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Inma Doval: “A convivência de duas normas seria o ideal, porém, é uma aposta que ainda fica longe”

Neste ano 2021 há 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua co-oficial na Galiza, passando a ter um estatus legal que permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisar este período, estamos a realizar ao longo de todo o ano, umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para darem-nos a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom de cara o futuro.
Desta volta entrevistamos a artista plástica, investigadora em literatura e bibliotecária, Inma Doval.

 

Inma Doval | foto de Xacobe Meléndrez Fassbender
Inma Doval | foto de Xacobe Meléndrez Fassbender

Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?
Poderíamos falar de iniciativas de natureza legislativa, outras que se criam nos médios de comunicação e mais outras que procedem diretamente da sociedade. Todas elas se alimentam e se reforçam circularmente.
Obviamente, toda a legislação que permitiu uma normalização da língua galega, que permitiu que entrasse (com reservas) nas escolas, nos médios de comunicação e na sociedade, isto poderia ser o começo. Porém, todo isto não seria possível se não tivermos uma força externa, social e, também, procedente de agentes intelectuais, que o reclamassem e animassem.
Os médios de comunicação como a TVG contribuíram com programas de grande sucesso como o Xabarín club, todo um fito nos anos noventa e princípios do século atual, um acerto importante na hora de valorizar a língua entre pessoas miúdas. No entanto, também houve programas que, em ocasiões, produziram uma recusa em determinadas esferas sociais.

Toda a legislação que permitiu uma normalização da língua galega, que permitiu que entrasse (com reservas) nas escolas, nos médios de comunicação e na sociedade, isto poderia ser o começo. Porém, todo isto não seria possível se não tivermos uma força externa, social e, também, procedente de agentes intelectuais, que o reclamassem e animassem.

Os agentes sociais e culturais são o terceiro fator. Temos movimentos como o Bravú que, desde a música calhou aginha na sociedade. A música é um importante canal de transmissão porque é um elo importante da nossa memória, quase todas as nossas epifanias estão associadas com alguma música e as de muitos dos grupos deste movimento são hoje lembranças de quem daquela era adolescente. Podemos falar também de grupos como Chévere, desde o mundo do espetáculo. Sem dúvida, quando pomos exemplos concretos sempre ficam muitos outros fora e falo de propostas de maior impacto, no entanto, o trabalho tanto de iniciativa individual como de pequenos coletivos que tenhem uma aposta forte pola língua na sua atividade social e cultural ajudam a fornecer o país desse tecido necessário para transformar a situação e status da língua. Muito importante também é a nossa literatura, que chega a quase todas as idades e que, de forma mais limitada que o visual, favorece a difusão da língua e a sua valorização.

Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situação na atualidade fosse melhor?
O curso da história e a eliminação de pessoas que fôrom muito nocivas para o país e mesmo para a humanidade, bem como a influência que as suas decisões tenhem para a situação atual da nossa língua. Haveria muito que mudar, é doado pensar em mudanças do passado quando conhecemos o presente. Devemos começar por mudar as estruturas que ainda persistem e ajudam a replicar o passado. O primeiro passo seria, abofé, que a sociedade conhecesse bem esse passado e aceitasse muitos dos problemas que têm com a língua como consequência do mesmo.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?
Se pensarmos nos espaços onde as pessoas deixam de ser falantes do galego, o primeiro que nos chega é a escola. Algo não vai bem quando uma criança que na casa se comunica em galego no momento de chegar à escola passa a falar em castelhano. São lugares de socialização e onde o global se impõe sobre o local. Aí é onde se deve colocar o enfoque. Antes falava de apostas culturais na música ou na literatura, penso que é cada vez mais urgente que haja iniciativas culturais em galego que calhem na mocidade, nas idades mais críticas. De fazermos unha revisão dos produtos culturais em galego para rapazada de entre 10 e 16 anos observaremos que são escassos e que não chegam aos interesses reais da mesma, o que converte todo aquilo que provém de fora em muito mais apetecível. Pessoalmente, deteto moitas carências, neste senso, na música, na literatura ou no cinema. Temos criadoras e criadores excecionais, com obras de grande qualidade, mas para públicos mais pequenos ou para pessoas já galego falantes ou que tenhem o uso da nossa língua normalizada.
As redes sociais também são unha ferramenta importante, com potencial, para não perder ou para ganhar falantes.

De fazermos unha revisão dos produtos culturais em galego para rapazada de entre 10 e 16 anos observaremos que são escassos e que não chegam aos interesses reais da mesma, o que converte todo aquilo que provém de fora em muito mais apetecível.

 

Estás a desenvolver a tua tese sobre obras literárias de autoras galegas, portuguesas e brasileiras. Que relação tem o campo cultural galego com o resto da lusofonia?
Sim, estou a desenvolver uma tese sobre a obra de autoras galegas, portuguesas e brasileiras. A língua é um elo muito importante para criar outras confluências, já que serve de veículo de comunicação e intercâmbio. Muitas das relações que se estabelecem entre o nosso mundo cultural e a lusofonia nascem da utilização de uma língua de raiz comum. Realizar unha investigação transdisciplinar e comparatista ajuda a difundir a cultura do país além das suas fronteiras físicas e a reflexionar sobre muitos aspetos comuns. Igualmente, ajuda a tecer redes, neste caso entre autoras de diferentes espaços e sistemas literários. Atualmente são muitas as relações, a nível cultural, entre o campo cultural galego, o português e muito menos habituais e comuns com resto dos países da lusofonia. Ainda quando o interesse nestas relações é muito desigual, eu penso que é muito maior de aqui cara lá.

Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, uma similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?
A convivência de duas normas seria, baixo o meu ponto de vista, o ideal. Porém, se somos realistas é uma aposta que ainda fica longe de ser possível. Precisaríamos que houvesse uma normalização da língua, que o número de falantes fosse muito superior ao atual, que na escola não houvesse este bilinguismo ou, mais bem, este plurilinguismo, onde o galego sempre é a língua menos prezada, menos falada e mais desvalorizada. Se num contexto atual, tão desfavorável para a utilização do galego pensamos em introduzir duas normativas diferentes na escola o caos estaria servido. O que sim fica claro é que a atual normativa da RAG fica muito afastada das origens da nossa língua. Também seria interessante a incorporação plena do português nas aulas, algo que se está a fazer muito devagar e unicamente como língua optativa. Um tema assaz complexo.

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