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Monti Castiñeiras: “A lei de normalizaçom linguística di umhas cousas maravilhosas, que nom se cumprem”

Neste ano 2021 cumprem-se 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua co-oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisarmos este período, iremos realizar ao longo de todo o ano umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para nos darem a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom para o futuro. Desta volta entrevistamos o ator Monti Castiñeiras.

Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?

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foto de Jaime Olmedo

A Televisión de Galicia, ou seja, a introduçom do galego nos meios. Eu vi nascer a TVG trabalhando nela, fazendo dobragem e a dobragem foi para mim um fenómeno do mais destacável para prestigiar a língua. Agora, a situaçom da TVG piorou muitíssimo. Na comissom de controlo da TVG, aí atrás, diziam que a melhor hora para emitir séries som as 11 da noite. E dizem que isto está apoido com informes. Eu penso que nom existem. É tristíssimo.
Dim que nom é rendível, por exemplo, fazer ficçom em galego. Porém, ainda que nom fosse em termos económicos, há umha lei que obriga a cuidar, a normalizar, a ter ficçom em galego… E nom apenas polas trabalhadoras e trabalhadores que vivam disto, mas polo direito que temos as cidadãs e cidadãos a ter ócio na nossa língua, sejam séries, filmes, o que seja. É umha mágoa que hoje tenhamos gente preparadíssima, a sair da escola de interpretaçom de Vigo, que querem trabalhar na sua língua, com todo o direito do mundo, e vem que lhe estám fechando as portas. E por que tenhem que ir a Madrid, ou a nom sei onde a trabalhar no que se gosta? Por que um islandês pode fazer ficçom em islandês e nós nom? Revolvem-se-me as tripas vendo que esta gente nova do audiovisual nom vê um futuro aqui.

Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situaçom na atualidade fosse melhor?
Mudaria muitas cousas. Para poder salvar o idioma… Eu anularia o decreto polo que se proibírom as galescolas, que me parecia fundamental, mas quando as sacárom deviam-lhes soar a “ikastolas terroristas”. Também mudaria, se pudesse retroceder até o ano 81, quando aquela votaçom para a aprovaçom da norma. Iria junto a Filgueira Valverde e diria-lhe, “a ver ho, imos tomar umhas cuncas e reconsiderar isso”. Por culpa dessa votaçom a mão alçada temos a norma de hoje… Eu nom concordo com esta norma, penso que teríamos que olhar mais para Portugal, ainda que tampouco som reintegracionista, o meu ideal seria umha mistura das duas.

Se pudesse retroceder até o ano 81, quando aquela votaçom para a aprovaçom da norma. Iria junto a Filgueira Valverde e diria-lhe, “a ver oh, imos tomar umhas cuncas e reconsiderar isso”. Por culpa dessa votaçom a mão alçada temos a norma de hoje… Eu nom concordo com esta norma, penso que teríamos que olhar mais para Portugal, ainda que tampouco som reintegracionista, o meu ideal seria umha mistura das duas.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?
Começaria pola lei de educaçom, temos umhas quotas ridículas. O professorado deveria poder dar as suas matérias na nossa língua; sem imersom linguística nom há maneira. Depois, teria em conta mais critérios do que os económicos para os investimentos: ainda há uns dias via que a TV3 catalã vem de eliminar os critérios artísticos, de qualidade, etc… para as concessons dos estudos de dobragem. O único que vale é o económico, o mais barato ganha. E nom pode ser apenas isso, eu dou-lhe muito valor à dobragem; é na dobragem onde podemos ouvir o melhor galego da TV, porque temos uns controles linguísticos que nom tem ninguém. Para outros conteúdos cada um é um pouco responsável do seu uso da língua, mas na dobragem, se nom o fás bem, nom trabalhas, de feito, ficou gente no caminho por nom passar os controles linguísticos. Esses estândares de qualidade som fundamentais.

Qual é o papel que joga o cinema para a saúde do galego?

