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Carlos V. Padín: “Cumpre persuadir de que o galego é um ativo, não um passivo”

Carlos Vázquez Padin, foto, Xornal de Galicia
Carlos Vázquez Padin, foto, Xornal de Galicia

Carlos Vázquez Padín (Tui, 1973) é vereador no Concelho de Tui pola Converncia 21 (C21), partido político liberal e galeguista. em cuja fundação participou em 2009.

Desempenhou a secretaria geral até 2013 ano em que foi substituído por Garcilaso de la Vega López e assumiu o cargo de presidente.

Foi o principal artífice de que a executiva da C21 aprovasse recentemente o modelo de dupla normativa.

*

Que che levou a propor a aprovação desta medida?

Pareceu-me um passo na boa direção, o de alargar a liberdade de escolha normativa e que poderia servir de exemplo a outras organizações. Sou um convicto de que devemos usar com normalidade a norma culta e legítima do idioma se ao que aspiramos é a dar-lhe o carácter de língua culta e internacional que realmente tem mas que não se põe em valor por diversos motivos. Ao meu entender há duas opções a respeito do galego, admitir que não tem futuro como língua e muito menos como língua prestigiosa e de cultura, e manter uma norma subsidiária do castelhano, que situa o galego, de facto, como dialeto para uso popular; ou tratar de elevar o seu status atual dando-lhe o prestígio e a utilidade que realmente tem mediante a incorporação à norma luso-brasileira com achegas que particularizam o galego, mas sempre dentro do tronco originário, modernizado polo desenvolvimento em Portugal e Brasil do galego como língua nacional, apta para todos os usos.

Em minha opinião o contrário é desaproveitar um ativo mui importante da sociedade galega, que é o de conhecer e falar as duas línguas latinas mais estendidas. Obviamente esta proposta não menospreza em absoluto as escolhas doutros companheiros, que prefiram empregar a norma da RAG. Como já dissemos no comunicado oficial do partido, o artigo 2 dos Estatutos da Convergência 21 estabelece que “O galego é a língua oficial da Convergência 21, toda a sua comunicação oral e escrita, tanto interna como externa, deverá ser neste idioma. Como partido de inspiração liberal a língua em que falem os nossos afiliados na sua vida privada não é da nossa incumbência”.

Com esta decisão, que de saída tem um valor mais declarativo do que prático, pretende-se incorporar o galego ao standard normativo da escrita das falas irmãs de Portugal, do Brasil e de outros países por onde se espalhou a língua originária da Gallaecia medieval. A relação, e contrapeso, entre as duas normas do galego, a da RAG e a internacional, virá dada pelo uso que os cidadãos façam de uma e doutra. A Convergência 21, como partido de inspiração liberal, habilita os meios para que esta concorrência enriquecedora possa ter lugar.

Houve algum aspeto da proposta bi-normativa que fosse mais difícil de exprimir aos teus companheiros da executiva?

Foi mui fácil, o sentir na executiva foi praticamente unânime, vários membros são reintegracionistas e os que não o são entendiam que esta decisão em absoluto era lesiva para o seu direito a usar a norma da RAG, portanto a decisão não levantou poeira alguma e nisso teve muito a ver que somos liberais e que portanto somos extremamente respeitosos com as opções que mesmo não sendo as nossas (que em muitos casos o é) são as escolhidas por outros. A nossa decisão o que faz é estabelecer um quadro para o exercício da liberdade individual, dificilmente um liberal se pode opor a uma cousa assim.

Que consequências práticas vai ter esta decisão na vida diária da C21?

Simplesmente que qualquer membro do partido que quiser publicar ou apresentar qualquer documento na norma reintegracionista terá plena cobertura jurídica para o fazer.

Seria conveniente implementar o bi-normativismo com caráter oficial?

Cuido que sim, que se deveria deixar à livre concorrência a decisão do uso duma ou doutra norma, chama-se liberdade. No pessoal opino que a Galiza ganharia muito economicamente e em visibilidade internacional, aparecendo perante os investidores internacionais, como o único lugar do mundo onde a imensa maioria da população fala as duas grandes línguas de Ibéria e de Latino América. Um ativo espetacular a dia de hoje desaproveitado, uma lástima.

Custou-me anos, como galego falante de perfil urbano, que não se me identifique com posturas marxistas.

No eixo indivíduo-Estado, onde situas o conflito linguístico galego?

