O Dia Mundial da Ciência ao serviço da Paz e do Desenvolvimento foi promovido no seu dia pelos 195 Estados membros da UNESCO, que hoje, já com uma nova diretora francesa, são 193, ao retirar-se recentemente deste organismo a favor da ciência, a educação e a cultura mundiais, de maneira infame, os EUA e Israel. No seu momento decidiu-se também que a data para a comemoração fosse o dia 10 de novembro. A UNESCO tem reiterado nas mensagens dos seus diferentes Diretores Gerais que a sua visão da ciência é promotora do desenvolvimento económico, social e cultural das nações e dos povos na perspetiva da paz e de um desenvolvimento sustentável, apelando ao papel crucial dos cientistas, dos professores e educadores e dos jornalistas. Estes últimos poderão contribuir para a chamada de atenção para os atributos positivos e as consequências benéficas da investigação e do conhecimento científico. No decurso dos setenta e um anos de existência, a UNESCO dinamizou as suas atividades relativas às ciências num contexto marcado por uma dualidade entre o conhecimento e o progresso científico e o bem-estar da humanidade. No entanto, ao longo deste período, a ação da UNESCO teve sempre por base os objetivos e funções contidas no artigo primeiro do seu Ato Constitutivo (1945), que refere o seguinte: «A Organização tem por finalidade contribuir para a manutenção da paz e da segurança, mediante o incremento, através da educação, da ciência e da cultura, da colaboração entre as nações, a fim de assegurar o respeito universal pela justiça, pela lei, pelos direitos do Homem e pelas liberdades fundamentais que a Carta das Nações Unidas reconhece a todos os povos do Mundo, sem distinção de raça, de sexo, de língua ou de religião».
Dentro dos grandes vultos da humanidade, a que desde há uns meses estou a dedicar uma série de depoimentos na seção «As Aulas no Cinema», para o presente tema escolhi a figura da grande cientista polaca Marie Curie (1867-1934), que faz o número 19 da listagem de grandes personalidades iniciada com Sócrates. Já em 1943 foi realizado um interessante filme biográfico dedicado a esta importante cientista, e nos últimos anos foram realizados outros dous, ademais de vários documentários a ela dedicados.
A primeira mulher do mundo a ganhar um prêmio Nobel. É assim que começa a maioria das biografias sobre Marie Curie, que em uma época onde apenas os homens iam à universidade, descobriu um elemento químico e iniciou uma verdadeira revolução no meio científico. Maria Sklodowska, seu nome original, nasceu em 7 de novembro de 1867 em Varsóvia, Polônia. Filha do professor de física e matemática, Wladyslaw Sklodowski e da cantora, pianista e professora Bronsilawa Boguska, a caçula de cinco filhos desde cedo mostrou-se uma excelente aluna. Aos onze anos Marie sofre duas grandes perdas: sua mãe morre vítima da tuberculose e sua irmã mais velha morre de tifo. Sempre encorajada pelo pai a se interessar pela ciência, Marie termina os estudos aos 15 anos e passa a trabalhar como professora particular antes de se mudar para Paris em 1891, aos 24 anos, para continuar seus estudos. Em 1894 ela conhece o professor Pierre Curie com o qual se casa no ano seguinte passando então a ser chamada de Madame Curie. Na época Pierre trabalhava no Laboratório de Física e Química Industrial no qual trabalhariam juntos mais tarde.
Em 1883 e 1894 Marie obtém o grau de bacharel em física e matemática pela universidade de Sourbonne, em Paris, tornando-se depois a primeira mulher a lecionar nessa universidade quando da morte de seu marido em 1906. Em 1898, após ter sua primeira filha, Irene (que também ganhou um prêmio Nobel de química em 1935), Marie Curie inicia seus estudos sobre a radiactividade que Henry Becquerel havia descoberto dois anos antes (o termo “radioatividade” só foi cunhado por Marie Curie em 1898, mas Becquerel já havia feito alguns estudos sobre a radiação emitida pelos compostos de urânio em 1896, tendo contudo abandonado os estudos a respeito por não considerá-los promissores. Até então referia-se ao fenômeno como “hiperfosforecência”). As pesquisas realizadas por Marie Curie com a ajuda de seu marido Pierre levaram a descoberta de dois novos elementos químicos: o polônio, que ganhou este nome em homenagem ao país natal de Marie, e o rádio. A pesquisa do casal abriu um novo caminho a ser explorado na pesquisa científica e médica, levando muitos cientistas da época a estudar o assunto.
