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Dario Senhoráns: “A realidade de Portugal tem deixar de ser alheia à sociedade galega”

Dario Senhoráns é ribeirense. Embora educado, na sua infância, em castelhano deu o salto para o galego loguinho. O fagulho do seu reintegracionismo estava escrito nas paredes. É médico, essa área onde profissionais e pacientes nem sempre usam a mesma língua. Acha fundamental a nossa comunidade ter referentes culturais. Professa um realismo pessimista.

Dario nasceu e cresceu em Ribeira e foi educado em castelhano por pais galego-falantes. Era a tónica habitual nas pessoas da tua idade?

Na minha zona a tendência a criar os filhos em castelhano, apesar de que os pais falassem em galego estendeu-se rapidamente a partir de finais dos 80 e nom faria mais que medrar até o presente.

A passagem do castelhano para o galego, quando acontece, costuma ser no fragor da adolescência. Ora, no teu caso foi antes.

Eu tivem a sorte de passar ao galego quando tinha uns 9 anos, por influência de amizades. Em pouco tempo figem do galego a língua empregue para todos os aspetos da minha vida quotidiana. Em consequência, os meus pais começárom também a comunicar-se comigo em galego e a partir de entom fomos umha família plenamente galegofalante.

Como foi o teu primeiro contacto com o reintegracionismo? E como foi o processo até te tornares lusógrafo?

O meu primeiro contacto com o reintegracionismo foi nos primeiros anos da adolescência a través dalguns grafitos e murais do independentismo que se podiam ver daquela por Ribeira. Essa maneira de escrever o galego, desconhecida para mim, despertava-me bastante ceticismo num princípio. Porém, logo me convencêrom os argumentos sobre a sua conveniência e utilidade quando tivem acesso a eles, passando nos primeiros anos de universidade a ser definitivamente reintegracionista.

O meu primeiro contacto com o reintegracionismo foi nos primeiros anos da adolescência a través dalguns grafitos e murais do independentismo que se podiam ver daquela por Ribeira.

Dario estudou Medicina e trabalha no CHUS na área de Psiquiatria. Tradicionalmente a área médica é das mais relutantes ao uso da língua galega, mesmo com pacientes galego-falantes. Tem mudado alguma cousa a este respeito?

Se bem é menos excecional o emprego do galego na medicina do que podia ser há várias décadas, continua sendo consideravelmente minoritário e continua a refletir segregaçom lingüística, ainda que cada vez mais enfraquecida. Assim, por exemplo, na área sanitária de Compostela, o emprego do galego é muito maior entre pessoal da limpeza, zeladores e pessoal de enfermagem que entre o pessoal facultativo.

Na área sanitária de Compostela, o emprego do galego é muito maior entre pessoal da limpeza, zeladores e pessoal de enfermagem que entre o pessoal facultativo.

Para o reintegracionismo avançar socialmente, que áreas seriam, a teu ver, as mais importantes?

Um dos pontos que acho fundamentais seria conseguir que a realidade de Portugal deixe de ser alheia à sociedade galega. Nesse sentido, seria mui necessário conseguir umha suficiente presença lusa na educaçom a nível lingüístico, histórico e cultural, assim como o acesso generalizado aos seus meios de comunicaçom

Porque decidiste tornar-te sócio da Agal e que esperas do trabalho da associação?

Se se deseja umha determinada mudança social, deve-se ter algum grau de implicaçom, por pequeno que for, no associativismo que existe para tal fim. Da AGAL, espero que continue permitindo a visibilizaçom da aposta reintegracionista, aproveitando todos as oportunidades e recursos de que puder dispor.

Em 2021 somamos 40 anos de oficialidade do galego. Como valorarias esse processo? Que foi o melhor e que foi o pior?

É paradoxal que, coincidindo com o período de oficialidade do galego, começasse a sua desapariçom acelerada. Até os anos 70 o galego contou com mui amplas maiorias no seu uso, mas posteriormente foi-nas perdendo de maneira exponencial até o presente. Séculos de resistência nas piores condiçons de reconhecimento e prestígio desperdiçados em vários decénios em que nunca gozou de maior proteçom institucional (por insuficiente que esta poda parecer).  

Isto leva-me a pensar que a capacidade de açom da administraçom nisto é mais limitada do que às vezes queremos crer e pesam mais outros fatores. O desprestígio da nossa língua língua é um marco construído durante séculos e é mui difícil de mudar. Partindo dessa enorme desvantagem a respeito do castelhano, a integraçom dos meios de comunicaçom maciços nas nossas vidas e a mui escassa presença do galego neles e no resto da cultura escrita e audiovisual, determinam em grande parte a situaçom atual, tendo em conta a enorme influência social que exercem. Nom há atualmente referentes culturais em galego com umha influência relevante como para começar a dar a volta à situaçom.

Nom há atualmente referentes culturais em galego com umha influência relevante como para começar a dar a volta à situaçom.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2050?

O meu desejo nom é outro que a normalizaçom do galego e que volte acontar com as amplas percentagens de uso de outrora. Porém, acho que o realismo no momento atual leva inevitavelmente ao pessimismo. Ao ritmo de perda de falantes atual, em poucos decénios o emprego espontáneo do galego será umha rareza comparável ao caso do bretom ou de tantas outras línguas menorizadas, grande parte delas curiosamente com muito menos reconhecimento institucional. 

Conhecendo Dario Senhoráns:

Um sítio web:

A web do dicionário Estraviz, que tantas dúvidas me foi resolvendo ao longo destes anos.

Um invento:

Internet.

Uma música:

Heavy metal.

Um livro:

“A esquizofrenia incipiente” de Klaus Conrad, de grande transcendência na psiquiatria.

Um facto histórico:

A revoluçom industrial.

Um prato na mesa:

Almôndegas.

Um desporto:

Caminhar e adestrar força.

Um filme:

In The Name Of The Father, de Jim Sheridan.

Uma maravilha:

A liberdade.

Além de galego/a:

Indivíduo que foge do dogma e questiona o seu pensamento.

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