Muito tem avançado a ciência, mas continua sem existir ainda cura para numerosas doenças. Uma delas, endémica já na nossa sociedade, é a galegofobia. Nestes dias logrou amplo seguimento mediático o caso do usuário de umha rede social que foi rejeitado por falar galego. Na dita rede social, as pessoas compartilham carro para desta maneira pouparem dinheiro nos seus deslocamentos. Os utilizadores e utilizadoras podem anunciar que disponibilizam um lugar no seu carro para uma viagem ou, da outra parte, que precisam lugar no carro de outrem para ir a algum sítio.
O nome da vítima deste caso é Iago. Nom nos interessa aqui a sua filiaçom política, aspeto no qual se centraram noutros meios de comunicaçom. Pois bem, Iago disponibilizou o seu carro para uma viagem de Vigo a Ourense. Uma pessoa chamada Esther aceitou, fizo um prepagamento polo custo da viagem e contactou —em castelhano— Iago para acertar os detalhes do local de recolhida. Iago respondeu —em galego— com uma proposta. Tudo bastante normal, exceto a resposta de Esther:
Ah pero hablas en gallego y no lo entiendo bien. Mejor reservo en otro coche, gracias.
Iago compartilhou a história nas redes sociais, explicando também que a tal Esther, como cancelava a viagem sem avonda antecedência, ia perder o dinheiro que já pagara. Perderia-o por se recusar a compartilhar carro na Galiza com uma pessoa que fala galego.
A história tornou-se aginha viral e saltou à imprensa, com referências em numerosos meios de comunicaçom. Em poucos minutos recebeu numerosas mensagens solidárias e as pessoas animárom-se a compartilhar histórias similares. Porém, e contra o que ditaria o senso comum, também se produziram centos de mensagens em que a pessoa ofensa —Iago— era tratada como ofensora. «Radical» ou «maleducado» fôrom os qualificiativos mais suaves que recebeu.
Outros casos
Infelizmente, a discriminaçom lingüística contra as pessoas galego-falantes tem sido uma questom recorrente nos treze anos de vida do Portal Galego da Língua. Assinalaremos só algumas histórias dentre as várias dúzias publicadas.
Dinheiro público para empresas que desprezam o galego [2015]
Nos últimos anos repetem-se os casos de empresas que desprezam o galego mas continuam lucrando-se com o dinheiro público. O caso mais recente […] tivo como protagonista funesta a madrilena Fomento de Construcciones y Contratas (FCC), concessionária do serviço de recolhida do lixo na comarca do Barbança.
[…] depois de uma auditoria, a Mancomunidade Serra do Barbança detetou «irregularidades e incumprimentos» das condições da adjudicaçom do serviço. Por esta razom, a Mancomunidade iniciou o processo para revogar a concessom.
A empresa FCC reagiu exigindo a traduçom ao castelhano dos mais de 2.000 fólios que compõem o expediente da Mancomunidade. Da Mesa assinalam que a FCC fundamentou o seu pedido num suposto «desconhecimento» da língua galega, porém, esta empresa espanhola assinou durante anos toda a documentaçom referente ao serviço, a qual estava na nossa língua, «chegando mesmo a emitir a FCC documentaçom em galego». […]
‘Palhaça’ por falar galego em Lugo [2014]
Hoje aconteceu-me algo que já nem pensava que pudesse acontecer: uma jovem, ao me despachar pan numa loja chamou-me «palhaça» por falar em galego. Ainda , segundo ela, faltei-lhe ao respeito simplesmente por lhe perguntar o preço do pão em galego.
– Quanto é?
– ¿Cómo? ¿Cuanto es?
-Não. Disse «quanto é?», em galego.
– Es que yo no hablo gallego. Estamos en España.
– Pois aqui estamos na Galiza. Podemos falar castelhano no resto do Estado, mas só galego aqui.
– Yo ni lo sé ni quiero saberlo.
– Sabes o quê? Já não levo o pão.Ao sair eu pela porta escutei:
-¡Payasa!
[…]
«Si haces la prueba en gallego, no te la corregimos» [2012]
[…] novo caso de discriminaçom lingüística contra umha pessoa galego-falante. […] a advertência «si haces la prueba en gallego, no te la corregimos» («se figeres a prova em galego, nom cha corrigiremos») teria procedido de um membro do tribunal do processo de seleçom de bolsas para o departamento de Turismo do Concelho de Redondela.
