Séchu Sende, professor e escritor, exerce nesta ocasiom também como editor, e está a trabalhar com a Através para a ediçom do próximo livro “Leandro Lamas. Uma mão de pintura”. Atualmente decorre umha campanha de crowdfunding para o financiar na que ainda se pode participar aqui.
Falamos com ele sobre este projeto.
Séchu, disque tu és o “ideólogo” da proposta, como surgiu?
Mais que ideólogo, enleante. A ideia nasce porque, como admiradores das artes plásticas, do desenho, da identidade galega que nos entra polos olhos, falando entre colegas destas cousas percebemos esse vazio. Nom há um livro sobre Leandro… Bem, todas sabemos que há muitos livros divulgativos por fazer na Galiza, com olhada galega… Mas este livro é importante porque é um livro fruto dumha admiraçom coletiva por um artista que leva muitos anos ao serviço do povo, criando umha Galiza de aguarela e óleo na que já moramos muitos milhares de pessoas. Assim, este livro de Leandro surge dum desejo: termos um objeto precioso, umha joia, umha cousa linda, um livro a toda cor, que intente reproduzir e explicar a Galiza de Leandro.
Ademais, muita gente sabemos que este livro nom ia chegar por via oficialista ou institucional. Essa distância entre o gosto e a valoraçom popular e a valoraçom institucional ou académica é umha distância ao mesmo tempo incompreensível e surrealista. Assim que o livro, como tantas outras cousas, tinha que sair da base social. Através é umha editorial do movimento social de defensa da língua. E toda a gente que está a colaborar com o projeto, entregando fotos, textos e informaçom, está a devolver a Leandro a generosidade com que ele viveu todos estes anos a sua professom e a sua militância. Ademais, como Leandro nom está morrendo, -porque às vezes a gente tem que estar a morrer para receber homenagens-, toco madeira, esta é umha homenagem vitalista e cheia de satisfaçom coletiva. Por outro lado, como estamos a ver, o crowdfunding está a ser um sucesso polo que este sonho nom é o sonho de três ou quatro loucas amantes da obra de Leandro Lamas, é um desejo de muuuuuita gente. Muita gente, de facto, comentou: Bem! Já era hora!
Este livro de Leandro surge dum desejo: termos um objeto precioso, umha joia, umha cousa linda, um livro a toda cor, que intente reproduzir e explicar a Galiza de Leandro.
Desde a humildade deste projeto editorial, de ativistas, nom profissional, sabemos que depois deste virám mais livros de Leandro, mais rigorosos, académicos, formais, especializados… Mas nós temos muita paixom e essa paixom por Leandro é a paixom por alguém que leva a construir este país muitos anos. E, por tanto, é um justo reconhecimento a um trabalhador da construçom nacional, na criaçom de sonhos e realidades.
Que poderemos atopar nas páginas de Leandro Lamas, uma mão de pintura? Haverá espaço também para umha visom mais íntima do autor? E para a sua faceta como dramaturgo?
O livro é um petisco, umha olhada a 100 páginas a toda cor com obra e vida de Leandro Lamas. Fai-se umha aproximaçom biográfica ao autor e umha escolma entre centos de óleos e aguarelas. Leandro é um trabalhador e tem muitos quadros em muitas casas do país. Murais, ilustraçons para livros e CDs, cartazes, objetos variados e outras surpresas vam encher este livro que segue o modelo dos monográficos de artistas de Taschen, por exemplo: a toda cor, com cuidado no desenho gráfico e posicionando o autor na história, no seu tempo e na sua terra.
Como reagiu o Leandro quando lhe falastes da possibilidade de editar o livro sobre a sua obra?
Ele é umha pessoa humilde e nas conversas de trabalho ou quando falamos de passeio em bicicleta sempre se pom encarnado e tira-se méritos. Mas está a colaborar quando precisamos algo que está da sua mão e nom damos conseguido da rede de apoio. Porque também queremos surpreende-lo um bocadinho, claro.