Em 1903, Marie finalmente defende sua tese e obtém o título de doutora pela Sourbonne tornando-se a primeira mulher a receber o título nesta universidade. No final do mesmo ano, Marie e Pierre Curie recebem o prêmio Nobel de física pela descoberta dos dois elementos químicos junto com Becquerel que foi o primeiro a estudar o fenômeno. Em 1904 nasce sua segunda filha Eve. Após a morte de seu marido em 1906, Marie continua a estudar a radioatividade, principalmente suas aplicações terapêuticas e, em 1911, recebe outro prêmio Nobel, desta vez em química, por suas pesquisas com o rádio tornando-se a primeira pessoa, até então, a ganhar duas vezes o prêmio Nobel. Em 4 de julho de 1934 Marie falece devido a uma leucemia causada pela longa exposição aos elementos radiactivos.
FILMOGRAFIA BÁSICA SOBRE A SUA VIDA E OBRA:
A. Filmes:
Diretor: Mervyn LeRoy (EUA, 1943, 124 min., preto e branco).
Roteiro: Paul Osborn e Paul Rameau, segundo a biografia sobre a cientista.
Fotografia: Joseph Ruttenberg. Música: Herbert Stothart.
Produtora: Metro-Goldwyn-Mayer.
Nota: Ver em: https://vimeo.com/110734842
Atores: Greer Garson, Walter Pidgeon, Henry Travers, Albert Bassernan, Robert Walker,C. Aubrey Smith, Reginal Owen, May Whitty, Margaret O’Brien, Van Johnson, e Victor Francen.
Argumento: Depois de se apaixonar e se casar com seu professor de física Pierre Curie (Walter Pidgeon), Marie Curie (Greer Garson) trabalha com o marido para tentar isolar uma substância radioativa que ela acaba descobrindo e identificando como rádio.
2. Marie Curie. Para TV.
Diretor: John Glenister (Reino Unido, 1977, 250 min., cor).
Roteiro: Elaine Morgan e Robert Reid. Música: Carl Davis.
Produtoras: British Broadcasting Corporation (BBC), Polytel, Time-Life Television Productions.
Atores: Jane Lapotaire, Nigel Hawthorne, Richard Bebb, Hugh Dickson, Madelaine Bellamy, Penelope Lee, Sally Home, James Berwick, Gillian Bailey, Daphne Heard, Maurice Denham, Peter Birrel, Denis Carey, Isabelle Amyes, Michael Cronin e Kellie Byrne.
Argumento: Minissérie de TV (1977). 5 episódios. A vida de Marie Curie (1867-1934).
3. Os méritos de Madame Curie (Les Palmes de M. Schutz).
Diretor: Claude Pinoteau (França, 1997, 106 min., cor).
Roteiro: Richard Dembo. Fotografia: Pierre Lhomme. Música: Vladimir Cosma.
Produtoras: France 2 Cinéma, French Productions, L Films, Canal+ e Sofineurope.
Atores: Isabelle Huppert, Philippe Noiret, Charles Berling, Christian Charmetant, Philippe Morier-Genoud e Mari-Laure Descoureaux.
Argumento: Recreação da vida do casal formado por Pierre e Marie Curie, os descobridores do rádio.
4. Marie Curie: Mais do que se vê (Marie Curie: More Than Meets the Eye). Para TV.
Diretor: Richard Mozer (Canadá, 1997, 60 min., cor).
Roteiro: Heather Conkie, Raymond Storey e Barbara Nichol.
Fotografia: Rick Maguire. Música: John Welsman. Produtora: Devine Entertainment.
Atores: Kate Trotter, Natalie Vansier, Colleen Rennison, Dawn Greenhalgh, Martha Burns, Mairon Bennett, Wayne Robson, Peter Vollebregt, Bob Martin e Karl O’Neill.
Argumento: A vida da química e física polonesa nacionalizada francesa, Marie Curie (1867-1934), pioneira no campo da radiactividade.
5. Marie Curie, uma mulher à frente (Marie Curie, une femme sur le front). Para TV.
Diretor: Alain Brunard (França-Bélgica, 2014, 84 min., cor).
Roteiro: Marie-Noëlle Himbert, Yann Le Gal e Alain Brunard.
Fotografia: Tony Malamatenios. Produtoras: Coprodução França-Bélgica.
