Partilhar

Xoán Fernandes: “Mesmo um sistema escolar 100% em galego havia de ser insuficiente”

Em 2021 fijo 40 anos desde que o galego passou a ser considerado língua oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegado pola ditadura franquista. Para analisarmos este período, estivemos a realizar ao longo de todo 2021 umha série de entrevistas a diferentes agentes. Agora que já estamos em 2022, queremos continuar a refletir sobre isto, mas com foco num âmbito em particular de importância estratégica: o ensino.
Hoje entrevistamos o professor de Pedagogia Terapêutica em Boiro, Xoán Fernandes.

whatsapp-image-2022-04-18-at-6-15-27-pm1Que avaliaçom fás dos resultados do ensino do galego após 40 anos como matéria troncal?
Por um lado, fago umha avaliaçom positiva: a língua precisava dum modelo culto e da sua introduçom na escola; do contrário, a maioria da populaçom nunca teria acesso à língua. De modo que serviu para umha alfabetizaçom maciça.

No entanto, fago também umha avaliaçom muito negativa. Ao olhar para os dados e o processo de substituiçom linguística, vemos que o papel que tinha que cumprir a escola nom está a dar resultados positivos. Há estudos recentes que falam disto. Cada vez mais crianças abandonam a língua.

Para mim, todo este processo de substituiçom linguística tem bastante a ver com a norma escolhida. Foi imposta a opçom normativa mais próxima do castelhano por todos os poderes que estavam por trás desta posiçom e que queriam afastar-se do português. Isto tem muita relaçom com a situaçom atual.

E da presença do galego como língua veicular no ensino público?
A única língua veicular deveria ser o galego, mas estamos mui longe disso. Cumpre dar uma reviravolta ao modelo atual, que é completamente insuficiente. Hoje a regulamentaçom di que a língua veicular na etapa de Educaçom Infantil deve ser a que for majoritária entre o alunado, e isto é terrível considerando a situaçom em que se encontra a língua. Aliás, o decreto de 2010 piorou tudo.
É certo que nom é assim tam simples; depende muito da consciência da professora ou professor. Há castelhanofalantes que fam o esforço de mudar a sua língua no centro, mas há de todo.
Na minha experiência, e mesmo estando numha escola relativamente pequena da Barbança, vejo que muitas crianças falam castelhano ou mudam para o castelhano com as outras. E isto acontece numha das comarcas mais saudáveis do país e numha paróquia com uma percentagem de galegofalantes relativamente alta.

Achas que esta presença guarda relaçom com a sua presença como língua ambiental nos centros educativos?
Claro que guarda relaçom. O que vejo é que o galego está-se a tornar umha língua ritual, com efemérides como o Dia das Letras ou o Dia de Rosalia, com os painéis informativos em galego, mas isso depois nom passa para o pátio. O essencial é que a escola poda contrabalançar a realidade fora da escola, o cinema, os brinquedos, a televisom, as famílias… O meu filho mais velho, de quatro anos de idade, fala galego na casa mas já está a mudar para o castelhano com alguns colegas, na escola. Ele muda logo, mas nom acontece o inverso, as crianças falantes de castelhano nom mudam. Nessa idade já percebem qual é a língua A. É preciso mais do que a escola, cumprem políticas transversais.

O meu filho mais velho, de quatro anos de idade, fala galego na casa mas já está a mudar para o castelhano com alguns colegas, na escola. Ele muda logo, mas nom acontece o inverso, as crianças falantes de castelhano nom mudam.

Pensas que deveria mudar alguma cousa no ensino da matéria de Língua Galega e Literatura?
Há muito que mudar, principalmente a nível metodológico. Temos que deixar os típicos exercícios descontextualizados e os manuais. Há unidades didáticas mui desligadas da realidade das crianças e acho que há metodologias inovadoras que podem ser mais atraentes. Cumprem propostas mais significativas para as adolescentes.
Quanto aos conteúdos específicos da matéria de Língua, falta o trabalho com a fonética, sobretudo com gente neofalante, pois nom tenhem referências do sotaque tradicional e a fonética perde-se. Eu estivem o ano passado a trabalhar em Ribeira e surpreendeu-me a desconexom que existe. Há muita gente que nom sabe falar e tem umha fonética superalheia.
Outro aspeto importante, no secundário e no bacharelato, é separar língua e literatura. Tinham que ser duas matérias, porque nom dá para meter todo na mesma.

