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Paulo Fernandes Mirás: “Devemos ficar quebrados em pedaços para nos recompormos devidamente”

Depois de ter publicado as Antologias poéticas de Carvalho Calero mais de Ernesto Guerra da Cal, o Paulo Fernandes despe-se de novo connosco e dá-nos indicações e trilhas a seguir para abrir o apetite do seu Estado Demente comrazão. O seu primeiro livro de poesia que vem a ser publicado por Através.

Quem lê ou estuda muita poesia (depois dos teus livros anteriores) sempre guardamos um poeta no armário disposto a sair?
Acho que foi após ler Pretérito imperfeito e conhecer o Comando Esbardalle na Corunha que começou o meu caminho poético. Obviamente, iniciei-me como todas as pessoas que amam os versos, com muito que dizer e poucas capacidades para transmiti-lo, com muito por dizer e sem um domínio das formas. Carvalho Calero e Guerra da Cal, entre outros, ajudaram-me a transformar os meus jogos em algo mais sério.

Sendo o Estado Demente comrazão o teu primeiro livro de poesia suponho que existirá certo medo ao sair desse armário do poeta.
Sim, com certeza. Tenho medo por várias razões. Uma poderia ser porque este é o primeiro livro e não sei o que é que se pode esperar dele. Conectará com alguém? Criará algum vínculo? Eu (d)escrevi o que poderiam ter escrito muitas outras pessoas, o que outras pessoas sentiram antes, mas (d)escrevi-o olhando-me, um exercício que me aterra no sentido em que me exponho por completo. Porém, esta actividade é benéfica, pois através do medo é que nos conhecemos, nos (re)criamos. Ter medo é saudável, mas também reconheço que os que nada temos a perder, temos menos pavor do que outros aos resultados dos nossos actos temerários.

É evidente a polissemia do título e mesmo a exibes com o  uso dos itálicos. Podes adiantar (sem fazeres spoiler) que esconde o título?
Pensar muito, razoar muito, pode provocar o efeito da loucura, da demência. Um dos maiores causantes deste estado transitório é a conexão entre o cérebro e o coração, entre a  razão e o sentimento. Não sei se desvelei demasiado ou se as leitoras já intuíram qual era o significado das palavras.

Na capa e contracapa vemos de fundo algo assim como espelhos ou vidros quebrados que separam em pedaços umas sombras nas quais se misturam diferentes gêneros numa mesma figura.
Sim. Acho que o trabalho do Miguel foi excelente. Conseguiu representar o que tinha em mente, mas de um modo distinto. Como dizia, para nos (re)criarmos devemos ficar quebrados em pedaços e, para nos recompormos devidamente, temos de nos abstrair para nos ver despedaçados e unir as peças de um novo “eu” que, por acaso, vai ser diferente sempre. Sempre que nos desfazemos sobra ou falta algo, então, o resultado do momento explosivo é um novo nascimento, como a explicação da existência do cosmos.

Para além disto, os vidros permitem que a nossa mente, através dos olhos, decifre a(s) realidade(s) que está(ão) ante nós. É uma questão de perspectiva interpretar o que os olhos veem. Cada fragmento é uma possibilidade de nos interpretarmos, ao que devemos acrescentar o ponto de vista do que olhamos. Enfim, a vida é complexa, daí a complexidade de explicá-la somente com palavras, ou versos.

Adorei a metáfora da memória guardada em botes de cristal flutuando sobre o mar e conseguir ver de fora esses instantes. Não sei se pode em certo modo resumir uma sensação geral do poemário.
Pois é. Como comentava, somente da distância podemos interpretar que caminho seguir. Ganhar o espaço da distância significa, muitas vezes, fazer uso da memória para nos situarmos num presente inesperado, impossível de assimilar, e raciocinar até sermos capazes de ver além de nós. O livro foi um trabalho poético e mental, isso é que pode esperar quem o ler, ele, ela ou nós.

Não sei se queres comentar algo esquecido nestas perguntas.
Na verdade, só queria desculpar-me, pois nem a memória nem as folhas eram suficientes para os agradecimentos iniciais. Se alguém me conhecer e tiver partilhado algo comigo, receba o meu agradecimento. Cada achega, grande ou pequena, é parte do resultado do que somos.

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