Como reagiu a Através Editora?
Através tem, por um lado, um labor imprescindível neste país, dar voz a quem nom tem nenhuma ou muita presença institucional, ou oficial, porque lembremos que as pessoas que escrevem com NH e Ç estám censuradas nas editoriais subvencionadas polo governo autónomo. Umha parte do galeguismo colabora com essa discriminaçom, tristemente. Mas Através tem o mérito de fazer cultura e impulsar a língua apesar de todo. E oferece papel e visibilidade a dissidentes que escrevem com letras censuradas. Leandro é dessa família reintegracionista. Ainda que a sua escolha gráfica é menos visível porque a maioria da sua obra nom é escrita nem falada. Mas aí está também, com os seus NH e Ç que Através recolhe para visibilizar um galeguismo com NH que, neste caso chega de fora do mundo da literatura, abrindo o campo às artes plásticas.
Através tem o mérito de fazer cultura e impulsar a língua apesar de todo. E oferece papel e visibilidade a dissidentes que escrevem com letras censuradas. Leandro é dessa família reintegracionista. Ainda que a sua escolha gráfica é menos visível porque a maioria da sua obra nom é escrita nem falada. Mas aí está também, com os seus NH e Ç que Através recolhe para visibilizar um galeguismo com NH que, neste caso chega de fora do mundo da literatura, abrindo o campo às artes plásticas.
Através sabe que este livro vai ser umha joia editorial e, na sua teima pola divulgaçom, fai o esforço de publica-lo a um preço acessível, popular.
Polo que conheço, Através é umha editora autogerida, que funciona com militância e com a generosidade dum galeguismo mui ativista, um galeguismo tradicional e moderno, generoso e altruísta, sem ânimo de lucro, que a mim me lembra o compromisso apaixonado das Irmandades da Fala. Quanto mais conheço Através mais me surpreende o valor ético e o exemplo do seu trabalho pola causa da nossa língua.
Era preciso um livro deste teor, em volta da obra artística de Leandro Lamas?
Quando mais conhecemos a Galiza e as pessoas e obras que construírom e constroem este país, mais conscientes somos das necessidades, de todo o trabalho que temos por diante. Há muito trabalhinho por fazer! Este livro converteu-se em algo preciso, um compromisso necessário, para as pessoas que nos envolvemos no projeto e que, com a ajuda de muuuuitas outras, em rede, estamos a fazer realidade um sonho.
Este livro é preciso para este país porque este país converteu Leandro Lamas num dos seus referentes. Ademais, é preciso começarmos a valorar a obra de Leandro como merece, numha tradiçom plástica que continua hoje, no séc. XXI, linhas de trabalho e pensamento que passárom por Maruja Mallo, Urbano Lugris, Diaz Pardo, Diaz Balinho ou Luís Seoane… E também porque, ainda que somos muita gente quem conhecemos a obra leandrinha, bem certo é que poucas pessoas podem ter umha olhada geral de Leandro. Ademais, ainda há umha parte deste país, e especialmente a gente nova, que nom conhecem Leandro Lamas. E um livro sempre ajuda.
Porque demorou tanto em nascer um livro que nos mostre um dos ilustradores mais importantes da Galiza?
Seria fantástico que desde o CGAC ou desde a Universidade, a RTVG ou desde algum outro organismo oficial já tivéssemos umha exposiçom, teses doutorais, um superprograma documentário na tele ou um catálogo desses gordos que se podem adquirir na Cidade da Cultura… Mas como isso nom chegou, sempre há, polo menos, três alternativas: chorar, queixar-se e laiar-se com impotência, seguir esperando sentadas, ou ponher mãos à obra. E houvo sorte porque para este projeto cinco pessoas reunimos o tempo e as forças necessárias, entre a vida pessoal e os projetos nos que andamos enredados, para obedecer três máximas populares: A luita é o único caminho, rebeldia com alegria e Viva Leandro Lamas!