PGL – Ugia Pedreira, voz e alma mater dos Marful –que recebem o nome do avô da cantora– tem-se destacado como umha das defensoras do reintegracionismo linguístico galego no âmbito musical. Do PGL ligamos à voz mais deleitável da nova cançom galega para falar deste e outros temas.
Quando alguém vê pola primeira vez a Ugia no cenário fica arrebatado pola experiência, ciente de estar perante umha diva que fai da maravilha umha cousa natural, e certamente, Ugia está a sentar as bases dum novo espaço para a música galega. Na mesma linha, falando dela, o próprio Jurjo Souto tem afirmado que Ugia Pedreira é umha deusa.
Conhecedores da sua inquedança e preocupaçom com a língua e cultura galegas, do Portal Galego da Língua pugémo-nos em contacto com a cantadeira para falar do humano e do divino.
Esta é a conversa que mantivemos:
PGL – Cara Ugia, tenho entendido que quando contavas os 15 anos alguém te rebaptizou.
Ugia Pedreira – Rebaptizárom-me no que era antes segundo de BUP, concretamente o Sr. Henrique Rabunhal. Um dia passando lista chamou-me Ugia e assim ficou entre os meus companheiros-as. Na família chamam-me Maria Eugénia, é um nome do que gosto cada vez mais.
Com o professor Ramom Reimunde entrei por primeira vez num teatro. Convidou-me a um recital de poesia no formoso teatro Pastor Diaz de Viveiro. No recital estavam Uxío Novoneira, Pilar Pallarés (de quem som admiradora desde aquela), Lino Braxe…
A poesia é estendível a umha forma de vida, é umha actividade mental. Daquela nom o sabia.
PGL – Henrique Rabunhal e Ramom Reimunde Norenha, nas tuas palavras: “Dous reintegracionistas que picavam pedra miúda”
UP – Bom, os dous defendérom a língua à sua maneira com muito respeito e conscientes do liceu no que estavam. As palavras som carregadoras de energia, tenhem umha vida concreta e própria independentemente incluso da sua significaçom.
Eu adoro a literatura popular galega e som “cunqueiriana” de obra e coraçom portanto o reintegracionismo permite-me exprimir-me perfeitamente no tópico: “do local ao universal”, num mesmo fluido, estar pendente do insólito e da profundidade dos limites. Conhecer cada vez mais a cultura popular galego-portuguesa dá segurança e abre muitas portas (a todos os níveis).
PGL – Entom, o teu contacto primeiro com o reintegracionismo lingüístico chega nos teus anos de liceu?
UP – Desde novinha comprendim/ensinárom-me que esta língua era falada por milhons de pessoas e que portanto chegas a muitas culturas. Para mim foi natural. Penso que nom há nada mais revolucionário que ser natural.
O reintegracionismo tivo bem claro que a língua galego-portuguesa era um potencial comercial e empresarial a explorar. Agora qualquer um/umha se aponta o tanto do “ser lusófono” (parece-me bem, Brasil está de moda) sem ter em conta a língua com maiúsculas como meio de comunicaçom total, mas os músicos estamos salvados pola ambigüidade e mesmo parece que nom temos compromissos, pois a música tem umha linguagem universal e dim “que nom entende de fronteiras”.
Os galegos falamos muito de quem somos, como somos e cara onde imos. Quero pensar que este povo é ultra-analítico e autocrítico, gosta de enredar. O reintegracionismo está criando tendências (que nom modas), e indo por diante desde o underground. Na Galiza em qualquer movimento cultural que se preze há um reintegracionista com visom panorâmica. Nom oculto que os há também tipo rinoceronte, quer dizer, poucos graus de campo visual.
O reintegracionismo é um tema básico de cultura geral e tem a batalha linguística ganhada. Creio que nom tenhem que caminhar à par ideias sociais avançadas com visons retrógradas das artes.
PGL – Musicalmente, que representa para Ugia Pedreira o sentir-se parte da comunidade lusófona?
UP – Viver num planeta mais grande, ter mais espaço para mostrar-te, mais lugares de entendimento, mais pontos de encontro, ter mais semelhanças, conhecer melhor o lugar em que nascim. A minha casa é mais grande e tenho mais casas espalhadas com cumplicidade e a confiança que dá o conhecimento.
