Xosé Cabido começou a trabalhar arredor das masculinidades com os seus alunos do IES Fontexería de Muros há seis anos. Nos seus obradoiros questiona os mandados de género que o patriarcado impom aos homens e considera que este é um trabalho fundamental para avançar cara a igualdade. Numha longa conversa telefónica, da que aqui só podemos recolher umha pequena parte, expom as linhas fundamentais deste labor formativo. Cabido, além disto, quer fazer alguns chamados: que os discursos sobre a deconstruçom da masculinidade entrem na universidade e que os contos para as crianças incorporem modelos diferentes aos da Disney.
Quando começaste fazer este trabalho com moços?
A primeira vez que separamos homens e mulheres foi em Muros há uns seis anos. Eu estava no equipo de igualdade e umha das suas pessoas responsáveis transmitiu-me a necessidade de trabalhar só com as moças, pois muitas vezes nos debates elas nom intervinham e nom podia abordar certos temas. E dizia que os moços também precisavam que alguém lhes falasse arredor da igualdade, e que seria bom que fosse um homem. Começou para que elas tivessem um ambiente em que se sentir-se livres para expressar-se. Eu colhim os homens, num princípio com muito medo pois nunca figera algo assim e havia mui pouco material disponível. Entom imaginei o que necessitaria que me dixessem aos quinze anos. O primeiro dia já foi um sucesso. Figemo-lo no nosso horário livre e logo em tutorias. Começou sendo um obradoiro de um par de unidades e logo já chegamos às oito. As moças começárom a falar mais e a empoderar-se. Mas os moços necessitam falar destes temas desde outra ótica, precisam liberar-se do peso do que chamamos a “mochila” heteropatriarcal. Começamos em 3º da ESO, que é a idade em que começam a aparecer as questons emocionais e relacionais, e logo fazia-se outro obradoiro em 1º de Bacharelato e, às vezes também em 2º.
Em que consistem os obradoiros?
Basicamente divide-se em duas partes. A primeira é desconstruir o conceito de sexo e género. A linha é sempre fazer perguntas e duvidar sobre o que nos mandam ser. Eu no princípio saio do armário, como heterossexual. Falo-lhes de que som heterossexual e que creio na igualdade. Essa é a segunda parte: assumo que fum e que som machista, por estar inserido numha cultura machista. Nesse sentido tenho que reflexionar e desconstruir o que me levou a ser machista. E mostro que o feminismo nom é umha ideologia contra os homens, senom umha ideologia libertadora contra o patriarcado. E esse patriarcado nom só fai dano aos homens diferentes ou as mulheres, também fai dano aos homens heterossexuais. Centro-me por um lado na ideia da liberdade, de que nom escolhemos quem queremos ser. Em como os companheiros, que eu chamo de “machinazis”, nos obrigam a ser, pois som os que vigiam que nom saiamos do mandado masculino.
Centro-me por um lado na ideia da liberdade, de que nom escolhemos quem queremos ser. Em como os companheiros, que eu chamo de “machinazis”, nos obrigam a ser, pois som os que vigiam que nom saiamos do mandado masculino.
Os moços precisam falar de sexualidade, pois é umha pulsom natural e começa a despontar nessa idade. Recebem, e assim o reconhecem, mensagens sexuais diariamente através da publicidade: que imos ter centos de mulheres pola colónia que empreguemos, que teremos umha sexualidade ampla… mas isso nom é certo e logo venhem as frustraçons. Eu falava-lhes da minha vida privada como macho, as cousas que figem mal e os sofrimentos que tivem. E falo-lhes da pornografia, pois assumo que a consomem. A ideia é falar da pornografia como umha educaçom nociva, para as mulheres mas também para os homens. Aqui o que se aborda é que o desejo pode educar-se. Todo isto remata sempre com perguntas e eles escolhem.
Falo-lhes dos cuidados. Os cuidados som bons para a pessoa que os recebe, mas também para quem os dá. Se o fai bem, de algumha forma melhora a sua relaçom com a outra pessoa. Outro elemento de grande importância é a figura do pai, e aqui muitas vezes aparece muita tristeza nas caras dos moços.
