aos albergues que nomeiem os quartos com palavras ou personagens galegos, e que tenham um QR em que podam descarregar mais informaçom, em galego e em inglês. Há quem propunha esse bilinguismo galego-castelhano, e nós imos propor galego inglês. E a razom é mui simples: nom achamos que a ninguém castelhano-falante lhe custe perceber determinadas palavras em galego. E se nom as entende, todo o mundo tem Google Translate. Mas partir da ideia de que somos grosseiros, ou de que o pessoal que fala castelhano é incapaz de entender o que é “xardin” é a última gota de água.

E como o vejo de aqui a 20 anos?

Eu nom acho que o galego vaia desaparecer, nom acredito nestes discursos derrotistas, há umha consciência linguística em determinado espaço social galego que nom o vai permitir nunca. Que se fale melhor ou pior, podemos discuti-lo. Se som gente do rural ou gente da cidade com consciência linguística, podemos discuti-lo. O problema será que a consciência linguística tem a percentagem que tem. Há muita gente que tem o galego como língua natural, mas que nom o defenderá, que será o idioma da casa, gente que fora da casa fala castelhano. Aí vai desaparecer. Por isso temos que intervir. Fazer figuraçons do que gostaríamos é umha forma de escusa para nom intervir. Se o meu trabalho é ir à associaçom de empresários e falar com o gerente, com a diretiva, e procurar um que esteja a favor do galego, pois tem que pedir umha reuniom e explicar porque é importante. Nom é apenas dar umha subvençom para se escrever todo em galego. Cumpre estender a consciência.

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