foto de Sue Rainbow
foto de Sue Rainbow

A importância disto tem sido fundamental, tanto das produçons próprias como do cinema dobrado ao galego. Na Galiza a dobragem tem um papel fundamental, a maiores que em outros sítios; eu lembro a minha mãe recuperando muitas palavras, de repente começou a dizer “escravo” ou “escrava” ou “vassoira”. Começou a recuperar palavras, a lembrar graças a ouvir o léxico da TVG. Ou seja, que isso de vassoira nom é inventado. Primeiro era estranho; lembro o meu pai dizer “vaqueiros falando galego, que cousas”. Mas isso durou umha semana, se nom lhe chocava ouvir a Cary Grant falando espanhol… E com o tempo, a valorizaçom da língua mudou. O seu orgulho linguístico era outro.
Mas porquê deixa a TV de investir em ficçom em galego? Isto no teatro nom passa, porque no teatro houvo 4 mulheres e 4 homens nos anos 70 que decidírom fazer um teatro em galego: Xulio Lago, María Barcala, Roberto Vidal Bolaño, Dorotea Bárcena, Manolo Lourenzo… Quem fai teatro som as companhias, que tenhem consciência. Mas no audiovisual som as produtoras, e aí, geralmente, manda mais o dinheiro, fora de algum tolo independente como Zarauza ou Andrés Goteira. E mesmo assim, hoje pode-se fazer: estamos a ver séries em idiomas que nom conhecemos, em danês, ou em islandês, que som 300.000 gatos.
Ter cinema é fundamental para prestigiar a língua, e para que a gente se veja num espelho, para reconhecer-se. E para ter umha língua de qualidade de referência: hoje vejo crianças usando tempos compostos, e há características genuinamente galegas que se estám a perder, o ene velar, o xis… Cumprem séries no nosso idioma, na nossa variedade, nom como diz muita gente reintegracionista polo Twitter “já temos as séries no nosso idioma”, referindo-se ao galego tropical.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?
O ensino é fundamental, ia falar da Semente, claro, recuperar o que já comentava das galescolas… Mas as Sementes som de iniciativa privada, é algo mui minoritário. Estas cousas há que as fazer desde as instituiçons. Cumpre recuperar as galescolas e fazer imersom linguística já. Estamos a perder um idioma.
Cumpre, também, recuperar o galego nos meios, o Xabarín Club… Que o bem que fixo o Xabarín Club nom o sabem nem eles! Tantas crianças que nem era galego falantes que lhe colhêrom carinho à língua graças a isso. Mas isso nom interessava, por isso o matárom. E voltamos a quem manda:
Há agora muita peleja para que haja umha plataforma para as crianças, e é que estamos numha desvantagem brutal. E ainda há quem fale da imposiçom do galego, tés que rir…
Há que recuperar prestígio, que tanto custou ganhar. Há que recuperar o volume de produçom de produtos galegos que havia há 30 anos, aumentando os orçamentos; porque se se fai algo bom, ademais, pode-se vender sem problema. E quando se levam prémios os há reconhecimento fora bem que presumem. Mas nom podes competir com 85.000 euros por um capítulo dumha série com produçons que tenhem meio milhom ou um milhom de euros por capítulo. Entom, dirám, a gente nom quere ver estas séries em galego. Mas nom. Nom é porque estejam em galego, é porque som piores. Mas também se podem fazer boas. Há umha indústria cheia de técnicas e de técnicos de todas as ramas do audiovisual que se movem polo mundo inteiro, saiu de aqui gente fantástica. E nom falo disto porque eu seja ator, falo disto para além da gente que trabalha no grémio, mas polo direito que temos como cidadania a ter ócio na nossa língua.

Há que recuperar prestígio, que tanto custou ganhar. Há que recuperar o volume de produçom de produtos galegos que havia há 30 anos, aumentando os orçamentos; porque se se fai algo bom, ademais, pode-se vender sem problema.

Algumha das medidas que se podem fazer, é simplesmente aplicar a legislaçom: se lês a lei de Normalizaçom Linguística alucinas, porque di umhas cousas maravilhosas, que nom se cumprem. Por exemplo, há umha condiçom que nom se cumpre desde o começo que obriga a estrear em cinemas dez filmes dobrados ao galego ao ano, das superproduçons mundiais. Dez ao ano. E isto tinha toda a razom do mundo, para garantir que houvesse presença de galego nos cinemas. Agora temos opçom de ver algumhas cousas em versom original, mas todo está dobrado ao espanhol. E seria umha medida ajeitada, garantir dez das grandes estreias mundiais em galego. Mas nom se cumpriu nunca e nom passa nada.

Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, umha similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?
Nom. Eu respeito muito essa postura, mas combato-a. Prefiro que adotemos a norma reintegrada a falarmos de binormativismo. Fala-se muito dele, mas nom se explica como o estabelecer. Penso que nom estamos preparados como sociedade, e nom dum ponto de vista paternalista, como sim considero que foi paternalista quando se aprovou o decreto de Filgueira Valverde, isso estava cheio de prejuízos de autoodio; sem conhecer aquele processo, penso que houvo disso “vai ser complicado de aprender…” e ali perdemos umha oportunidade. Mas hoje penso que é tarde, porque nestes 40 anos a involuçom foi terrorífica, no prestígio, na perda de falantes, nom podemos esquecer que há umha percentagem da populaçom que segue a pensar que isto nom é um país, e que nem temos idioma próprio, ou de que nom vale para nada. Imagina aprender outra norma.
Também considero que a comparaçom com a Noruega é improcedente, já que ali todo o mundo fala norueguês. Ademais ali som gente civilizada, nom há ninguém que odie o norueguês. Aqui temos gente que nem considera isto um idioma…
Depois vejo-o dificilíssimo de implementar, por exemplo, na sinalética, para as placas das estradas dos concelhos… para além de que fosse caro gastar em dous rótulos em vez de um, quem decide? Usa-se só umha norma, e decide o alcalde? Parece-me umha anarquia total. Ponhemos dous rótulos para “rua”, um acentuado e outro sem acento? E nos rótulos das notícias do telejornal? Eu por isso som mais partidário de fazer todo em reintegrado antes que da duplicidade.

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