¿Por qué no lo haces en castellano para que lo entienda todo el mundo? Si lo hicieses en español, llegaría a más gente. Conhecedes perfeitamente estas frases, estades afeitas a ouvi-las repetidas como se fossem um mantra. E o curioso é que todas essas pessoas que afirmam que o galego limita, paradoxalmente, som as que realmente vivem limitadas polas suas fronteiras.
Ponho um exemplo real. Uma persoa cria vídeos para o Tik Tok em galego falando das suas cousas. Alguém deixa um comentário que di: ¿Por qué haces los vídeos en gallego? Si lo hicieses en castellano te entenderíamos todos. Esse todos ao que se está a referir som os 9 milhões de persoas que usam o Tik Tok no Estado. Numa rede social que tem 800 milhões de usuáries de todo o mundo, a persoa que deixa o comentário é incapaz de ver além das fronteiras. O seu mundo é Espanha.
Mas o problema já nom é essa gente. Na internet é fácil eliminar comentários e bloquear contas. O problema é que nós, como povo, temos isso interiorizado. Essa artista que cantava em galego e agora sacou um disco em castelhano, bem por ela que deu o salto. Como Ana Peleteiro nos Jogos Olímpicos. Esse ator que saía nas séries da Galega e foi para Madrid fazer filmes em castelhano, agora é que é um ator de verdade. Um ator consagrado, como as hóstias da missa. Essa youtubeira que fazia vídeos em galego e que, quando o canal começou a crescer, passou ao castelhano porque así me entienden los gallegos y los no gallegos. Porque os no gallegos vivem todos em Espanha, polo visto.
Nom sei se vistes a série E se…? da Marvel. É bastante jeitosinha, eu gostei, mas esse nom é o assunto. O caso é que, quando começam os episódios, uma voz em off di que a realidade é um prisma de possibilidades sem fim, onde uma única escolha pode resultar em realidades infinitas, dando origem a mundos alternativos daqueles que conhecemos. Entom, vamos considerar a questom: E se… houvesse vida fora das fronteiras espanholas?
Podemos deixar para um outro dia o debate de se o galego e o português som a mesma língua, mas uma cousa é inegável: as pessoas lusófonas entendem o galego. Só é preciso ver um vídeo do canal do Youtube de Nós Televisión, do Olaxonmario ou mesmo do #DígochoEu. Já nom é só que haja comentários de toda a lusofonia, é que mesmo é bem comum ver pessoas brasileiras a comentar que entendem mais facilmente o galego do que o português de Portugal. Nom digo que isto seja assim, a gente gosta muito de exagerar na internet, mas está claro que existe um público enorme de persoas que sim nos entendem, sim.
E bem, já sei o que estades a pensar: Já está aqui o típico reintegracionista a falar das suas teimas. E tendes razom. Vamos ir entom para fora da lusofonia. Pensai numa persoa, nom sei, da Noruega, que está a ver Netflix e lhe aparecem recomendadas as séries O Sabor das Margaridas (filmada em galego) e Fariña (filmada em castelhano). Pensades que a língua original da série vai ter alguma importância à hora de escolher qual delas ver?
Pensai numa persoa, nom sei, da Noruega, que está a ver Netflix e lhe aparecem recomendadas as séries O Sabor das Margaridas (filmada em galego) e Fariña (filmada em castelhano). Pensades que a língua original da série vai ter alguma importância à hora de escolher qual delas ver?
E vamos ir um passinho mais além. Vamos pensar no anime, na animaçom japonesa, e em toda a gente que a consome na versom original legendada. Vamos pensar no fenómeno do K-Pop, música em coreano. Ou indo a algo mais clássico, vamos pensar na ópera, fundamentalmente em italiano. Imaginades a alguém deixando um comentário no vídeo do Gagnam Style que diga: La canción está bien, pero si está en coreano sólo la va a entender la gente de Corea. Deberían hacerla en castellano para que llegase a más gente. Ou, indo ao absurdo, que alguém se levantasse enfurecido no meio duma ópera e começasse a gritar: ¡No entiendo nada de lo que decís! ¡Cantad en español, que estamos en España!
O mundo tem mais de 7,8 mil milhões de habitantes e mais de 7.000 línguas diferentes. Se fazemos as nossas cousas bem feitinhas e sem renunciar a sermos quem somos, há muita gente aí fora a esperar com os braços abertos. Dizia Castelao que As palavras, como os páxaros, voam sobre as fronteiras políticas. Nom está mal a frase, mas eu quase que prefiro essa outra frase que cantavam as Tanxugueiras: Nom hai fronteiras.
[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]