Falo-lhes dos cuidados. Os cuidados som bons para a pessoa que os recebe, mas também para quem os dá. Se o fai bem, de algumha forma melhora a sua relaçom com a outra pessoa. Outro elemento de grande importância é a figura do pai, e aqui muitas vezes aparece muita tristeza nas caras dos moços.
O tema mais delicado é ao final, o do contato entre homens. Conto-lhes que o meu corpo de homem heterossexual pode ser tocado por outros homens. E questiono: Por que as mulheres heterossexuais se abraçam entre elas, dormem juntas, vam da mao, dam-se beijos… e os homens heterossexuais nom o fam entre eles? Nom seria bom chorar e que nos abrace um amigo ou abraçar-nos mesmo dormidos? O problema está na nossa cabeça e numha educaçom que reprime esta possibilidade.
Como vês que se reproduzem agora as violências patriarcais que se dam na adolescência nos liceus?
No caso masculino continua havendo muita violência. O que acontece é que a dia de hoje há menos tolerância a todas as violências. Segue havendo umha violência, talvez mais bem psicológica, para nom sair-te do mandado patriarcal. E também, em menor medida, há violência física. Acho que a educaçom está a diminuir a intolerância, ainda que a violência continua a existir. Por isso é mui importante a educaçom.
Eu som de natureza otimista, e acho que há um bom trabalho em geral do professorado galego que está a dar frutos. O perigoso, do meu ponto de vista, é que pensemos que nom é necessário seguir trabalhando. Há dous riscos ideológicos com os moços: um é que vejam o feminismo como um ataque, e é algo que intento trabalhar com eles; e o outro é pensar que a igualdade já está conseguida, que por estar sentadas ao lado já somos iguais. Há que ensinar-lhes a dirigir a mirada além do que se nos mostra. E esse é um trabalho que temos que fazer os homens todos, especialmente os heterossexuais, e reconhecer que somos uns privilegiados e que temos que baixar um degrau nesses privilégios.
Há dous riscos ideológicos com os moços: um é que vejam o feminismo como um ataque, e é algo que intento trabalhar com eles; e o outro é pensar que a igualdade já está conseguida.
Há que mostra-lhes outros modelos de masculinidade. O primeiro é o pai, que tem que variar, mas também os meios de comunicaçom tenhem que buscar outros referentes. Esses modelos som importantes para evitar a violência. É mui importante falar-lhes aos jovens diretamente sobre o que é ser homem. A minha ideia é que podem ser muitos homens. Nom há um único homem, podem ser muitos e todos som respeitáveis.
O que opinas da expressom ‘novas masculinidades’? Entre outros motivos é criticado por poder ocultar umhas transformaçons do modelo hegemónico que continuam a reproduzir privilégios e violências patriarcais.
Certo. Quando comecei a formar-me neste tema empregava esse conceito mas hoje tenho‑o abandonado, por dous motivos. Um é o que mencionas. Há homens que levam a criança ao parque, fam a comida, ajudam na casa… Som homens novos a respeito dos seus pais, mas logo nom fam nenhumha reflexom sobre, por exemplo, como som as relaçons sexuais com a sua parelha. A outra razom pola que deixei de empregar este termo é que acho que homens dissidentes houvo sempre na história da humanidade. Há que recuperar e revalorizar aspetos que já havia noutras masculinidades. Também somos mui etnocêntricos, se vejo outras culturas vejo cousas que fam outros homens e eu nom. Prefiro empregar outro tipo de termos, como o de homens dissidentes. É necessário ir mais alá de levar a criança ao parque ou mudar o cueiro, que está bem, mas há que ir além. Há que fazer umha introspeçom: Quem és? Que figeste? Que tes que mudar para ainda ser melhor? E ver que todo isso podes escolhê-lo. Há muitos modelos de homens distintos que já estám aqui.