Partilhar

Um português e uma galega explicam-nos as razões do manifesto “mais galego na Europa”

Falamos com Antia Cortiças e Jorge Mendes, integrantes da iniciativa que lançou o manifesto Mais Galego na Europa, uma proposta que está a recolher sinaturas aqui, para conseguir o reconhecimento no parlamento europeu do galego como uma variante do português, idioma já oficial e no que normalmente se exprimem europarlamentárias galegas sem problemas.

Este manifesto sai despois dumha campanha, em que também participou em parte o movimento normalizador do galego, para conseguir o reconhecimento das línguas co-oficiais com o castelhano dentro do Estado espanhol. Umha proposta importante para o Pais Basco e a Catalunha, mas polémica na Galiza. Pretende ser esta a alternativa reintegracionista a aquela demanda, de finais do ano passado?

Jorge: Acredito ser acima de tudo uma proposta vantajosa para melhorar a situação do galego, pois a sua intenção é que o galego continue a ser usado no âmbito europeu, projetando-o internacionalmente, e para mais de uma forma que seja mais natural e confortável para os galegos.

Antia: Realmente é isso, só levar para o espaço mais global ou internacional (a UE) a oficialização que finalmente foi aprovada no próprio estado espanhol para as diferentes línguas que convivem nele.

Trata-se, portanto, de reforçarmos e melhorarmos com uma solução mais concreta, e com um roteiro de atuação factível, as propostas lançadas anteriormente como a da Mesa onde já é referida esta questão: «Ademais no caso do galego, a pertenza do noso idioma a un sistema lingüístico máis amplo (o galego-portugués) alén de optimizar recursos na tradución e interpretación, facilitaría e melloraría a reciprocidade na integración dentro do Eixo atlántico que partillamos con Portugal e no que existe continuidade lingüística, cultural e económica.»

Seria possível que as entidades que aderirom a aquela primeira proposta adiram agora para esta, que a priori parece mais facil e barata para a administraçom europeia?

Antia: Esperamos e desejamos que assim seja, aliás, na prática, embora não reconhecido ‘oficialmente’ o que pedimos já leva sendo assim desde há anos; sendo que parlamentares galegos usam o galego naturalmente no parlamento europeu e naturalmente este os reconhece e traduz do português. É só colocar isso sobre a mesa, fazê-lo patente e referi-lo legalmente, por assim dizer, ou administrativamente, a nível de instituições europeias porque cremos que pode realmente ser feito como já o conseguiu a Aústria.

Jorge: Se falássemos na base do pragmatismo, penso que a resposta seria obviamente que sim, pois só tem vantagens. Consolida uma prática já testada com sucesso e consolidada ao longo de quase 20 anos, e apenas requer que seja seguido um caminho similar ao que foi percorrido antes pelo alemão e que portanto garante mais possibilidades de sucesso.

Esta proposta está impulsionada por pessoas da Galiza e de Portugal, há motivações diferentes para dar suporte a esta reivindicaçom?

Antia: Talvez sim tenhamos algumas motivações diferentes a um lado e outro da fronteira, mas no fundo, o meu desejo seria que a motivação fosse só uma, bem simples e coincidente: devolver a língua galega ao seu habitat natural e histórico possibilitando assim aproveitar com mais legitimidade, por assim dizer, a sua mais-valia e utilidade como língua natural de pleno direito de uso e abuso a nível internacional. E que, aliás, é uma das premissas em que se baseou a criação em 2008 da Euro-região Galiza-Norte de Portugal (a primeira e genuína da UE ao pé das precursoras ‘agrupações’ França-Bélgica e Hungria-Eslováquia). Cooperação e vinculação territorial, económica e cultural que já vinha precedida pelo CCDRN (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional da Região Norte de Portugal) desde o ano 1991.

