Poblacht na hÉireann…

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Para o Guilhelme Rego

A escuma dourada da cerveja moura, com a sua filigrana espera na mesa de madeira fingidamente gasta pelo tratamento imitando uso. Móveis e objetos falsos de decoração, livros de atrezzo, tudo ao jeito que a gente pensa um clube britânico, ou uma nação, deve ser. Contemplo a Guinness autêntica com o seu trevo e enquanto pousa, deixo-me rir ao sabor da conversa.

Dous galegos, a rirem, num barzinho. Em qualquer parte, num pseudo-pub irlandês em cidade castelhana. Penumbra e pouca gente no princípio do serão.

A conversa percorre o mundo e o submundo, colonialismos, imaginários de pátrias, elites e subversivos, mapas da terra, os marcos da língua, da cultura, da política, das famílias, da comida, da paisagem, a arquitetura e das plantas. Temas de cada conversa que aos poucos aumentam no tenteio das confidências: os fracassos, os desterros, a vida do emigrado, dos livros possíveis futuros e do passado viageiro. Tudo se mistura e baralha, ao ritmo cantigueiro da retranca.

easter-1916Em sendo quatro, ainda podíamos montar um outro centro galego. – Com cinco, já dava para uma cisão dissidente. Mais gargalhadas e algum outro dito sentencioso. O leitor sabe bem como são estas conversas profundamente submersas numa codificação cultural difícil de imitar.

Ao lado direito da mesa, iluminado, numa moldura também de madeira escurecida um fac-símile barato do famoso édito do Governo Provisório da República da Irlanda. Poblacht na heireann… sabe a glória dizê-lo e beber logo bem da pinta.

Fala-se da Irlanda, de celtismos, dos Mortos e poetas da Páscoa, dos Connolly, de Collins, do de Valera, de Wilde, de Joyce, de literatura, de velhos filmes e algo de Kiberd e do seu lúcido Invenção de Irlanda. Brinda-se por qualquer um papel que algum dia possa estar emoldurado, – um original dos abaixo-assinados da ILP Paz Andrade, podia ser – e logopor que não? por algo há que começar…  e deriva a conversa em mais gargalhadas, balizadas com marcos imaginários e mais Guinness.

Máis de Ernesto V. Souza