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Carlos Lixó: “sabemos muito da história da Galiza, mas ainda nos falta para difundi-la massivamente”

Nascido no Barbança em 1991, Carlos Lixó é doutor em história medieval e professor de ensino médio na Póvoa do Caraminhal. Fai parte da equipa que realizou a série documental “Falemos do Reino da Galicia”, com a que a cooperativa Suseia ganhou no passado ano o fundo de projectos culturais da Deputaçom da Corunha. Com ele falamos do conhecimento popular do nosso Antigo Reino, e das possibilidades que se abrem para dar a conhecer a nossa história silenciada.

Como nasce a ideia do vosso projecto “Falemos do Reino de Galicia”?

O companheiro David Miranda, da cooperativa audiovisual Suseia tivo notícia do fundo de projectos culturais da Deputaçom da Corunha no passado ano, centrados nas produçons sobre o reino galego, e ideou um projecto como isto. Na cooperativa estám especializados no aspecto técnico de produtos deste tipo, mas precisavam assessoramento histórico e umha cara visível. De maneira que eu guionizei os documentários, planifiquei entrevistas e participei nelas , enquanto os companheiros artelhavam toda a montagem. Logo, como é sabido, o projecto é premiado, e a seguir alcança um eco importante no youtube. A ideia de fundo da que partíamos era achegar conteúdos da nossa história que estám investigados muito a fundo, mas ainda nom fôrom espalhados na mesma proporçom. Faltam este tipo de conteúdos em formato breve, ligeiro, de consumo doado. Um formato que nos aproveitamos nom para fazer afirmaçons talhantes, mas sobretodo para insinuar realidades.

A que se deve esta distáncia entre o que se sabe academicamente e o que conhece o grande público?

Para mim o elemento mais importante é o sistema educativo no que, como sabemos, o professorado temos pouca margem de manobra. Na última reforma da LOMLOE, o espaço concedido à história da Galiza fica ainda mais restrito. O passado no nosso país aparece apenas como epígrafe de apartados centrais e muito mais grandes: que se um bocado de pre-história em 1º da ESO, certas alusons ao barroco galego em 3º, ou pequenas referências à industrializaçom autóctone em 4º…a história da Galiza está ausente em 1º de BAC, e em 2º, há apenas 4 temas galegos dum total de 40. Acho que nos podemos fazer umha ideia.

A ideia de fundo da que partíamos era achegar conteúdos da nossa história que estám investigados muito a fundo, mas ainda nom fôrom espalhados na mesma proporçom. Faltam este tipo de conteúdos em formato breve, ligeiro, de consumo doado.

Polo demais, e num plano mais amplo, no século XIX e no franquismo assentou-se um discurso historiográfico espanhol fundamentado em grandes figuras individuais, e isso, nos tempos actuais, seguiu vigente e tomou novos formatos, nomeadamente com apoio de grandes plataformas audiovisuais que ainda reforçam mais os velhos mitos. Além de estarem muito respaldados pola grande difusom, estes relatos, de tipo infantil muitas vezes, nom som fáceis de rebater por umha visom mais poliédrica da história, na que aparecem processos sociais.

No século XIX e no franquismo assentou-se um discurso historiográfico espanhol fundamentado em grandes figuras individuais, e isso, nos tempos actuais, seguiu vigente e tomou novos formatos, nomeadamente com apoio de grandes plataformas audiovisuais que ainda reforçam mais os velhos mitos.

Dito isto, nom podemos obviar a nossa responsabilidade como historiadores. Há umha boa produçom intelectual, académica, que nom soubemos ainda canalizar socialmente, quer por falta de interesse, quer por falta de meios.

Qual está a ser a acolhida dos vossos documentários online?