Nota: Ver em: https://assistirfilmes.video/3125-marie-curie-2014.html
Atores: Denis Podalydès, Dominique Reymond, Laurent Bateau, Patrick Descamps,Olivier Massart, Fanny Dumont, Fabio Zenoni, Benoît Strulus, Epona Guillaume, Lætitia Reva e Eric Godon.
Argumento: A vida de Marie Curie, polonesa vencedora do Nobel de química e física.
6. Marie Curie.
Diretora: Marie Noëlle (Alemanha, 2016, 95 min., cor).
Roteiro: Marie Noëlle e Andrea Stoll.
Fotografia: Michal Englert. Música: Bruno Coulais.
Produtoras: Coprodução Alemanha-Polónia-França: P’Artisan Filmproduktion GmbH, Pokromski Studio, Glory Film, Climax Films e Schubert Music Publishing.
Atores: Karolina Gruszka, Arieh Worthalter, Charles Berling, Izabela Kuna, Malik Zidi, André Wilms, Daniel Olbrychski, Marie Denarnaud, Samuel Finzi, Piotr Glowacki, Jan Frycz, Sabin Tambrea, Sasha Crapanzano, Rose Montron, Adele Schmitt, Emma Pokromska, Edgar Sehr, Nikolaus Frei, Artur Dziurman, Piotr Bartuszek, Aldona Bonarowska, Klara Bielawka, Mariola Brycht, Pawel Kleszcz, Wenanty Nosul, Jakub Kotynski, Ksawery Szlenkier, Michal Meyer, Konrad Bugaj e Krzysztof Bochenek.
Argumento: Uma biografia abrangente da lendária física ganhadora do Prêmio Nobel e química, que causou polêmica devido ao seu desafio de estabelecimento acadêmico dominado pelos homens da França e pela sua vida romântica não convencional.
B. Documentários:
1. Marie Curie além do mito (M. Curie au delà du mythe).
Diretor: Michel Vuillermet (França, 2011, 52 min., cor).
Roteiro: Nathalie Huchette, Michel Vuillermet e Géraldine Berger.
Produtora: Les Films d’un jour, Arte Ffrance.
Nota: Ver entrando em: https://www.youtube.com/watch?v=WbGV2376Jh0
Argumento: O 2011 foi o ano Marie Curie. A única mulher a ganhar dois Prêmios Nobel, uma com o seu marido, que chateou a nossa concepção do mundo. Através de suas palavras e escritos, o retrato íntimo de uma cientista notável.
2. Marie Curie (Desenhos animados). Duração:26 min.
Argumento: Já ouviu alguém falar que não existem mulheres importantes na ciência ao longo da história? Assista ao vídeo e descubra o porquê. Marie Curie venceu o preconceito para desvendar os mistérios da radioatividade. Contribuiu muito para a medicina, mas pagou o preço com sua morte.
UMA PIONEIRA DA CIÊNCIA:
A brasileira Irene Cavaliere escreveu no seu momento um interessante depoimento, que tenho a bem reproduzir a seguir. Imagine quantas dificuldades uma mulher precisava enfrentar, no século XIX, para correr atrás dos seus sonhos. Marie Sklodowska Curie foi uma pioneira, tanto por sua coragem e determinação, como por suas descobertas científicas. E foi reconhecida por isso, apesar de todos os preconceitos de uma sociedade machista e conservadora: ela não só foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel em Ciências, mas também a primeira pessoa a receber duas vezes essa condecoração.
Se você já ouviu falar de radioatividade, deveria saber quem foi Marie Sklodowska Curie. Nascida na Polônia em 1867, Marie estudou química e física na França. Foi ela quem deu nome ao termo e descobriu dois novos elementos químicos: o rádio e o polônio. Seu primeiro Prêmio Nobel – pelas pesquisas sobre radiação, em 1903 – foi dividido com seu marido Pierre Curie e o físico Henri Becquerel. O segundo, em química, em 1911, deveu-se à descoberta do elemento rádio. Além disso, Marie encabeçou a implementação de um sistema de radiografia móvel durante a Primeira Guerra Mundial que ajudou no tratamento de milhões de soldados. Marie também contribuiu para a ciência ao aprisionar o gás que emanava do elemento rádio e enviar os tubos para o tratamento do câncer em hospitais do mundo inteiro. Outro legado de Marie foi sua filha, Irène Joliot-Curie. Inspirada pela mãe, Irène trabalhou com o marido, Frédéric Joliot, nos campos da estrutura do átomo e física nuclear, demonstrando a estrutura do nêutron e descobrindo a radioatividade artificial, feito este que rendeu mais um Prêmio Nobel para a família Curie.