Hoje não há obstáculos de índole normativo para usar o galego em Galiza, persistem problemas sociolínguisticos que fazem que o uso do galego em determinados âmbitos suponha a assunção duma forte penalização mas como liberal não aceito que as administrações devam intervir nisso, por exemplo, buscar emprego para um posto diretivo na empresa privada num âmbito urbano na Galiza empregando o galego na entrevista é praticamente um suicídio, é verdade que o uso do galego em determinados contextos quase sempre implica um determinado posicionamento político o que faz mui simples a etiquetagem. Custou-me anos, como galego falante de perfil urbano, que não se me identifique com posturas marxistas.

Desde uma perspectiva liberal a administração pública não deve fazer nada para promover o uso dum idioma ou de outro e muito menos proibi-lo, o que si pode e deve fazer a administração é fornecer um marco de igualdade formal das línguas e portanto dos seus usuários, o castelhano conserva privilégios legais, como a obriga de sabê-lo e, certamente, no assunto normativo dar-lhe cobertura legal para quem quiser empregar a norma reintegrada do galego, quer dizer, defendo a neutralidade absoluta da administração mesmo no desenho curricular, cada escola deveria poder definir o seu próprio curriculum, incluindo as línguas a empregar. Imposições do passado (a do castelhano) não justificam hipotéticas imposições futuras para reverter as consequências das imposições passadas (a desgaleguização).

A única forma de garantir a sobrevivência do galego na Galiza é persuadir a população de que é um ativo, não um passivo, que é o que muitos continuam a acreditar. O achegamento ortográfico ao português contribui e muito nesta direção. E, evidentemente, o marketing da defesa do galego deve fazer-se em chave de soma galego mais castelhano, jamais de oposição ao castelhano. Falta marketing, mas é natural, há pouco a fazer, enquanto o galeguismo não se livre da predominância quase absoluta dos ideais marxistas, anomalia histórica consequência da reação à ditadura, lembremos que não era assim no Partido Galeguista na Segunda República, não o digo eu, di-lo Justo Beramendi.

O marketing da defesa do galego deve fazer-se em chave de soma com o castelhano, jamais de oposição.

Eu concebo o uso do galego como um ato liberal de rebeldia, uso o idioma que quero eu, o dos meus antepassados, não o que o Estado quer que use, nenhum aparelho estatal decidiu que se fale galego de Tui a Riba d’Eu, ou de Ortegal a São Vicente.

Achas que numa vila fronteiriça como Tui é mais fácil entender a unidade linguística do galego-português?

Se me permites a aclaração Tui é uma cidade, não o digo eu, diz-o, entre outros, Otero Pedrayo na sua “Guia de Galicia”, que diz que a província de Ponte-Vedra tem três cidades: Pontevedra, Vigo e Tui. Entrando já na tua pergunta, Tui é uma cidade mui desgaleguizada, por cima do nível de várias das sete grandes cidades, cuido que o caráter fronteiriço joga em contra, muitos sentem a necessidade de se diferenciar dum vizinho que é mais pobre, o caráter de capital episcopal também não ajudou, o papel desgaleguizador da igreja é indiscutível, e di-lo um tudense agnóstico mas orgulhoso do legado da igreja na minha cidade e da herança cristã de Galiza e de Europa.

Os meus filhos vão a Valença ao infantário e tive de insistir para que não lhes falassem castelhano.

Não obstante, a percepção de Portugal está a melhorar com o reconhecimento praticamente unânime de que nos dão lições em campos como o cuidado do património cultural e monumental, algo visível no doloroso contraste entre o cuidadas que estão as vilas portuguesas e o descuidadas que estão, com matizes, as vilas galegas ou a cidade de Tui. O complexo de superioridade sobre Portugal vejo-o cada vez mais diluído, persiste com força o de inferioridade nos portugueses, que evitam, em muitíssimas ocasiões, o emprego da sua língua comum no contacto com os galegos, mesmo como os galego-falantes. Os meus filhos vão a Valença ao infantário e tive de insistir para que não lhes falassem castelhano.

A eurocidade Tui-Valença é hoje um simples ente administrativo ou percebes que está a ajudar a melhorar o conhecimento da realidade sócio-cultural dos dous povos?

A realidade social e económica dos cada vez mais elevados níveis de relação e de convivência entre valencianos e tudenses vai claramente por diante da realidade político-administrativa.

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