Acho que muito boa, alguns deles passam das 10000 visitas, e a canle tem mais de 1000 assinantes, além de circular nas redes sociais. Umha questom curiosa é que em centros de ensino a rapaziada pergunta por que som tantas as pessoas brasileiras a postarem comentários nos vídeos, e com efeito é assi, como em outros muitos produtos culturais galegos, no Brasil detecta-se um interesse importante. Desde o sucesso que alcançamos, tenho escuitado petiçons de professorado dizendo que cumprem conteúdos como os nossos, mas ainda mais focados ao público infantil, com maior apoio gráfico, desenhos de animaçom, mapas…aí resta muito por fazer.

É um lugar comum nos últimos tempos, por parte de docentes de galego ou história, assinalar que umha parte do alunado vira para posiçons de extrema direita espanhola, e para o rejeitamento da Galiza e do galego. Detectas essa tendência na hora de utilizar os vossos materiais?

O processo é certo, dei com esse perfil de alunos (som, na sua prática totalidade, homes, as rapazas nom secundam isso). Mas mais que vê-lo como umha formulaçom de extrema direita, o que o vejo é como umha mostra de rebeldia juvenil, que eles associam a posiçons ultras. Quando o utilizam nas aulas, é para provocar a professora ou professor, por isso eu tento ser cauto; cumpre dar resposta a essa apologia supremacista que fam por vezes, mas tentar nom ser reactivos, porque precisamente é o que procuram.

Ora, no que diz respeito a “Falemos do Reino de Galicia”, nom percebo hostilidade; integram este discurso perfeitamente, o alunado em geral está aberto aos relatos sobre o nosso passado, e a acolhida é sempre boa.

Os novos formatos tecnológicos parecem simplificar os discursos até o extremo e, porém, som quase os únicos aos que a adolescência recorre. Pensas que a história da Galiza teria que recorrer massivamente a eles, apesar do risco que comportam para o rigor?

Considero que o formato tradicional e o tecnológico som complementares, e também que o rigor se pode manter nas formas mais simples. Temos a produçom académica, logo temos um tipo de divulgaçom elaborada, como os documentários que elaborou a TVG sobre o reino suevo ou os castelos medievais, com o que colaborei; e logo, há todo um amplo leque a explorar, como os videos curtos, os desenhos…nem se prejudicam nem se excluem, e no formato mais massivo ainda temos muito caminho que andar.

Considero que o formato tradicional e o tecnológico som complementares, e também que o rigor se pode manter nas formas mais simples.

Num país com tanto património material como o nosso, damos com pegadas do Reino da Galiza em muitos lugares da nossa geografia. Nom pensas que o seu conhecimento directo ajudaria enormemente a dá-lo a conhecer?

Concordo com isso. Tenho reparado em que som os conteúdos das saídas de campo os que a rapaziada fixa de maneira permanente. Ora, aqui xorde um problema técnico, dado que o modelo educativo nom permite demasiadas saídas, e isso tem as suas dificuldades. Mas claro, haveria lugares no país magníficos para dar a conhecer estes conteúdos.

Considero que o formato tradicional e o tecnológico som complementares, e também que o rigor se pode manter nas formas mais simples. Temos a produçom académica, logo temos um tipo de divulgaçom elaborada; e logo, há todo um amplo leque a explorar

Estou a pensar em sítios como o castelo de Monte Rei, onde podemos estudar a linha que vai do castrejo à romanizaçom; ou no Panteom de Galegos Ilustres, que nos permite ir do gótico galego a Bernal de Bonaval, por exemplo. Temos aliás o Panteom Real da catedral de Santiago, muito desconhecido, e que provavelmente no futuro será mais divulgado. Na ediçom deste ano dos fundos culturais da Deputaçom da Corunha, um dos projectos premiados vai tirá-lo da escuridade, com umha nova sinalizaçom e com a ediçom dum estudo de Anselmo López Carreira e Ramón Yzquierdo livro de López Carreira. Isso vai ser um recurso também para ensino médio.

[Esta entrevista foi publicada originariamente no galizalivre.com]

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