Os pais de Marie eram professores, patriotas e muito convictos a respeito da importância da educação. Porém, nessa época, a Polônia era um país oprimido, dividido entre a Rússia e a Alemanha. A cultura e o nacionalismo poloneses estavam sendo duramente reprimidos. Apesar desse contexto de intimidação e opressão, Marie se destacava como a melhor aluna da turma e formou-se aos 15 anos, em primeiro lugar em todas as matérias. O governo russo proibia que mulheres frequentassem universidades dentro de seu império, então, para continuar os estudos, Marie teria que sair de seu país. Somente aos 24 anos, finalmente, ela teve condições de partir para Paris e matricular-se na universidade de Sorbonne, para estudar física e matemática. Em 1894, já tinha obtido o grau de bacharel nas duas disciplinas, e foi nessa mesma época que conheceu Pierre Curie, também cientista e professor, com quem se casou e compartilhou a paixão pelo trabalho. Apesar de todos os esforços para chegar até aí, os desafios da carreira de Marie estavam apenas começando.
TAMBÉM EDUCADORA:
O contributo de Marie Curie na educação começa na sua juventude. Ainda jovem dava aulas particulares em famílias ricas na Polônia. Na França, lecionou no nível secundário. Para Marie, a educação tinha de ser envolvente. Isso somente seria possível mediante proposta de experiências e contato com as coisas, em vez de apenas conhecimento teórico. Junto com outros cientistas, tinha um projeto que tinha como objetivo ensinar ciência aos filhos para além da teoria, mas realizando experiências. O projeto chama-se “cooperativa de ensino”.
Sem dúvida, Marie Curie teve um papel significativo como educadora. Já em 1885, com apenas 18 anos, exercera a profissão de professora particular para filhos de famílias ricas na Polônia. O país estava dominado pelo Império Russo, era impedido de repassar sua cultura e sua língua aos jovens, mas não para Marie, que com a ajuda de sua irmã Bronislawa Sklodowska lecionou numa universidade ilegal (por desafiar as políticas da época), frequentada principalmente por mulheres proibidas de seguirem seus cursos regularmente. Aos 33 anos, já na França, Marie torna-se professora secundária, sendo a primeira mulher a participar do corpo docente da Universidade de Sorbonne. Suas ex-alunas contam que ela foi inovadora pois ampliou o tempo de suas aulas, levava-as para conhecer os laboratórios de pesquisa, colocava-as diante equipamentos de experimentos (o que até então era restrito apenas aos garotos) e produzia seu próprio material didático. Irène Joliot-Curie, filha de Marie, também conta que sua mãe, em parceria com outros cientistas, participava de um projeto de ensino nomeado de “cooperativa de ensino” que visava ensinar ciência aos próprios filhos de forma mais prática, experimental. As próprias crianças faziam os experimentos, obviamente sempre supervisionadas, buscando sempre instigá-las a terem interesse pelo aprendizado. Jean Baptiste Perrin, Paul Langevin, Marie Henriette Mouton, Henriette Perrin, Alice Chavannes e Jean Magrou são cientistas que a ajudaram nesse projeto.
PALAVRAS DE MARIE CURIE:
“Eu faço parte dos pensam que a Ciência é belíssima. Um cientista em um laboratório não é apenas um técnico, ele é também uma criança diante de fenômenos naturais que o impressionam como um conto de fada. Não podemos acreditar que todo progresso científico se reduz a mecanismos, maquinas, engrenagens, mesmo que essas máquinas tenham sua própria beleza”
“Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, participar da responsabilidade coletiva por toda a humanidade”.
“Na vida, não existe nada a temer, mas a entender.”
“Seja menos curioso sobre as pessoas e mais curioso sobre as ideias.”~
TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:
Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma e o fundo dos filmes e documentários resenhados antes.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Marie Curie, o seu pensamento, a sua vida e a sua obra. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.
Desenvolvemos uma partilha de informações ou debate-tertúlia entre estudantes e docentes da nossa escola ou colégio, analisando fundamentalmente a importância das descobertas da cientista Marie Curie para a ciência atual. E também os problemas que teve no seu labor e sua vida por ser mulher, muitos dos quais ainda continuam hoje, depois de um século do labor investigador realizado pela cientista polonesa.