Com que roupa?

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Por Ernesto V. Souza

Noel Rosa… quem soubera bem dizê-lo nome, ao vivo, como um sambista, num pontinho de bebedeira entusiasta e saudosa, subido num palco. Imaginem o ritmo. E, porque não, o público cúmplice. Soa a música delicada, belíssima, não isenta de cálida travessura e morna decepção.

O bar tem madeira por toda a parte, e objetos diversos de reciclagem convertidos, à venda. A gente é guapa, moderna, atraente. Também é muito amável. O local é bonito e está numa boa hora. Mas a conversa do dono é o maior atrativo.
Entre palavra e palavra e enquanto atende outros clientes evoco no fundo do copo as minhas letras galegas, meio esfarrapadas. Equidistantes de toda a parte. Ou de nenhuma.

Três palavras, uma garrafa, uma mesa de mármore com manchas, luz escassa, e começa a rolar qualquer estória. Que letras as do carioca. Narrativa amarga do quotidiano observador; da vida do botequim e das gentes do bairro, com as suas tragédias discretas; essas que sempre nos implicam.

Quem pudera montar numa prosa ligeira e feita uns momentos para fazer rir. Encaixando, aos poucos, como quem bebe lento a tinta na progressão dos anos, as histórias arredor. Quem pudera dizer, com três ou quatro palavras a fio. E saber-se dono de um idioma.
Mas… eu pergunto com que roupa… com que roupa… eu vou?…

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Máis de Ernesto V. Souza