Refugio-me na casa e em pequenas cousas. No silêncio da leitura ou no ruído das ferramentas domésticas. Entretenho-me na observação direita da realidade próxima. A caminho do trabalho, nos pequenos trânsitos do que-fazer e abastecimentos quotidianos. Limito-me a sentir a vida por perto, os cheiros, a mudança de luz e cores rebentando na nova estação.
Ando a contemplar a gente arredor. Ouço as conversas daqueles com que compartilho espaços ou trajetos. Há pouco eram umas, hoje outras, sempre a ritmo do que marquem os média como urgente, prioritário. Digo tudo bem, dou a razão sem qualquer pudor, a qualquer cousa e a cada pessoa. Encolho os ombros e fujo discretamente. Apaguei as redes sociais.
Vou ao trabalho. Tou nele o tempo que me requerem. Deixei de dar voltas, de opinar, de tratar de procurar sentido às ferramentas eletrónicas a dispor, ou a pensar em aprimorar os processos, criticar construtivamente ou procurar melhoras. Executo as funções que me encomendam. Pronto. E volto para casa.
Tenho as tardes para mim, para estudar, passear e tomar umas cervejas com as amizades, os filhos ou a família, para conversar. Procuro pensar em cousas que me interessem, trato de pensar em proximidade. No que há perto e arredor. No que chama a minha atenção. Mas diria que não me deixam.
Os não capitalistas acho que sobramos neste mundo. Nomeadamente porque consumimos mal e a destempo. Porque somos críticos com os trabalhos absurdos e sistemas de produção e organização, com as arbitrariedades constantes. Porque não gostamos de perder tempo nem de assumir como direito o que vemos abaladiço e tremendo após o choque e realidade frágil que evidenciou a Pandemia. Porque somos impermeáveis às recomendações publicitárias e hostis as sugestões da propaganda. Porque nos duram os objetos e os interesses para além das suas modas e obsolescências programadas.
É a primeira vez que percebo a Guerra, os seus subprodutos e personagens de ação como simples objetos de propaganda informativa desenhados para consumos massivos. Posicionar-se é um show e a informação um produto. Desliguei no possível. Não consumo informação, nem outros produtos pensados para gasto imediato e maciço.
É a primeira vez que percebo a Guerra, os seus subprodutos e personagens de ação como simples objetos de propaganda informativa desenhados para consumos massivos. Posicionar-se é um show e a informação um produto.
Sinto-me muito de fora da atualidade e das correntes que vejo arredor. Do que se movimenta. Parece-me absurdo terceirizar o pensamento, deixar em mãos de outros a responsabilidade da interpretação e até da olhada, as decisões sobre o que é, ou não, importante, prioritário.
O que eu procuro é usar os olhos e a própria lógica para decidir que quero consumir, e em que quero ocupar o tempo. Decidir que é que está a atrair a minha atenção e que não. Ou mais simplesmente enxergar onde os olhos vão, não onde me indicam.
Un punto vidi che raggiava…