PGL – Qual a melhor forma de divulgar o reintegracionismo no mundo cultural galego?
UP – Ai! se eu o soubesse nom estarias formulando esta pergunta nem eu respondendo-a. O outro dia escuitei-lhe a Fonseca que a melhor forma de que o galego se fale é por meio da seduçom, saber seduzir, que te seduza. E segundo Cunqueiro o galego (portanto o português) é umha língua que sabe a pam. O melhor jeito de trabalhar é criando equipa, e aprender a trabalhar em equipa, refiro-me a umha equipa interdisciplinar e nom só de filólogos e nom só de funcionários (com todos os meus respeitos).
PGL – Entre outros compromissos, formas parte de aCentral Folque. O que significa este espaço para a música galega e quais som as vossas linhas de trabalho actuais?
UP – aCentral Folque nom é só umha escola, é um ninho de pássaros. Ali ensinamos, aprendemos, assessoramos, investigamos. Temos duas escolas, umha em Santiago e outra infantil em Ponte Vedra, e ademais fazemos umha série de produçons musicais às voltas com Galiza e às voltas com o mundo. Entre as internacionais levamos ano e meio desenhando e planificando um cortejo no Nordeste Brasileiro formado por músicos, regueifeiros e contadores de histórias de Galiza, Portugal e este enorme pais.
Nas produçons de aCentral Folque fiamos vontades arredor da música galega. É tam importante o investigador como o som o artista, a comercial ou o back-line. A nós interessa-nos o oculto, aquelas lagoas históricas ou personagens com os que podemos fantasiar para criar algo lindo do que podamos viver. A nós interessa-nos a beleza do detalhe. Lembro que a música galega em maiúsculas é a nossa profissom.
PGL – Em breve, publicarás na Agal-Editora um livro que inclui poemas e letras de cançons. O que podes adiantar-nos?
UP – É umha escolha de poemas destes últimos anos. Alguns convertérom-se em cançons e outros nom. Portanto som “alguns poemas” e todas as letras de cançons que tenho feitas desde o 2000 até agora.
Digamos que este projecto é umha ecosfera, um alvo, uns cachos da minha vida que agora tenhem forma de livro, amanhá de disco e passado de espectáculo.
PGL – Dizia Pessoa na voz de Álvaro de Campos: “Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho”. Para a Ugia a poesia e a música som a sua maneira de estar com todos, ou também som refúgios? Fazer poesia é confessar-se?
UP – Os meus refúgios som portos mais abrigados. É umha maneira de botar por e para fora. A melhor forma de estar em sociedade. De nena inventava cançons, coreografias…. Fazer música (é dizer, poesia) fai-me feliz. Como di Pedro Pascual, também me fai melhor pessoa.
PGL – O facto de escolher a ortografia histórico-etimológica para grafar o teu nome como “Ugia” e nom “Uxía” causou-che algum tipo de incomodo? Algumha vez já ouvi o teu nome na Rádio Galega pronunciado um tanto esquisitamente!
UP – Certo, umha gente lê o nome em espanhol ou com gheada, outra confunde-me com Uxía (Senlle). Na Estremadura (espanhola) tenho-o lido tal qual assim: Ussía. Som muitas as hipóteses com tal de fugir do aborrecimento.
PGL – Em que projectos andas envolvida actualmente? Onde podemos encontrar-te?
UP – Podedes atopar-me numha ilha ou em Espasante (um refúgio nortenho óptimo para a musica no bar de Fredi, para as ceias no Castro e para desfrutar da natureza por Loiba e a praia de Santo Antom), os únicos lugares de calma nos que o tempo dura e cura.
Ando emaranhada com a psicologia directiva de aCentral e os 20.000 projectos em movimento com 40.000 pessoas. Enredada numha vida social selvagem e cozinhando POR FIM o novo disco de MARFUL.
PGL – Muito obrigado por conversares connosco Ugia. Há algo mais que queiras apontares?
UP – Que me sinto orgulhosa de pertencer ao movimento reintegracionista desde o vigor da adolescência até os dias de hoje, pois foi e é um enorme caleidoscópio e um potente telescópio. Força!
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