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Crónica duma velada comunicante com a Lusofonia.

Segunda feira. Jornada laboral, acendendo o motor para a barbárie num tempo no que os ânimos estão acesos pelo ódio transmitido pela política e os Mass média. Não existe comunicação verbal, apenas violência.

Às oito e meia cheguei ao meu bairro, ao Centro Ágora, com a mente ainda obnubilada pelas misérias laborais dum vendedor.

Então é que a magia das palavras transmitidas por Mário Herrero e Hu Xudong  fizeram chegar a minha face uma luz de esperança.

 

Fotografia Alberto Pombo
Fotografia Alberto Pombo

 

Em palavras de Yolanda Castaño: “Uma deslumbrante sesión de poesia galega e chinesa abriu a 9ª ediçao de Poetas DI(N)VERSOS. A maxia da comunicación lusófona fixo posible a perfeita interacción entre Mário J. Herrero e Hu Xudong…”

Foi uma grata surpresa escutar a voz de Hu Xudong , recitando em chinês, dum modo superlativo, uns textos muito pessoais, irreverentemente carnais, que foram muito do agrado do público assistente.

Como amigo pessoal do Mário,  já desde os dezasseis anos, foi para mim uma satisfação ser testemunha deste recital  que supõe um reconhecimento social a sua obra.

Não devemos esquecer que o ciclo de Poetas Di(n)versos recebeu no 2014 o prémio á melhor iniciativa cultural . É um evento promovido pela Conselharia de Cultura, desporte  e conhecimento da Corunha. Trata-se do único ciclo estável que inclui poetas internacionais em toda a Espanha.

Está dirigido brilhantemente por Yolanda Castaño.  Poeta vocacional.  Com apenas  17 anos ganharia o III edição do prémio de poesia Fermín Brouza Brey com o poemário Elevar ás pálpebras.

A sua trajetória poética tem já um reconhecimento internacional.  Foi capaz de convocar nestes recitais de poetas Di(n)versos a mais de 70 vozes do âmbito da poesia galega e do resto do mundo.

Inaugura este 9 ciclo de poetas Di(in)versos oferecendo ao público corunhês uma mostra de literatura lusófona.  A sensibilidade de Yolanda Castaño  para reconhecer a qualidade poética. A sua mente aberta, cosmopolita, fruto das suas viagens por distintas geografias poéticas  fez nesta ocasião um alto favor a literatura galega. É um exemplo de bom fazer que deve ser seguido pelo establishment cultural galego.

É um passo importante para o escritor lusófono da Galiza ver um reconhecimento social a sua obra, gerida no lado escuro da literatura galega.

A minha nostalgia  fez que resgatasse um texto de Mário Herrero dedicado ao coletivo poético Hedral do que fizemos os dois parte junto a Pedro Casteleiro, Chiqui Lozano, Alfredo Ferreiro, François Davó e Táti Mancebo.

Foi publicado nas ATAS DO III CONGRESSO INTERNACIONAL DE LITERATURAS LUSÓFONAS, Nós, Revista Internacional da Lusofonia, Setembro de 1995.

Apenas reproduzo um fragmento deste poema:

PARA OS COLEGAS DE HEDRAL QUE NÃO SÃO POETAS GALEGOS. ESTE PROJECTO DE POEMA

 

Escrevem em branco os escrivanos da terra

e a nação invisível, e os seus latejos que

não cessam produzem sangue nos nossos tímpanos

e palavras de guerra nas nossas bocas;

aonde vão essas vozes falsas?

onde se perdem quando nenhuma poesia nos redime da derrota?

onde estão os escrivanos  quando surgem

as nossas lágrimas e a tortura cresce

e as bestas nos caçam nos bairros do extermínio?:

 

Este texto reproduz o sentimento do poeta galego lusófono que se vê relegado ao lado escuro da literatura legítima do seu país.

Como tenho escrito em outros foros: A literatura, entendemos a literatura legítima, entra nos planos do discurso oficial normalizador.  As produções literárias escritas num padrão linguístico diferente não oficial não existem ao diferir dos pressupostos ideológicos do poder.

A lavoura do escritor lusófono é a insistência, a resistência. Continuemos. O mais valente que podemos fazer é escrever com qualidade.  A qualidade literária há de cair pelo seu próprio peso. Eis a poesia do companheiro Mário Herrero.

 

(…)

Quando tudo vale,

não há mestres,

não há musas,

não há irmãos

no sangue,

não há tempo

para olhar, (…)

Mário J. Herrero Valeiro,

A razão do perverso (ajuste de contas), Caldeirón, 2016.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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