[…]
Caso de discriminaçom lingüística no sistema sanitário galego [2012]
[…] A doutora T. diz-me na consulta que eu necessitava uma cirurgia e que tinha que assinar um consentimento informado para poder ser operado. Quando pedi esse documento redigido em galego, a doutora diz-me, com muita correção e amabilidade, que desconhecia a existência do equivalente em galego e que somente o tinha em espanhol. […]
A funcionária que me atendeu no Serviço de Atendimento diz-me que também desconhecia a existência de tal documento e eu tive que explicar-lhe que sim existia e que não era a primeira vez que o exigira e que demostrara a existência desse mesmo formulário. A dita funcionária ligou para a responsável do Serviço de Atendimento ao Utente do CHUVI e diz-me que se poriam em contacto comigo. […]
Então começou a carreira de obstáculos que já padecera noutras ocasiões. […] A única opção que me davam no CHUVI, e que me transmitiu também o Valedor do Povo, era que tinha que escolher entre os meus direitos civis ou ser operado. […]
Mais um caso de discriminaçom linguística na Galiza [2008]
[…] novo caso de discriminaçom motivado polo uso do galego no ámbito laboral. Na empresa pública de Navántia, um trabalhador foi recriminado ofensivamente polos serviços informáticos por escrever os seus correios electrónicos em galego: «No se si se lo escribe su hijo de 2 anos o es algún dialecto con el que hablan ustedes en su aldea» (Nom sei se está a escrever o seu filho de 2 anos ou é algum dialecto em que falam vocês na sua aldeia). […]
O porta-voz da CIG na fábrica ferrolá de Navántia, Manuel Grandal, lembrou além disso que nesta empresa pública a discriminaçom lingüística mais generalizada é a ausência total do galego na documentaçom ou nas sinalizaçons. “Mesmo tem mais presença o inglês do que a língua própria da Galiza”, denunciou.
Hotel Ciudad de Vigo nom contrata trabalhador por falar em galego [2008]
Xesús […] explicou que lhe foi negada a vaga de trabalho «pelo simples facto de se chamar ‘Xesús’ e empregar o galego durante a entrevista de trabalho com um directivo do hotel». Depois de apresentar o currículo e ter sido seleccionado, o denunciante foi à entrevista mas já logo advertiu como «o directivo fijo referência ao facto de eu falar galego e perguntou-me se era quem de falar castelhano, além de fazer umha desafortunada referência ao meu nome de pia ‘Xesús’».
Xesús […] continuou a entrevista em castelhano, mas isso nom foi suficiente pois «ao directivo do hotel parecia-lhe que a minha condiçom de galego falante habitual podia acarretar um problema, até porque ao falar com os clientes podia soltar algumha palabra ou frase em galego».
O uso do galego causa do despedimento dumha mulher em Ponte Vedra [2006]
Montse […] foi despedida depois dumha semana em provas em que se lhe insistiu para que usasse o castelhano com os clientes. Como recolhe o jornal Galicia Hoxe, a trabalhadora foi despedida por nom superar a semana de provas, mas quando perguntou à chefa ela respondeu «Já che comentei que tinhas que falar em castelhano».
A assessora denunciada fijo à empregada várias recomendaçons sobre o seu comportamento na empresa, da forma em que devia vestir até o facto de nom usar o galego. Apesar dessas recomendaçons, a trabalhadora continuou a dirigir-se em galego, a sua língua habitual, aos clientes que também o usavam. […]
Organização da XI Xuntanza Novos Investigadores não pediu respeito para os galego-falantes [2006]
[…] na última edição dos encontros ‘Luís Freire’ foram boicotados dous representantes do Igesip por quererem falar em galego num evento de carácter científico, realizado na Galiza e pago com dinheiro dos galegos e das galegas, já que decorrera no albergue público do Gandario. […] não apenas foram interrompidos para apresentarem as suas comunicações em castelhano, mas admoestados publicamente pola moderadora das suas palestras.
[…] para o seguinte evento em Gandario, a «XI Xuntanza Novos Investigadores» […], a hostilidade desta volta esteve entre o público. Petições constantes de «¡en castellano!», com tom mais ou menos alto e mais ou menos enfadado. Também vários «¡oooh!» quando algum de nós os três repetíamos como palestrantes para ler as nossas segundas comunicações, sabendo já que o faríamos em galego.
Outra das respostas do público, mais educada, foi a de abandonarem a sala. […]. Acompanhei uma das minhas parceiras para passar uns diapositivos enquanto ela apresentava a sua comunicação. O murmúrio era particularmente molesto nos assentos das primeiras bancadas. Neste ponto aclaro que em todas as palestras defendidas em galego, nenhum dos moderadores pediu silêncio ou respeito para os oradores. Colhi o microfone para dirigir-me ao público e amavelmente lembrei que a comunicação se apresentava em galego conforme ao Estatuto de Autonomia da Galiza e as próprias bases da ‘Xuntanza’.
A moderadora respondeu que o público «também merece um respeito». Não discrepei com ela em que o público merece ser respeitado, já que também os palestrantes integramos o público, mas… e onde é que se vê o respeito para nós, únicos galegos a defenderem os seus trabalhos na língua do país? […]
Um casal tem de esperar dous meses pola documentaçom para poder casar em galego e a cerimónia celebrará-se com intérprete [2003]
Um casal de Santiago de Compostela foi-se informar no Registo Civil dessa cidade sobre os trámites para contrair matrimónio. Ao chegarem, surpreendêrom-se ao ver que nada da documentaçom que deveriam cobrir estava em galego.
Para alguns destes formulários, os funcionários propugérom ao próprio casal realizarem eles a traduçom se os queriam em galego, pois as versons que havia em castelhano as fizeram eles e nom a Administraçom, de maneira que nom consideravam que fosse a sua obriga entregá-lo nesse idioma.
Para ter em galego outros impresos, oficiais, deveriam fazer umha solicitude formal e aguardar a que chegasse a traduçom, cousa que do Registo Civil datam em dous ou três meses. Ademais, informárom o casal de que o juiz que lhes correspondia nom era da Galiza, mas que se queriam que a cerimónia fosse em galego, poriam-lhes um intérprete.
[…]