Já como motivação mais galega temos o que é referenciado nas razões do manifesto e que tem a ver com a famosa e tristemente ainda pouco efetivada Lei 1/2014 para o aproveitamento da lusofonia aprovada por unanimidade no Parlamento galego, como sabemos, já em 2014.

Jorge: Concordo com a Antia, e acrescento que, na minha visão como português que se reconhece no que ouve quando os galegos falam, a minha motivação é a crença de que temos uma riqueza em comum com a Galiza, que é a nossa língua, que é desperdiçada a meu ver, quando poderia ser o cimento que liga toda uma faixa atlântica da península ibérica que já se vai aproximando rapidamente nos âmbitos social e económico.

No manifesto assinalá-se a possibilidade de introduzir formas galegas (como auga, pataca, dous ou cousa), do mesmo jeito que a União Europeia aceitou o alemão austríaco como variedade oficialmente reconhecida do alemão desde 1994. Quais são os passos para esta iniciativa se tornar realidade?

Jorge: Neste momento é necessário partilhar esta ideia, uma ideia realista, com precedente na União Europeia, e lançar um debate que envolva a seu tempo as instituições políticas e outras organizações que possam ajudar a que se torne realidade.

Antia: A seguir à recolha de apoios, que deve ainda ser incentiva e alargada, resta enviar estes às instituições correspondentes e que reconheçam o mesmo que fizeram com o alemão da Alemanha e da Áustria. O como isto pode ser implementado corresponderá mais a quem legisla e organiza.

No texto da proposta diz-se que o galego seria como o caso do valenciano e do catalão, do quebecois e do francês ou a variedade austríaca do alemão. Sendo que já tem havido eurodeputadas/os a usarem normalmente o galego através do serviço de intérpretes para o português, poderia ser que se considere desnecessário este matiz?

Antia: Só o tempo dirá o que é necessário e o que não, mas, por enquanto, acho sim ser necessário e também muito rico e respeitoso pelo simples facto de certas formas muito vivas no galego serem ainda reconhecidas também no português padrão, embora possam ser, eventualmente, consideradas de arcaicas ou em desuso.

Da mesma maneira porque estaríamos a fortalecer esse apoio, defesa e respeito pela variedade e diversidade dentro da unidade (disso se tratava a UE, isso que também promovia e defendia o Conselho de Europa, não era?).

Jorge: Concordo mais uma vez com a Antia, notando que sendo possível e normal o uso do galego ao dia de hoje através do serviço de intérpretes do português, tal obriga de certa forma a que os falantes galegos se abstenham de expressar com toda a naturalidade, indo procurar termos portugueses que não correspondem àqueles de uso mais corrente na Galiza. Acrescentar os termos galegos acrescenta essa naturalidade que enriquece a expressividade dos falantes e reforça o seu sentido de identidade com a língua que usam. É no fundo reconhecer que os termos próprios da Galiza também acrescentam à riqueza e diversidade da língua comum.

Tomé Mouriño, gerente da Grileira: “Assumi o negócio familiar para continuar a cuidar as pessoas que querem desfrutar da música”

Xiao Berlai: “É mui importante entender que não existe problema nenhum de comunicação entre o povo brasileiro e galego”

A Mesa demanda a UNED por impedir o uso do galego

O 1º Encontro do Livro Galego reuniu profissionais e investigadoras do ámbito editorial galego para analisar o seu estado atual

A AGAL já faz parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Carme Saborido: “A leitura continuada pode ser um impulso para mais pessoas fazerem outro tipo de consumo cultural que considere a lusofonia como um meio para atingir um fim: viver em galego”

Tomé Mouriño, gerente da Grileira: “Assumi o negócio familiar para continuar a cuidar as pessoas que querem desfrutar da música”

Xiao Berlai: “É mui importante entender que não existe problema nenhum de comunicação entre o povo brasileiro e galego”

A Mesa demanda a UNED por impedir o uso do galego

O 1º Encontro do Livro Galego reuniu profissionais e investigadoras do ámbito editorial galego para analisar o seu estado atual