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Festival Literário da Madeira: viagem a uma periferia central (II)

Carlos Quiroga4 Abril. Boca com memória do mel e sonolência redobrada, mas vem aí o segundo dever importante: às 10:00 estou com o Rui Zink na bela e artística Escola Secundária Francisco Franco. Sem susto do nome, pois já verificara na web que eles homenageiam um pintor e escultor, levo outro tipo de sustos. Já me acontecera na Itália, no Brasil, em Portugal, mas continuo a chocar-me com estas coisas para mim impossíveis na suposta pátria. Um encantador Cristóvão está à nossa espera.

A Sala de Sessões está cheia, a directora fica no meio e uma linda moça apresenta-me com um PowerPoint e depois um nervoso rapaz faz o mesmo para o grande Rui. Falo eu. Fala ele. Perguntam. Há muitos professores do Norte de Portugal, entre os mais de 250 da escola, Viana, Bragança, Monção. Talvez por isso comigo sejam mais ternurentos. A rapaziada pede depois autógrafos –há quem conseguisse levar até um livro, mas a maioria pede rabiscar-nos de Expressão Portuguesa! Alguns pretendem ser escritores, confessam. E a manhã acaba com uma visita guiada e estonteante às instalações. Em termos compostelanos, um IES Rosalia e Gelmírez em sincretismo madeirense.

De tarde vou assistir ao Teatro à primeira ‘Conversa Cruzada’ do Festival, sob patrocínio do título de Mário de Carvalho, A Arte de Morrer Longe. São Tiago Patrício, João Tordo, Raquel Ochoa e Tiago Salazar, modera Cláudia Rodrigues. É a mesa talvez mais jovem e não lhe teria ficado mal umas gotas de veteranice para dar contraste. Na pausa que seguiu, antes do lançamento do Sérgio Godinho e as 40 Ilustrações, sou avisado de que uma pessoa me procura: aproxima-se a sorrir e não reconheço. É o Eduardo Pires, erasmus portuga que tinha sino aluno em Santiago anos atrás! Ele, o Bruno, a Alexandrina, ahhh aquelas primeiras e saudosas vagas! O certo é que tinha trocado algum mail com o Eduardo mas não me constava que estivesse na Madeira, já como professor! Celebramos no bar anexo ao teatro em longa conversa. Quando dei pela hora o teatro já fechara e era noite. O Eduardo deixou-me com o seu carro no hotel e felizmente apanhei lá a Manuela Ribeiro e o Waldir Araújo, que tinham sido enviados todo o dia a uma escola de Porto Santo e chegavam ainda do aeroporto. Voltamos ao centro histórico. O pessoal no Ateneu do Funchal estava já no cigarro, à mistura com estudantes universitários. Os retardatários perdemos o trabalho destes, que orientados por Diana Pimentel projectaram nas paredes do pátio um audiovisual inspirado em frases dos autores presentes. Não vi o que de mim pegaram mas no dia a seguir conheci o portentoso Paulo Sérgio Beju, que me deu as suas fotos montadas sobre três linhas de O Regresso, para além de uma árvore lavrada a caneta. No bar do hotel ainda houve champanhe e bolo: afinal era o aniversário de Ana Luísa Amaral.

Godinho Maior

5 Abril. O dia com menos deveres. De manhã só a inauguração de uma exposição e de tarde não vou ouvir à primeira hora (14:30) a mesa da universidade, como em princípio pensava. Vou para a do Teatro Municipal onde me marcaram uma entrevista de rádio, Antena 1, em simultâneo com o João Luís Barreto Guimarães. Mas será sucessiva e a jornalista pouco ou nada preparara de nenhum. Assisto à conversa cruzada que convoca Ana Luísa Amaral, Filipa Leal, Inês Fonseca Santos, João Paulo Cotrim e Waldir Araújo, modera Paula Moura Pinheiro. O mote é de Schopenhauer, A arte de lidar com as mulheres. Magnífico presente do Paulo à Paula, uma pilinha de cerâmica das Caldas!

Segue o lançamento de A Habitação de Jonas, de Inês Fonseca Santos, uma das vozes mais frescas da Poesia portuga, acompanhada por Filipa Leal, Cotrim e Diana Pimentel. Segue o restaurante por trás do Teatro, à vista do porto, e segue às 21:30 um sensacional Concerto, «Da minha língua vê-se o mar», onde o italiano Mariano Deidda declama Pessoa e Pavese, e onde o BOSS Sérgio Godinho prova como até o clássico nos fala com voz familiar de gritar. Inesquecível e talvez histórico.

 

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