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Carlos Taibo: “Para mim o Porto é, por muitos conceitos, uma vila galega”

Este é um ensaio pessoal sobre o Porto em que se revelam algumas das querenças, se calhar também as obsessões, do autor. Nas suas páginas revelam-se o desenvolvimento urbano da cidade, as suas divisões internas, o património religioso e civil, o peso do rio e do mar, as contestações que nasceram em ruas e cafés, a inquietante turistificação destas horas, o mundo dos escritores e das livrarias, ou a relação da Galiza com um espaço que é, por muitos motivos, galego. Não está o leitor, ou a leitora, ante um guia da cidade: está ante um exercício de amor que não esconde as cautelas.

O Nosso Porto. Eis o título do livro. Talvez a alguém forâneo da cidade invicta chame a atenção esse adjetivo possessivo.

É um possessivo plural, e fala duma cidade que, por proximidade, por história e por emoções, muitos galegos percebem como própria. Mas admito que neste caso o plural pode ser uma extensão atrevida duma perceção pessoal.

Um olhar a partir da Galiza. Eis o subtítulo. Será que haverá uma visão galega do Porto? Será que sentimos a cidade de uma forma diferente que outras visitantes.

Nas páginas do livro afirmo que para mim o Porto é, por muitos conceitos, uma vila galega. Talvez a esse respeito influi uma circunstância pessoal: muitas vezes cheguei ao Porto procedente de Madrid, e é fácil que o orvalho e a névoa, mais a paisagem e a língua, provoquem na minha cabeça a imagem, razoavelmente justificada, da Galiza. Para além disso, quero lembrar que no imaginário de certa Galiza o país próprio termina no Douro, ao abrigo duma visão que tem raízes evidentes na Gallaecia romana.

Não é a primeira vez que te debruças sobre Portugal e sua sociedade. Na Através publicaste Parecia não pisar o chão. Treze ensaios sobre as vidas de Fernando Pessoa e em colaboração com Arturo de Nieves, Galego, português, galego-português?, para não falar, em espanhol, de Comprender Portugal. De onde nasceu o fascínio?

Tenho o privilégio de poder escrever sobre países e lugares de que gosto, e com toda a evidência gosto de Portugal. Esse privilégio permite sair, aliás, no sentido físico e no das ideias, do mundo em que trabalho comummente. Mas devo sublinhar que não há só fascínio. Quando escrevo sobre Portugal não é infrequente que fale das misérias do país, que também existem. 

O nosso Porto não é um guia para percursos pola cidade. O que é então? Vai-nos encorajar a calcorrear a cidade invicta? 

É uma interpretação pessoal da cidade que, com um pouco de ousadia, pode servir também de introdução ao que esta é. Ainda que sejam muitos os galegos que visitam o Porto cada ano, nas livrarias da Corunha, de Compostela ou de Vigo não tem sentido buscar uma monografia sobre o Porto. Com muita sorte, o que o livreiro oferecerá será um breve texto, em espanhol, que permite programar um fim de semana na cidade. Eu espero ter contribuído com um ensaio que permite compreender melhor o significado do lugar que visitamos. Creio que não é pouco.

Entre os capítulos do livro, destacaria, pessoalmente, o desenvolvimento da cidade, a cidade contestatária, a turistificação, clima, comida e língua e a Galiza é o Porto. Este é um livro idealizado para leitoras da Galiza. Imaginas um leitor português? Como o encorajarias a ler o texto? 

A tarefa é difícil, entre outras razões porque o que anotei há um momento sobre as livrarias galegas não pode dizer-se das portuguesas, e nomeadamente das portuenses. Há muitas monografias sobre a cidade. Mas, mesmo assim, o leitor, ou a leitora, português pode encontrar nas páginas do livro uma introdução ao Porto, uma visão singular no que diz respeito a algumas matérias precisas como as que mencionas e, também, e naturalmente, umas maravilhosas fotografias. 

O livro inclui essas fotografias de Carlos Mendes, coordenador local dos aPorto. Uma imagem vale mais que mil palavras, dizem. Embora seja um exagero, que fornece as imagens a este nosso livro?

Do ponto de vista mais pessoal, fornece uma ilustração material muito fiel do Porto que eu levo na cabeça. Essas fotografias enriquecem visualmente o livro, até o ponto, bem é certo, de que o meu texto fica amiúde arredado num segundo plano. Aceito-o sem fendas. 

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