Qual deve ser o papel do português no ensino? Ampliar a sua presença como segunda Língua Estrangeira? Ser lecionada dentro das aulas da matéria troncal de galego?
whatsapp-image-2022-04-18-at-6-15-27-pmA minha escolha pessoal, como reintegracionista, seria dentro da matéria de galego. Cumpriria nessa matéria conectar o alunado com umha realidade alheia para eles, que é a lusofonia, ligar com toda a produçom cultural, de literatura, cinema, banda desenhada, etc. Abrir essa fronteira penso que é fundamental. A sobrevivência da língua passa por aí.
Porém, e dependendo do contexto, entendo que na realidade atual cumpre trabalhar com ambas as hipóteses e, consequentemente, ampliar a presença de português como língua estrangeira.

Pensas que implementar linhas educativas diferenciadas (uma com imersom linguística em galego) poderia ser útil para o galego voltar aos pátios?
Penso categoricamente que nom. Para mim a única soluçom é virar cara um modelo imersivo como única opçom. Aqui o modelo basco, por exemplo, com a possibilidade de escolha, seria inviável. Na nossa situaçom, implementar e oferecer várias linhas, quando infelizmente a valorizaçom da língua é aquela que é, seria fatal para a língua. Deixar essa decisom para as famílias é um prejuízo para os direitos das crianças cujos pais nem sequer valorizam o idioma.
Eu nom vejo outra possibilidade senom um sistema único 100% em galego, e mesmo assim o contrapeso da escola havia de ser insuficiente. É o mínimo para tentarmos reverter o processo de substituiçom linguística em que estamos.

Cumpriria na matéria de galego conectar o alunado com umha realidade alheia para eles, que é a lusofonia, ligar com toda a produçom cultural, de literatura, cinema, banda desenhada, etc. Abrir essa fronteira penso que é fundamental. A sobrevivência da língua passa por aí.

Que papel atribuis ao modelo educativo inaugurado polas escolas Semente?
As escolas Semente som umha referência tanto no modelo linguístico como no pedagógico, baseando-se na criatividade, no pensamento crítico, estimulando toda a potencialidade da criança, sendo que muitas vezes a escola pública, da maneira que está organizada, parece que fai o contrário. Por outra parte, também tem muito potencial o próprio modelo democrático e assemblear de funcionamento.
As Sementes devem ser uma referência para o professorado e para as comunidades educativas do ensino público. E penso que ham de ter um papel mui significativo nos próximos anos, tanto nas cidades como nas vilas grandes, e uma importância vital sobretodo em ambientes urbanos, onde há um recuo mais acentuado do galego a todos os níveis.
A dificuldade que eu vejo para o alargamento deste modelo é que este tipo de iniciativas som sustentadas sem apoio institucional. Até certo ponto isto é bom (nom estám sujeitas a dependências económicas, ideológicas, etc.), mas precisam dumha forte componente voluntarista para se manter. É precisa umha comunidade mui ampla e com elevadas doses de entrega e trabalho, e se essa base nom for mui sólida e alargada o projeto poderá esmorecer.

Galiza plurilingue

Simón Rodríguez, venezuelano: “Falar em galego faz-me recuperar as minhas raízes”

A campanha de dinamizaçom da língua, #aquitaménsefala alarga-se por dúzias de centros de ensino

Divulgação das “Vozes Femininas de Angola e Moçambique” na Faculdade de Filologia da Universidade da Corunha entre 11 e 21 de Dezembro

“A nossa música tradicional está muito viva”

Pastéis de bacalhau

Galiza plurilingue

Simón Rodríguez, venezuelano: “Falar em galego faz-me recuperar as minhas raízes”

A campanha de dinamizaçom da língua, #aquitaménsefala alarga-se por dúzias de centros de ensino

Divulgação das “Vozes Femininas de Angola e Moçambique” na Faculdade de Filologia da Universidade da Corunha entre 11 e 21 de Dezembro