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DAR A CONHECER AOS ESCOLARES O VALOR DO MUNDO LUSÓFONO

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No dia 10 de junho celebra-se em Portugal o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. E, por extensão, de todas as comunidades lusófonas que existem no mundo. O feriado nacional assinala ainda o dia da morte do poeta Luís Vaz de Camões, em 1580, autor de Os Lusíadas, a maior obra épica de Portugal. Também é este o dia da Língua Portuguesa. Pela sua importância, é um dos feriados civis que não foram eliminados no seu dia pelo governo. Os docentes galegos de todos os níveis do ensino deveriam aproveitar esta comemoração para organizar atividades educativo-didáticas relacionadas com o tema, pois é indiscutível que a nossa Galiza foi o berço da lusofonia, e tem que estar integrada no mundo lusófono, com países de todos os continentes que têm como oficial a nossa língua, denominada galego-portuguesa na Idade Média, como todos sabemos. Sensibilizar os estudantes sobre a importância e valor da nossa formosa língua, que é extensa e útil, dando a conhecer as peculiaridades de todos os países que integram o denominado “Mundo Lusófono”, deveria ser uma meta fundamental a alcançar.

Procurando informação na Internet sobre o tema da Lusofonia, encontrei um lindo artigo escrito pelo brasileiro Emerson Santiago, do qual, por considerá-lo muito importante, escolhi alguns treitos. Diz Emerson: “Quando eu era criança em Franca, interior de São Paulo, Brasil, dois acontecimentos me marcaram com relação ao assunto língua portuguesa. O primeiro foi quando eu ouvi pela primeira vez um português falando… era o Roberto Leal, e ele estava no programa do Chacrinha, se não me falha a memória. Eu logo perguntei aos meus pais, que estavam por perto, qual era o problema com a boca daquele moço… decerto tinha algum problema físico, para falar daquele jeito todo truncado… eles logo esclareceram que se tratava de um português, que eles falavam a mesma língua que nós, só que daquela maneira, e coisa e tal.

    O segundo foi quando eu ganhei uma coleção de selos estrangeiros de uma colega de trabalho de meu pai. Eu percebi que havia uns selos falsificados (claro que eram falsificados… estavam escritos em português!) e fui falar com o meu pai sobre os tais selos… ele então me explicou que tratavam-se de selos angolanos, (um até com o rosto de Agostinho Neto, o primeiro presidente de Angola) e que em Angola falavam a mesma língua que nós falávamos… isso despertou minha curiosidade irremediavelmente… quer dizer que havia gente fora do Brasil com quem eu podia me comunicar sem precisar aprender outra língua? Até então, tudo o que fazia parte do meu mundo, que viesse do estrangeiro, usava inglês ou outra língua que fosse. E até hoje essa idéia de que é possível penetrar em culturas completamente diferentes e ainda utilizar um mesmo código linguístico me fascina… porém vejo que o conceito de lusofonia varia radicalmente de pessoa para pessoa.

    Muitos no Brasil, Portugal ou outras paragens ainda não se deram conta de inúmeros tesouros escondidos. Esse é o motivo deste artigo, e em última análise, de todos os que escrevi até hoje no Patifúndio. Línguas servem para unir, e não para separar. Se estiverem separando pessoas e informações, é sinal de que o fim do idioma se aproxima. Exemplo: basta circular pelos fóruns da internet e ler as discussões acaloradas sobre se a Galiza faz parte da cultura lusófona, se deveria aderir à CPLP, se galego é o mesmo que língua portuguesa ou não, e por aí vai. E a questão chatérrima, que nunca desaparece, de que no Brasil não se fala português, mas uma língua que já é independente da de Portugal? (…)

    Nas escolas brasileiras estuda-se literatura portuguesa até o período de Fernando Pessoa. Parece que só há dois mundos a escrever em língua portuguesa, Brasil e Portugal. Nada de Galiza, nada de Guiné-Bissau (alguém aqui já leu um poeta guineense chamado Vasco Cabral? Não sabem o que estão perdendo…) nada de Timor (Francisco Borja da Costa, o autor do hino timorense é outro poeta de brilho ímpar). (…).

