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Refugos. Ibéria

Nuno Gomes (*) – Esther Rodríguez afadigava-se no seu encontro semanal com os moradores de El Escorial, um barrio suburbiano da Grande Metrópole de Madrid. Muitos, senão quase todos os setenta milhões de metropolitanos de Madrid não o eram de origem, mas oriundos de toda a Ibéria, España de seu antigo nome.

Refugos das alterações que se chamavam de temporales quando surgiram, e eternas ao fim de mais de um século de mar descomposto e insubmisso. Com as cidades costeiras arrasadas, o Governo Centralista optou pela lógica proteção dos eleitorados trazendo-os para próximo dos eleitos, e nas províncias deixou-se pouco mais que administradores agrícolas e mineiros. Criando uma metrópole, encerrou- se um país.

Esther corria todas aquelas caras e indagava das suas origens, caras cansadas que pouco ou nada revelavam que não a modorra dos hábitos estabelecidos. Da vivienda unifamiliar para o trabajo-núcleo, dependurados dos trams das altas líneas, em voo lento e incerto.

Encargada Esther, le importaría hablar más, más devagar, que no la entiendo.

Devagar ¿qué?

E essa palavra estranha zurziu-lhe as entranhas do cérebro até que, dois dias depois, de volta à uni, já com a mão no sensor, se lembrou. Da sua abuelita, nascida ainda na província, de um lugarejo perto de Oporto chamado Matosiños. Dizia-lhe, sempre que a via a correr pela uni, Corre más devagar, chica, que te vas a romper los huesos.

Devagar! A sua mão largou o sensor e logo a outra acionou la red, providência do Serviço Centralista de Informação, SCI. O dicionário sugeria-lhe de vagar, duas palavras. Procurou antes na busca geral, e surgiu- lhe uma página brasileña, conteúdo normalmente evitado pelas pessoas de bem. Bloqueada, com o beneplácito do SCI. Desceu à rua sem mais -se aquela mulher dizia devagar e o dizia de uma vez só, não era invenção. Encontrou-a com a brújula que o seu estatuto de encargada lhe outorgava num bar perto da sua uni. Falou-lhe sem rodeios. Perguntou-lhe pelo empleo, exigiu-lhe dados pessoais. Carlita Gómez, residente local, casada, dois infantes. Olhava Esther de olhos arregalados, temente por si e pelos seus. Esther, descarregada de razões para a travar mais, concluiu:

¿Y su familia, de dónde es?

Mi bisabuelo vino de Porriño, Encargada. Cerca del Viejo Vigo. De donde sacaban el granito, el gran cráter. ¿Lo conoce?

 


(*) Artigo publicadp originalmente no n.º 84 do Novas da Galiza.

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