    A questão é: precisa ser ex-colônia portuguesa para ser lusófono? Se é um território nunca antes ocupado por portugueses, então não conta? Ver a lusofonia como sendo coisa só de ex colônias portuguesas é enxergar a questão só do ponto de vista europeu. Precisamos enxergar a lusofonia também do ponto de vista sul-americano, galego, indiano, chinês, antilhano, malaio, africano, timorense…

    Lusofonia é mais que isso, sem dúvida. É um código acima das gramáticas e das normas dos livros. Eu me convenci disso após aprender como se fala “O que tem para comer?” em papiamento. (…). Para mim, lusofonia é mais que oito países. Em 2010, a Guiné Equatorial, ao que tudo indica, vai se tornar o nono país da CPLP, tendo adotado o português como oficial. Guiné Equatorial possui também um dialeto crioulo de mesma origem do papiamento e crioulos luso-africanos. Então a Guiné Equatorial não é já lusófona? Há aqueles que protestam, com razão, dizendo que dialeto crioulo não é português. Mas, então, por esse critério, deveríamos excluir Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé & Príncipe da CPLP.

    É muito simples: já está mais do que na hora de deixarmos de enxergar a língua portuguesa apenas do ponto de vista de portugueses e brasileiros. Pois se não o fizermos, muitos por aí continuarão achando que Roberto Leal tem algum problema de fala e que selos angolanos são falsificados por trazerem escritos em português”.

    As palavras antes mencionadas não têm desperdício e devem procurar a nossa reflexão. Para ilustrar este meu artigo escolhi um filme brasileiro de desenhos animados muito premiado, que pode ser projetado aos estudantes galegos, os quais vão comprovar que no Brasil se fala galego e o único que muda é o sotaque (ou pronúncia). O seu título é O menino e o seu mundo.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

    Título original: O Menino e o Mundo.o-menino-e-o-mundo-cartaz

Diretor e Roteiro: Alê Abreu (Brasil, 2013, 95 min, cor, desenhos animados)

Produção: Tita Tessler e Fernanda Carvalho. Produtora: Filme de Papel.

Música: Ruben Feffer e Gustavo Kurlat.

Prémios: Óscar de melhor filme de animação no ano 2016, três prémios no festival francês de Annecy em 2014 e, em 2015, o Grande Prémio Brasileiro de Cinema nas modalidades de melhor filme infantil e melhor filme de animação.

Nota: Pode ver-se completo entrando em:

 

https://www.youtube.com/watch?v=_N5KGcBDe_M

Elenco e vozes: Vinicius Garcia (Cuca), Felipe Zilse (jovem homem), Alê Abreu (velho homem), Lu Horta (mãe de Cuca), Marco Aurélio Campos (pai de Cuca) e Cassius Romero (cahorro).

o-menino-e-o-mundo-foto00 Argumento: Um menino mora com os pais em uma pequena cidade do campo. Diante da falta de trabalho, um dia, ele vê o pai partindo para a cidade grande. Os dias que se seguem são tristes e de memórias confusas para o garoto. Até que então ele faz as malas, pega o trem e vai descobrir o novo mundo em que seu pai mora. Para a sua surpresa, a criança encontra uma sociedade marcada pela pobreza, exploração de trabalhadores e falta de perspectivas.

o-menino-e-o-mundo-foto5   Comentário: Cuca cresceu numa pequena localidade do interior do Brasil. Deparando-se com grandes dificuldades financeiras, o pai vê-se obrigado a partir para a cidade em busca de sustento. Os meses vão passando. Depois de muito esperar pelo regresso do progenitor, a criança decide apanhar o comboio e ir ao seu encontro. Porém, para seu enorme espanto, encontra um mundo dominado por “máquinas-bichos” e estranhos seres numa sociedade marcada pela tristeza, pobreza e total falta de esperança dos seus habitantes.

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Um filme melancólico criado segundo técnicas de animação tradicionais (lápis de cor, cera, colagens ou pintura de aguarela), que é uma reflexão sobre a crise económica e a desigualdade social vista através dos olhos de uma criança pequena. Apesar de ter diálogos em português, as gravações foram invertidas (técnica de “backmasking”), de forma a tornar as falas incompreensíveis. A realização é do brasileiro Alê Abreu (“Garoto Cósmico”) que, com este filme, se viu nomeado para um Óscar da Academia, na categoria de Melhor Filme de Animação.o-menino-e-o-mundo-foto7

ORIGEM DA LUSOFONIA:

lusofonia-atlas    Em 1249 as fronteiras de Portugal no continente europeu estabilizaram-se em forma quase idêntica à que conhecemos hoje. Pareceria que nenhuma cousa importante aconteceu nos séculos que decorreram desde então. Porém, nada mais longe da realidade. A partir de 1415 Portugal iniciou uma expansão através do mar, conquistando territórios em todos os continentes e multiplicando a sua área por mais de cem vezes; o primeiro dos impérios coloniais da era dos descobrimentos. Mas para todos os territórios que Portugal colonizou, afinal chegou a descolonização. Alguns territórios foram trocados em tratados, como Filipinas ou Uruguai; outros anexados por outras nações, como Goa ou Macau; e outros independentizados, como o Brasil na década de 1820 e o resto na década de 1970. Seis séculos depois, a nação portuguesa retornou ao ponto de partida. Contudo, de esse desaparecido Ultramar Português, uma herança ficou: um conjunto de povos de todo o mundo, cá e lá, nos que a língua e cultura portuguesas arraigaram para sempre. Essa é a Lusofonia.lusofonia-livro-de-contos-e-lendas

Os territórios e países nos que o português é língua oficial são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. As regiões de outros países nas que o português é língua cooficial são Goa (Índia) e Macau (China) e nunca devemos esquecer que na Galiza se fala português, com o nome de galego, e ademais foi o berço da língua portuguesa.

Existe um Hino da Lusofonia criado por Luís Pedro Fonseca para os Jogos da Lusofonia:

Não há terra nem há mar

Que consigam separar

Povos que falam o idioma

Do coração.

  Não há tempo nem distância

Que apaguem a fragrância

Dos laços da amizade

Que perdura.

  Não há credo

Nem há cor

Que abalem o ardor

Desta grande família

Que mora em todo o mundo.

  Vamos juntos celebrar

Este encontro singular

E viver intensamente

A nossa ligação.

Gentes da lusofonia

Espalhem a vossa emoção

E a vossa alegria

Gentes da lusofonia

Partilhem a vossa paixão

E sabedoria.

  Há sabores e perfumes

E mistura nos costumes

Que nos vão fazer

Sentir a união

Vamos estreitar os laços

Estender os nossos braços

E viver momentos

De franca comunhão.

DAR A CONHECER TAMBÉM AOS ESTUDANTES O QUE É A CPLP:        

 cplplogo   A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é uma organização internacional com sede em Lisboa que se define como foro multilateral privilegiado para o aprofundamento da amizade mútua, da concertação político-diplomática e da cooperação entre os seus membros. Os seus objetivos são os seguintes:

  1. a) A concertação político-diplomática entre os seus membros em matéria de relações internacionais, nomeadamente para o reforço da sua presença nos fora internacionais;
  2. b) A cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, oceanos e assuntos do mar, agricultura, segurança alimentar, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, economia, comércio, cultura, desporto e comunicação social;
  3. c) A promoção e difusão da Língua Portuguesa, designadamente através do Instituto Internacional de Língua Portuguesa.

A CPLP foi fundada em 17 de julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. No ano 2002 juntou-se Timor-Leste.  A sua sede está no Palácio Conde de Penafiel, em Lisboa (Portugal).lusofonia-oficinas-de-portugues

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

    Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques cinematográficos, técnicas de animação, etc.) e o fundo do filme antes resenhado, realizado por Alê Abreu.

Organizamos no nosso estabelecimento de ensino uma amostra-exposição com o tema monográfico do Mundo Lusófono. Na mesma, organizada de forma cooperativa por estudantes e docentes, incluiremos mapas, desenhos, textos, frases, livros, revistas, discos, DVDs, CDs, fotos, figuras (literárias, artísticas, políticas, etc.) e murais, todo relacionado com a Lusofonia. Seria bom depois editar e/ou policopiar uma monografia alusiva.

Podemos organizar na nossa escola uma audição musical de cantares lusófonos dos diferentes países, interpretados por grandes cantores da Lusofonia: Cesária Évora, Bonga, Martinho da Vila, Gal Costa, Chico Buarque, José Afonso e outros muitos.

 

 

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